quarta-feira, janeiro 17, 2007

Audiência parlamentar sobre a comunicação

Audiência parlamentar sobre a comunicação social
Vital Moreira afirma que há promiscuidade entre jornalistas e governos
http://dossiers.publico.pt/shownews.asp?id=1207598&idCanal=1355

“O constitucionalista Vital Moreira afirmou hoje que existe uma relação de promiscuidade entre os jornalistas e os governos e defendeu a necessidade de uma entidade reguladora para fiscalizar a actividade dos profissionais da comunicação social.
"Faz-me imensa impressão que um jornalista saia de assessor do Governo e comece pouco depois a escrever artigos de opinião sem que nada aconteça", referiu o docente da Universidade de Coimbra, durante uma audição parlamentar promovida pelo PS sobre a comunicação social.
Falando após os jornalistas Joaquim Vieira, Inês Pedrosa e José Pedro Castanheira, Vital Moreira defendeu a necessidade de haver "regras" que obriguem um jornalista que tenha sido assessor de um governo a "ficar de quarentena".
Segundo o constitucionalista, um jornalista que não cumpra o seu código deontológico "não tem qualquer sanção".
"Defendo que os jornalistas devem criar uma entidade reguladora autónoma com poderes sancionatórios para quem violar o código deontológico", propôs Vital Moreira, posição que mereceu algumas dúvidas ao presidente do Observatório da Imprensa, Joaquim Vieira.
Para Joaquim Vieira, se a entidade reguladora fosse apenas constituída por jornalistas, haveria o risco de algum "corporativismo".
Nesse contexto, criticou posições assumidas pelo presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, Óscar Mascarenhas, de "não agravamento das culpas" do jornalista do "Correio da Manhã" responsável pelas "cassetes ilegitimamente gravadas" relacionadas com o processo Casa Pia.
Na audição pública promovida pelo PS, Vital Moreira também alertou para a importância de se garantir o pluralismo nas televisões privadas de sinal aberto, que são apenas duas em Portugal.
"Ou o mercado de televisão por sinal aberto se abre, ou então tem de assegurar (por lei) a obrigatoriedade de regras de pluralismo entre os operadores privados", sustentou o constitucionalista.
O jornalista José Pedro Castanheira citou casos de pressão sobre o jornal "Expresso", um deles vindo do presidente do CDS-PP, Paulo Portas, a partir de notícias que o envolviam no caso Universidade Moderna.
"Paulo Portas reclamou ao jornal 'Expresso' uma indemnização de um milhão de contos (cinco milhões de euros). Estou certo que não se tratava de uma forma de Paulo Portas ser ressarcido, mas apenas de uma forma de intimidação do jornal", declarou José Pedro Castanheira.
O jornalista referiu ainda que o grupo Espírito Santo "cortou a sua publicidade" no jornal "Expresso", na revista "Visão" e na SIC "por não ter gostado de artigos de opinião escritos no 'Expresso' sobre a venda de parte do capital da Galp".
Inês Pedrosa criticou o Governo socialista de António Guterres por ter permitido a compra pela PT dos meios de comunicação social na posse da Lusomundo e insurgiu-se contra o eco que teve o convite a Clara Ferreira Alves para ser directora do "Diário de Notícias", entretanto recusado pela jornalista.
"Não compreendo o barulho que se fez com Clara Ferreira Alves. Será que isso aconteceu por ela ser mulher e competente na sua profissão (de jornalista), ao contrário do director (do 'Diário de Notícias', Fernando Lima) que se encontrava em funções", interrogou-se Inês Pedrosa.
Inês Pedrosa defendeu ainda a necessidade de estender o princípio da incompatibilidade de funções a quem acumule as profissões de jornalista e de advogado.”

Comentário:

Escolhi esta notícia porque achei o tema interessante, embora seja uma notícia um tanto quanto antiga reflecte um problema que ainda hoje passados mais de dois anos se verifica, que é a promiscuidade existente entre o jornalismo e outras profissões (como o caso de assessores do governo ou outros cargos relacionados com o mesmo ou então o caso de jornalistas – advogados).
Uma pessoa que tenha estado a desempenhar funções no governo quando sai vem cá para fora com um maior número de informações que os restantes colegas não têm acesso e se quiser pode usufruir delas em proveito próprio pois pode fazer uma reportagem ou escrever um artigo sobre as mesmas e assim tornar pública informações do foro privado que ele só tinha aceso porque esteve a desempenhar as tais funções, por isso concordo com o constitucionalista Vital Moreira na necessidade da criação de uma entidade reguladora que fiscalize a actividade dos profissionais da comunicação social.
Esta entidade reguladora deve ser autónoma para evitar casos de favorecimentos e deve ter poderes no que respeita à aplicação de sanções quando se verificar casos de desrespeito para com o código deontológico. È verdade que dirigir uma entidade deste tipo é difícil pois a mesma não deve ser constituída só por jornalistas para evitar os possíveis favorecimentos, mas quem melhor que os próprios jornalistas para avaliar o desempenho e o comportamento dos demais colegas de profissão? Como podemos verificar estamos perante um pau de dois bicos no que concerne a esta questão, se por um lado a entidade não deve ser constituída só por jornalistas por outro quem deve escolher quem irá fazer parte desta entidade? Advogados? Constitucionalistas? Mas estas também são profissões que muitas das vezes são conjugadas com o jornalismo.
O que vemos também frequentemente aparecer é informações relacionadas com casos que estão em segredo de justiça serem tornadas públicas. Isto verifica-se principalmente quando desses casos fazem parte figuras públicas como por exemplo do Caso Casa Pia. Se está em segredo de justiça como é possível que venha a público? Quem dá estas informações aos jornalistas? De onde vem essa fuga de informação? É ético os jornalistas escreverem sobre notícias que tiveram acesso através de favores?
Na minha opinião não é ético nem respeita o código. Mas se ele não aproveitar a notícia, outro jornalista certamente o irá aproveitar.
Recorrendo ao Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses, o ponto 5 diz-nos que “O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. O jornalista deve também recusar actos que violentem a sua consciência.”. Se assim é porque é que, a maior parte dos jornalistas não o respeita? Nos dias de hoje, a competição é cada vez mais frequente e, uma “boa” notícia, ainda que vá contra a ética do jornalista ou o código de ética jornalistico, é considerada uma notícia “bomba”.
O jornalismo, cada vez mais gira em torno do dinheiro e não do que é certo ou errado, se está no código deontológico ou não. Cerá isto certo? Na minha opinião não. E as sanções a quem não cumpre este código, porque é que não existem? Se consultarmos esse código as sanções não são impostas, logo os jornalistas saem impunes a esses actos. À partida se existe um código é para ser cumprido, mas este mesmo não o é, assim como outros códigos noutras profissões.

3 comentários:

fabio monteiro 4140 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fabio monteiro 4140 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fabio monteiro 4140 disse...

Infelizmente em Portugal isto é o que acontece em muitas das vezes, esta bem que o trabalho do jornalista é o de informar, mas não com noticias que ele retira do facto de ter sido assessor de algum governo logo ai esta agir contra o código deontológico da sua profissão e o ponto 4 do seu código é muito claro “O jornalista deve utilizar meios legais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.”
Eles também não podem escrever artigos com a sua opinião pessoal pois também se encontra estipulado no código, O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados,
ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.”
Por estes motivos estamos perante uma falta de respeito para com a sociedade, para com o código deontológico, para com os seus colegas de profissão, e para consigo mesmo, pois para que consiga uma boa noticia ou artigo ele não a consegue do meio mais ético ou correcto possível, em vez disso não se importa com o quer que seja para conseguir o seu objectivo.
Sendo assim se ele errar, tal como outra pessoa no seu trabalho vai ter que assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promovera pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. O jornalista deve também recusar actos que violentem a sua consciência, é o que nos esclarece o ponto 5 do seu código.
Mas como podemos verificar quem comete este tipo de ilegalidades face ao código não é sancionado pois não existem sanções previsíveis para estes casos, este código só existe para ser seguido, não como os de muitas outras profissões que se cometer alguma ilegalidade é-se logo punido com severidade e a sua carreira profissional pode até correr riscos.
Na profissão de jornalista isso não se verifica, quem publicar a melhor noticia ou artigo é aquele que fica grato aos olhos do chefe, é aquele que recebe mais, ou aquele que tem mais hipóteses de subir de escalão, não importando se isso é ético ou não correcto ou incorrecto, bem ou mal, fazem qualquer coisa por uma boa noticia.
Por isso também sou deacordo que haja a necessidade da criação de uma entidade reguladora que fiscalize a actividade dos profissionais da comunicação social, uma que seja isenta e que aplique sanções a quem não cumprir o que esta estipulado no código deontológico, e para que não haja informações que não chegam da maneira menos correcta ao publico, pois ainda existem jornalistas que agem conforme este código e estes estão em desvantagem para com os seus colegas.
Muitas das noticias que os jornalistas conseguem são a troco de dinheiro ou de favores algumas delas podem até mesmo comprometer alguns julgamentos de casos que estejam a ver investigados ou já em processo, quem erra deve ser punido e aqui não deve haver excepção.
Sendo assim é exigido aos jornalistas uma conduta deontológica acertada, não desprezando os princípios, valores e comportamentos que regem a sociedade onde está localizado, e no cumprimento dos deveres, o jornalista deve realizar o seu trabalho conjuntamente com a sua consciência, pois apenas saberá o que é informação daquilo que representa simplesmente uma ofensa. A ética deve estar presente em tudo o que o jornalista faça se tudo isto é pedido ao jornalista é para que haja alguma seriedade na noticia e para que o leitor não se sinta enganado.