quinta-feira, janeiro 18, 2007

Educar na ética do cuidado como virtude cívica essencial

Retirado de: “A Página da Educação”
Janeiro 2007

Grande parte do que a nossa quotidianidade comporta está ligada ao cuidado. Uma prática humana e social que deve atingir todas as dimensões do nosso entorno sensorial e material, tanto na sua forma endógena de autocuidado, como na exógena que comporta o cuidado dos outros. Ao fim e a cabo, ambas sustentam uma parte considerável das relações interpessoais fundadoras da individualidade que nos define e ao mesmo tempo nos permite ser membros duma determinada comunidade. Por quanto, cuidar-se e estar bem cuidado sejam necessidades básicas de todo ser humano, em termos de segurança e de protecção, de felicidade e bem-estar, ele está na base do desenvolvimento intelectual, corporal e sentimental dos indivíduos, e nele reside tanto o nosso bem-estar físico, psíquico e sensorial, como o nosso equilíbrio afectivo e emocional. Por isso, como diz o teólogo Leonardo Boff, na nossa essência "somos cuidado". Os diversos significados que pode adoptar o cuidado remetem para realidades que nos falam de auto-ajuda, de delicadeza, de prudência, de mesura, de tacto, de diligencia, etc. Assim como podem falarmos também da assistência e da protecção como formas de cuidado ligadas á fragilidade e defesa das pessoas que precisam de contributos externos para melhorarem a sua autonomia. Porém, mesmo que a falta de cuidado seja na sua forma negativa (como ter descuidos, precisar cuidados ou estar descuidado), tratasse sempre de situações e ocorrências elucidadoras das possibilidades e necessidades das pessoas na procura do seu bem estar em comum. Este modo de sermos e de estarmos feitos de cuidado, em todo momento e circunstância, reflecte uma natureza social e relacional que ao transcender a preocupação por um mesmo acaba sendo, inevitavelmente, ocupação pelos outros, e vice-versa; por quanto cuidar-se supõe estar nas condições necessárias para tratar bem dos outros como trata de si próprio, resistindo ao abandono incapacitante e autolimitante, de modo a poder depositar neles as mesmas aspirações e expectativas de projecção que cada um é capaz de imaginar para si. Que o cuidado tenha um sentido mútuo remete, sem dúvida nenhuma, para uma ética pessoal capaz de se tornar num código de actuação de quem conhece e reconhece que o seu próprio autocuidado individual comporta a responsabilidade de colaborar na tarefa de alcançar uma maior qualidade de vida colectiva; porque, nas palavras de José António Marina, a principal tarefa da nossa "civilização do cuidado" consiste na troca dum género de cuidado que seja intercambiável. Para além de precisar ser bilateral, este cuidado também se projecta num tipo de hábitos que marcam com determinação a vida dos indivíduos, contribuindo para que tenham uma identidade singular, interiorizada e expressada numa serie de rotinas no desenvolvimento das suas relações éticas e estéticas. Este tipo de cuidado correspondido e quotidiano configura umas relações humanas e sociais nas quais a educação é chamada a desempenhar um importante papel, na sua integridade e integralidade; isto é, com o objectivo de favorecer a conquista da dignidade humana e uma existência em plenitude. Entre outros contributos, pela educação passa sermos capazes de aprender a perceber as necessidades próprias e alheias, compreendê-las e conseguir decifrar como fazer para satisfazê-las. Nesse sentido, o acto de cuidar-se, tanto como cuidar, é na sua essência um acto pedagógico que requer fazer aprendizagens e descobertas daquilo que cada um de nós precisa para conseguir satisfazer as suas necessidades vitais. Porém, para os professores, aceitar e afrontar o desafio de educar na e através da ética do cuidado supõe perceber que é na reciprocidade que reside a chave das alianças e das cumplicidades que nos permitem falar em colectivo e pensar em conjunto. O que significa, segundo Escudero, que esta ética do cuidado comporta a virtude cívica de por os outros, sujeitos concretos e singulares, no centro das próprias decisões e práticas, tomar conta deles, assumir a responsabilidade do seu destino e provê-los com o bem comum da educação. Em definitivo, dotar a sociedade dum estimável património que lembra o passado com vontade de seguir renovando o presente e imaginando novos e melhores futuros.

http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=5083

COMENTÁRIO:

A análise deste texto primeiro leva-me a pensar no que é a ética, nos valores incutidos em cada indivíduo e o que pode ser feito para que lhe transmitidos valores correctos e justo, assim sendo defino a Ética como o estudo geral do que é bom ou mau, correcto ou incorrecto, justo ou injusto, adequado ou inadequado.

Cabe aos professores ajudarem cada jovem na formação destes valores, criarem condições de forma a que os jovens vejam o mundo como pertença de todos e faze-los pensar que um bom desempenho hoje, trás benefícios amanhã. É aí que a educação surge, pois tem um papel fundamental na formação de cada um, ajudar os jovens a pensarem em conjunto, transmitir-lhes que são seres sociais.
Essa necessidade de os alunos construírem a sua identidade e a sua autonomia leva-nos a pensar na liberdade, e na construção das suas próprias ideias e opiniões.

O papel dos docentes é importante nesta fase da vida dos jovens que estão em aprendizagem constante. A responsabilidade dos professores é no âmbito ético-profissional, colocando no caminho dos alunos as escolhas justas e confrontando-os com o que é correcto e incorrecto.É através da aprendizagem que os jovens interiorizam as regras e mais tarde fazem uso delas nas suas escolhas profissionais. Se o indivíduo tiver absorvido um conjunto de virtudes, na sua vida profissional irá aplicá-las com os colegas, com os amigos, com a sociedade em geral.
O facto desse indivíduo se relacionar socialmente e aceitar os valores impostos na carreira que esta a iniciar, de ser responsável, coerente já está a agir moralmente, de acordo com padrões éticos. A ética deverá ser um vector hoje, essencial na identidade dos profissionais

Daí a grande necessidade de ser exigido aos docentes o cumprimento de medidas deontológicas no que diz respeito aos condicionalismos éticos.
Um professor tem de ser antes de mais um indivíduo, com princípios definidos com formação suficiente para transmitir aos alunos esses importantes valores, que mudam uma sociedade.

Se há profissão onde devem ser fomentados os valores da esperança, do optimismo e preservando o sentido da cooperação e de justiça, é a de professor.
Os professores devem agir eticamente e ensinar esses conceitos aos seus alunos.

1 comentário:

Cândida Leitão, nº 4118 disse...

A ética na educação, veio propor actividades que levam o aluno a pensar sobre a sua conduta e a dos outros a partir de princípios. Parte-se do pressuposto que é preciso ter critérios, valores, e, mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses valores para poder combater diversas acções que irão surgir perante a sociedade que o rodeia.
Por outro lado não basta ensinar conceitos e valores, mas sim, aplicá-los no convívio escolar, especialmente entre professores e alunos.
A nossa sociedade está habituada a atribuir o insucesso escolar ao Estado, ao governo, aos Directores da escola, mas nem só, também é atribuída a culpa às carências de diferentes ordens.
Mediante as dificuldades que se apresentam no dia-a-dia, professores culpam os alunos, que culpam os professores, que culpam os pais, que culpam os professores, que culpam o governo, que culpa os professores, que culpa a sociedade, e assim por diante, estabelecendo-se um círculo vicioso e improdutivo de imputação de responsabilidades.
O ensino tem recebido a responsabilidade social de promover a formação para os membros da sociedade. Todavia, defronta-se, também, com a necessidade de promover a sua própria reorganização para poder dar resposta ao novo sentido de movimentação e transformação da sociedade. Isso porque, sendo o ensino uma expressão do modo como o conhecimento é produzido, também se encontra fragmentado e infectado de polarizações competitivas.
Educar é cultivar o ser humano, a formação é algo que acontece no decorrer de toda a vida, educar é desenvolver as virtudes pessoais e sociais. É através da educação que o ser humano absorve a gera cultura. Concluindo que educar-se é consumir cultura, e sobretudo criar cultura.
A ética é um elemento importante na formação do cidadão, ao distinguir justiça de punição, objecto de pessoa, pesquisa de auto-afirmação ou ascensão social, fazendo perceber que é útil tudo aquilo que tem valor social.
Cumpre-nos, mais uma vez, repensarmos e reflectirmos sobre as novas competências para ensinar, novos entendimentos sobre ensinar e aprender, aprender a aprender e como apreender as novas formas de relação entre a ética e o agir pedagógico.
A formação e educação não é só feita para os alunos, uma formação contínua dos professores é uma necessidade que se impõe, a cada dia.
Deve-se reflectir sobre a necessidade de se continuar a investir na educação, na formação inicial, ao longo da vida profissional, de forma contínua, efectiva e eficiente, para que a sociedade colha os frutos através da acção social dos seus professores e alunos, como um produto final reerguendo valores de pátria, nação, tornando-a mais humana, com modelos de vida mais digna, mais feliz e mais respeitável, entre os seus cidadãos.
De facto, este deveria ser o verdadeiro papel da escola e dos educadores, contribuir para uma vida melhor, mais saudável e respeitável, em todos os segmentos da sociedade quer no sector político, social, artístico, religioso e científico.
Por mais que tais argumentos marquem presença constante no imaginário pedagógico – escolar, é preciso estabelecer que eles configuram-se como silenciosas apropriações explicativas que não se podem sustentar por completo, nem do ponto de vista teórico, muito menos do ponto de vista ético, uma vez que se prestam a consagrar, ainda que explicitamente, a exclusão escolar.
Um posicionamento ético efectivo por parte do profissional da educação pressupõe necessariamente um carácter inclusivo e, de certo modo, incondicional.
Ao ter um alinhamento ético, claro em relação ao trabalho escolar na actualidade levará ao inverso de tais justificativas.

Cândida Leitão nº 4118