sexta-feira, janeiro 19, 2007

Crianças fazem sapatos para a Zara

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) vai acompanhar o caso das duas crianças que costuram sapatos para a multinacional Zara, em Felgueiras, assegurou, à Lusa, a directora do PET), Joaquina Cadete. O semanário "Expresso" denunciava ontem o caso de dois irmãos de 11 e 14 anos que costuram com a restante família dezenas de sapatos na zona de Felgueiras, para a empresa de vestuário Zara, do grupo espanhol Inditex. Segundo o semanário, que ilustra com fotografias e refere ter assistido "a este tipo de trabalhos manuais, feitos por toda a família, em condições desumanas", o fenómeno "alastra-se por várias freguesias rurais de Felgueiras, muito afectadas pelo desemprego". Sublinhando que as equipas móveis do PETI não detectam estes casos sem que haja uma denúncia, porque ocorrem dentro de casas particulares, Joaquina Cadete afirmou que os técnicos "vão ter uma negociação pura e dura com esta família, alertando, nomeadamente, para os riscos de insucesso escolar das crianças em causa".
Apesar de considerar que estes casos "são pontuais e ocorrem no âmbito da família, sendo que as crianças continuam a frequentar a escola", a responsável lamentou que os mesmos não sejam denunciados junto do PETI. "Há pessoas que sabem destes casos, mas nunca chegou nenhuma sinalização aos nossos serviços", observou Joaquina Cadete, acrescentando que os serviços dão "sequência a qualquer denúncia que lhes chegue". Salientando que as situações em que as famílias usam as crianças para trabalhar por razões de subsistência "são residuais", a directora do organismo tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social reconheceu que a Região Norte é mais problemática, razão pela qual actuam aí mais de metade dos técnicos. Dinamizar e coordenar acções de divulgação sobre a promoção e protecção dos direitos dos menores junto dos pais e encarregados de educação, com vista à prevenção da exploração do trabalho infantil, é uma das missões do PETI. Contactado pelo "Expresso", o gabinete de comunicação do grupo Inditex, a que pertence a Zara, considera o caso "gravíssimo", lembrando que a empresa tem "um código de conduta muito rígido, que proíbe o trabalho infantil" nas empresas que contrata. "A ser verdade, a Inditex será implacável. Essa fábrica deixará de trabalhar para o nosso grupo", afirmou.



Comentário:

Hoje em dia, os consumidores dos países desenvolvidos estão bem informados sobre os produtos disponíveis no mercado. No entanto, raramente têm consciência de um importante factor. Aquele que está escondido: a exploração do trabalho infantil e a pobreza. Um número crescente de crianças, têm de trabalhar para que a sua família sobreviva. Quando as crianças perdem os pais, devido à guerra ou a epidemias, muitas vezes têm de trabalhar para a sua própria sobrevivência. Muitas destas crianças, desempenham trabalhos duros e perigosos colocando em risco a sua saúde, a sua educação, o seu desenvolvimento pessoal e social e as suas próprias vidas. É uma dura realidade do mundo em que vivemos, em que a competitividade, capitalismo, crescimento, poder e fama se sobrepõem a questões tão importantes como carinho, afecto, generosidade e solidariedade. A nossa geração vive cada vez mais em prol deste capitalismo, numa busca constante do que é considerado “o melhor”. Para nós o “topo de gama” já não basta, e temo que esta procura desenfreada se venha a ressentir nas gerações seguintes, prejudicando-as e obrigando-as, também elas, a prosseguirem na busca. Esta constante procura seria considerada salutar se feita de uma forma sustentável, com base no melhoramento das nossas condições de vida, mas nunca através da exploração de outros, principalmente crianças, para ser alcançada.
Com base na globalização, somos inundados por produtos oriundos de países, como a China ou a Tailândia, que são muitas vezes fabricados por crianças ou trabalhadores, de uma forma geral em condições precárias e desumanas, com horários de 15 e 16 horas diárias. A exploração persiste enquanto teimar o ideal de uma economia assente em competitividade, leia-se baixos custos de mão-de-obra. Enquanto se defender que temos que competir com este tipo de lugares de trabalho duro, muitas vezes abusivos psíquica e fisicamente, vamos perder aquilo porque lutámos durante séculos: o melhoramento das nossas condições de vida.
Claro que existe uma Inspecção do Trabalho e um Plano para a Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil que, supostamente, até tem intensificado as suas acções, percorrendo fábricas e oficinas. Mas o trabalho infantil não tem diminuído em Portugal (veja-se o caso denunciado na notícia). A louvável sensibilização da opinião pública e a intervenção de organizações da sociedade civil parecem inofensivas. Ainda que tímidas e insuficientes, as políticas de inclusão social, como a extensão da educação pré-escolar ou o rendimento mínimo garantido, também não chegam.
A situação denunciada por este jornal é notoriamente grave, na medida em que uma empresa com a reputação da Zara poderia de um momento para o outro denegrir totalmente a sua imagem no mercado se todos aqueles que efectuam compras nas suas lojas tivessem em conta que aquela peça de vestuário teria sido fabricada por aqueles que estão na idade a que damos mais valor, as crianças.
Numa sociedade como a nossa, conhecida como “ sociedade da informação”, estes casos podem cair como bombas na opinião pública se todos nós ao adquirirmos um bem, considerarmos estes factores. O problema é que não olhamos a meios para atingirmos os fins e queremos sempre o melhor produto do mercado ao mais baixo preço, sem nos preocuparmos como é alcançada essa qualidade e baixo preço.
A ética está sem dúvida, a nível empresarial, cada vez mais presente na nossa sociedade, no entanto apenas poderá alcançar maior relevância se nós, enquanto consumidores, a considerarmos definitivamente, uma mais valia e obrigação das instituições. Para que isto aconteça, temos que cada vez mais ser educados e educar o próximo, no sentido de nos regermos por condutas cada vez mais aperfeiçoadas e exigentes. Devemos procurar o nosso bem-estar e o dos outros. Não em termos financeiros, mas em termos sociais. E quem melhor que as empresas, que geram riqueza e têm acesso a um sem número de meios de comunicação, para incutir comportamentos cada vez mais éticos e conseguir alterar o que são hoje os valores da nossa sociedade, como o capitalismo.
Estima-se que existam 180 milhões de crianças no mundo a serem exploradas e usadas por empresas desprovidas de qualquer conduta ética. Além de contrariarem todas as convenções internacionais dos direitos da criança, na minha forma de ver, as entidades que o fazem não têm com certeza noção dos valores inerentes a um ser humano.

1 comentário:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.