quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ferido espera seis horas por socorro

Um homem colhido por um automóvel, quando circulava de bicicleta na estrada entre São Teotónio e Vila Nova de Mil Fontes, no Alentejo, esperou seis horas para chegar a um hospital adequado. Não resistiu. Morreu, anteontem, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.Cerca das 07h30 de segunda-feira, dia 9, António Oliveira, de 54 anos, seguia numa bicicleta, na Estrada Nacional 393, nos arredores de S. Teotónio, concelho de Odemira, e foi abalroado por um automóvel.Ao local do acidente, e por decisão dos serviços de triagem do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), deslocou-se uma simples equipa dos Bombeiros Voluntários de Odemira – que transportou o ferido, politraumatizado, para o Serviço de Apoio Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Odemira. O ferido chegou aqui pelas 08h20, quase uma hora depois do acidente.António Oliveira estava em estado grave: tinha fractura exposta do braço e traumatismo crânio-encefálico. Os médicos do SAP, de clínica geral, tentaram durante uma hora estabilizar o ferido – até que decidiram transferi-lo, numa ambulância dos Bombeiros de Odemira, para o serviço de neurocirurgia, em Santa Maria, em Lisboa.Já dentro da ambulância, segundo fonte dos bombeiros, o ferido piorou. Os médicos de Odemira pouco podiam fazer – e decidiram chamar o único Veículo Médico de Emergência e Reanimação (VMER) em todo o distrito, estacionado no Hospital de Beja, a 100 quilómetros.O carro, com um médico especialista em emergência, disparou para o Centro de Saúde de Odemira, onde chegou uma hora depois. Depois da avaliação do estado de António Oliveira e de nova tentativa de estabilização, o que demorou mais uma hora, foi decidido chamar o helicóptero, pousado em Lisboa, para transportar o ferido para o Hospital de Santa Maria.O helicóptero foi chamado pelas 11h30 – e cerca de uma hora depois aterrava em Odemira. Levantou voo pelas 13h10, de regresso à capital, numa viagem difícil, a baixa altitude e à velocidade mínima, dado o estado do ferido.António Camilo, presidente do Município de Odemira, revoltado com o abandono a que sente o seu concelho em termos de socorro, envia hoje um ofício ao ministro da Saúde a pedir uma audiência para analisar a situação.UM CARRO PARA TODO O DISTRITOA área do distrito de Beja – 10 225 quilómetros quadrados – é cerca de onze por cento do País, o que o torna o maior distrito de Portugal. Para toda esta área apenas está disponível uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), estacionada em Beja, a mais de 100 quilómetros do limite mais longínquo do distrito, no caso, no concelho de Odemira. Até ao ano passado, segundo o presidente da Câmara de Odemira, houve outra VMER, estacionada em Ourique, mas a rentabilização de meios feita pelos responsáveis do INEM levou à sua desactivação. A Auto-Estrada do Sul, uma das mais movimentadas do País, atravessa o distrito de Beja.INEM ENTENDE QUE ACÇÕES FORAM CERTASNelson Pereira, director dos serviços médicos do INEM, após averiguar o ocorrido, disse à estação de rádio TSF que a actuação dos profissionais do INEM, “em três momentos diferentes”, decorreu “dentro da normalidade” e no âmbito do que os meios disponíveis permitiam.O responsável admitiu ainda que a situação de uma viatura VMER para todo o distrito de Beja possa mudar num futuro próximo.Já o ministro da Saúde, Correia de Campos, interrogado pela mesma estação de rádio, afirmou que irá “necessariamente actuar procurando conhecer o que se passou” e perceber “se porventura alguma coisa de errado funcionou”.A estrada apresenta bom piso e muitas rectas, mas faltam bermas. António Oliveira, antigo pedreiro e que nos últimos tempos não tinha ocupação profissional, seguia de bicicleta, desde a pequena povoação da Fataça em direcção a São Teotónio, sede da freguesia, quando foi atingido, no ombro esquerdo e na nuca, pelo espelho exterior de uma carrinha de caixa aberta. O seu único irmão só foi informado do acidente quando António Oliveira já estava no SAP do Centro de Saúde de Odemira.Na mesma estrada veio a falecer, dois dias depois, uma outra pessoa, Alexandre Guerreiro, septuagenário, vítima de atropelamento.CRONOLOGIA07h28 – António José Guerreiro Oliveira é atropelado por uma viatura, quando seguia de bicicleta na EN393, a poucos quilómetros de Odemira.08h20- A vítima do acidente, em estado muito grave, politraumatizado, com lesões crânio-encefálicas, dá entrada no Centro de Saúde de Odemira.10h30 - Chega a Odemira a VMER do Hospital Distrital de Beja, depois de uma viagem de cerca de uma hora em que percorreu os 100 quilómetros entre as duas povoações. Avaliação do ferido.11h30 - Pedido o helicóptero ao serviço do INEM, em Lisboa, que chega a Odemira pelas 12h30.13h10 - O helicóptero, com o ferido, levantou voo em direcção ao Hospital de Santa Maria, Lisboa. António Oliveira morre uma semana depois.Falcão-Machado com J.C.E.



Comentário:

Pergunto-me como é possível assistirmos a uma situação com o esta nos dias de hoje. Como é possível uma pessoa ser colhida numa estrada e demorar aproximadamente 6 horas a chegar ao hospital?
O acidente ocorreu na estrada que liga São Teotónio a Vila Nova de Mil Fontes, para onde foi levado numa ambulância para o centro de saúde de Odemira e mais tarde foi transferido para o Hospital de Santa Maria.
Agora pergunto eu como é que é possível só existir um veículo que possua equipamento de emergência e reanimação para todo um distrito? Esse veículo encontrava-se em no hospital de Beja e levou cerca de uma hora a chegar ao centro de saúde de Odemira, para depois de avaliar a vitima ter de chamar o helicóptero que se encontrava em Lisboa para ser transferido para um hospital com todas as condições. A vítima acabou por não aguentar e sucumbiu ao chegar ao hospital de Santa Maria. Como é possível demorar-se tanto tempo para transferir uma pessoa naquele estado? Ou melhor, como é possível só existir um veículo com aquele equipamento? Se o veiculo estivesse mais perto ou s existisse equipamento equiparado no Centro de Saúde de Odemira, a vitima podia ter sido estabilizada mais cedo e transferida. Quando se trata de salvar uma vida todos os segundos contam, e não me parece que isso tenha acontecido…
Assim volto a perguntar novamente, como é possível acontecerem situações destas no nosso País e ainda por cima sem que seja apurado um culpado?! Pois sabe-se agora que nenhum processo irá ser levantado porque segundo fontes, todo o processo decorreu dentro das normas obrigatórias. E a vida que foi levada por toda a demora? Onde estão os princípios éticos do nosso País para deixar passar esta situação “em claro”?
Penso que nós, não por uma questão de patriotismo, mas sim por uma questão de humanismo e boa conduta ética não podemos assistir a situações destas e não dizer nada.


Tiago Palma Nº 4356 Gestão de Empresas Diurno

1 comentário:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.