sexta-feira, janeiro 19, 2007

Há médicos sem especialidade

As urgências dos hospitais nacionais, designadamente nos serviços de Obstetrícia e Ginecologia, estão cheias de médicos estrangeiros especialistas nos seus países, mas que não estão inscritos na OM. Exercem ilegalmente em Portugal, onde a falta de clínicos preocupa…

O Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos denunciou ontem a existência de médicos estrangeiros sem especialidade a trabalhar em urgências de Obstetrícia e Ginecologia de hospitais portugueses. A situação foi detectada durante o Verão no Hospital Amadora-Sintra, com sete médicos a desempenharem funções sem a equivalência da especialidade concedida exclusivamente pela OM, apesar de alegarem ter obtido a especialidade nos seus países de origem. A Ordem alertou para o facto a direcção do hospital, que contrapôs que os profissionais “nunca estão desacompanhados, estando inseridos numa equipa especializada”. A presidente do Conselho Regional do Sul da OM, Isabel Caixeiro, considerou que “especialistas são os que estão legalmente inscritos no colégio da especialidade”, e mostrou-se “preocupada” com a situação, que decorre da “falta de médicos”.Isabel Caixeiro disse ainda que está já a ser feita uma “avaliação sistemática” das equipas de Obstetrícia e Ginecologia de todos os hospitais portugueses, para aferir a situação e avaliar quais as tarefas específicas que aqueles profissionais estão a desempenhar. A Ordem dos Médicos colocou ainda em causa a constitucionalidade do despacho do Governo sobre incompatibilidades, que refere que os médicos não podem acumular funções públicas no Serviço Nacional de Saúde e de coordenação ou direcção em entidades privadas. “Se os médicos quiserem pedir indemnizações aos administradores hospitalares porque tiveram de fechar as suas clínicas, e se o despacho for considerado inconstitucional, a OM disponibiliza o seu departamento jurídico para apoiá-los”, afirmou o vice-presidente do Conselho Regional do Sul, João de Deus.O mesmo responsável criticou também outro despacho do Executivo, que permite aos hospitais publicarem escalas de urgência sem respeitar normas definidas pela OM, abrindo um “perigoso precedente”, ao “permitir a assistência médica abaixo do limiar de segurança”, especialmente em relação ao número de clínicos escalados para determinados serviços. João de Deus comentou o caso do homem acidentado em Odemira que demorou seis horas a chegar ao hospital, acabando por morrer, dizendo que receia que haja mais casos desses, “se a reestruturação dos serviços for feita sem acautelar a necessidade de ter viaturas de socorro prontas em tempo útil nos locais mais afastados dos pólos de urgência”, afirmou.

Fonte:
http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=artigo&sec=c9f0f895fb98ab9159f51fd0297e236d&subsec=&id=ffa06ceefba9cc062674b28ec5533e15



Comentário:
Todos os dias chegam a Portugal dezenas de imigrantes, vindos de todo o mundo principalmente de países de Leste. Muitos deles no seu país de origem eram médicos, advogados, etc. e ao chegarem a Portugal vêm-se obrigados a trabalhar em obras publicas, em restaurantes e em muitos outros locais do género por não lhes serem concedidas as equivalências da especialidade que alegam ter nos seus países de origem.
Mas também existem certos casos que têm mais sorte e são-lhes atribuídos postos de trabalho que coincidem com as funções que desempenhavam nos seus países de origem, como o caso que é tratado nesta noticia.
O problema surge exactamente na contratação deste tipo de pessoal para executarem as suas funções nos hospitais Portugueses. A Ordem dos Médicos em Portugal estabelece critérios mínimos para a contratação de médicos, e estes imigrantes não tiveram preparação num sistema de ensino Português, e por isso, muito provavelmente não terão as características que o Sistema Nacional de Saúde exige para os contratar. São contratados à margem da lei para colmatar a falta de pessoal de que sofrem os nossos serviços hospitalares e que o sistema nacional de saúde nada faz para resolver.
É do código de ética médica que, aos utentes do serviço de saúde sejam prestados cuidados médicos de qualidade, e que estes cuidados sejam dados por profissionais que tenham a equivalências da especialidade atribuída pela Ordem dos Médicos.
Como é lógico, a direcção do hospital Amadora-Sintra tem conhecimento das regras deste código de ética e, mesmo assim desrespeitou-as, não actuando da forma mais correcta tanto no que diz respeito à contratação de pessoal, mas também pondo em causa a saúde dos seus utentes, pois este código também diz que o paciente deve estar sempre em primeiro lugar e que nunca se deverá por em causa o interesse e o bem estar do paciente, o que neste caso não aconteceu, pois ao ser contratado pessoal não especializado e que não cumpre segundo a Ordem dos Médicos os requisitos mínimos para um atendimento de qualidade aos doentes, é posta em causa a saúde e o bem-estar dos utentes daquele serviço.
Quanto aos médicos contratados, mesmo sendo de outro país diferente do nosso, com certeza que também terão um código de conduta médica a seguir no seu país, e que engloba regras similares ao do nosso, logo, estes médicos com toda a certeza saberiam que o que estavam a fazer era ilegal e estavam a ir contra as regras médicas que deveriam respeitar, mas, em vez de se recusarem a faze-lo, fizeram-no por interesse económico e isso vai contra qualquer regra ética que exista nesta profissão. Na minha opinião, a profissão de médico deve ser, de entre todas as profissões, uma das que a ética deve estar mais presente no dia-a-dia, pois a relação do médico com os demais profissionais em exercício na área de saúde devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e independência profissional de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente. O médico tem de lidar diariamente com questões como sigilo médico, incapacidade de pacientes, etc. e são questões que tem de ser tratadas acima de tudo com muita ética profissional. Ao acontecerem casos deste género que deitam os princípios médicos por agua abaixo perguntamo-nos: Onde é que isto vai parar? Não sabemos. A única coisa que podemos fazer para tentar minimizar o estrago é encontrar culpados e puni-los de forma a que sirva de exemplo às muitas situações que certamente irão acontecer daqui em diante. Na minha opinião, a melhor solução é a ordem dos médicos punir tanto os médicos envolvidos, tirando-lhes a licença para que não possam exercer durante uns largos anos, como o hospital com uma grave multa, pois neste caso ambas as partes são culpadas, pois ambas infringiram o código de ética médica pondo em causa todos os princípios que constituem a ética e os bons costumes impostos pela Ordem.

1 comentário:

André Pinheiro nº4347 disse...

Escolhi esta notícia para comentar pois aborda um assunto que me chamou à atenção: o facto de existir médicos estrangeiros a exercer essa profissão em Portugal sem especialidade para o fazerem no nosso país, embora tenham especialidade para o fazerem nos seus países de origem. Nos últimos anos tem realmente chegado a nosso país vários emigrantes que nos seus países exercem com especialidade as profissões de advogado, médico, engenheiro ou mesmo político, entre outras profissões de grande responsabilidade e quando chegam a Portugal exercem outras profissões, pois não lhe são permitidas executá-las no nosso país pois não têm as equivalências necessárias para o efeito, caso do que acontece nesta notícia.
Faz parte das regras da Ordem dos Médicos, que aqueles que executam esta profissão tenham requisitos mínimos, como a formação no sistema de ensino português, situação eu não sucede com estes médicos estrangeiros, e como tal estes não tem as características necessárias para fazer parte da Ordem dos Médicos, ou não tem as já referidas equivalências necessárias.
Dado isto torna-se claro que existe um erro por parte dos hospitais exactamente quando estes contratam esses trabalhadores estrangeiros sem especialidade para desenvolverem a sua actividade médica. Esta situação tem acontecido por causa de um número reduzido de médicos que existem no nosso países relativamente aos doentes. Um dos motivos para a falta de médicos existentes poderá ser as elevadas médias exigidas para a candidatura ao ensino superior relativamente a quem pretende seguir a área de medicina. Pode ainda ser também por existir um reduzido número de pessoas que não sintam vocação para executar a carreira. Ou pode ser ainda por diversos motivos que agora não adianta especular acerca dos mesmos. Seja os motivos que foram, o que realmente se verifica é que os hospitais para colmatar esta falta de médicos existentes nos seus serviços vêem-se obrigados a contratar os referidos. Mas será ético da parte dos hospitais fazerem-no? E da parte dos próprios médicos estrangeiros, terão estes uma conduta ética neste processo? Parece-me evidente que não, pois. No que se refere aos hospitais, e no caso específico da direcção do hospital Amadora-Sintra, agiu contra as leis em vigor. Esta direcção conhece com certeza os princípios do código de ética médica, concretamente o principio de que devem ser prestados aos utentes do serviço de saúde cuidados médicos de qualidade, e que estes cuidados sejam dados por profissionais que tenham a equivalências da especialidade atribuída pela Ordem dos Médicos, no entanto desrespeitou-as, actuando incorrectamente no que diz respeito à contratação de pessoal, colocando a saúde dos seus utentes em perigo, pois este código refere ainda que o paciente deve a grande preocupação, ou seja o principal motivo de atenção por parte do médico, e que nunca se deverá por em causa o interesse e o bem-estar do paciente, o que neste caso não aconteceu, pois ao ser contratado pessoal não especializado e que não cumpre de acordo com a Ordem dos Médicos os requisitos mínimos para um atendimento de qualidade aos doentes, é posta em causa a saúde e o bem-estar dos utentes daquele serviço. Antes e me referir relativamente aos médicos estrangeiros contratados, devo primeiro referir que os códigos de ética dos médicos constituem quanto a mim, um dos principais códigos de conduta ética de entre os eferentes às mais variadas profissões, e digo isto porque a profissão de médico é uma actividade na qual estão em causa vidas humanas, e assim sendo a aplicação desse código (bem ou mal) pode perfeitamente influenciar a saúde e o bem-estar dos utentes. Referindo-me agora sim aos médicos estrangeiros que são contratados pelo hospital, estes terão com certeza também um código de conduta médica a seguir no seu país, podendo de ser diferente daquele existente no nosso país mas mesmo assim com certeza que as regras em vigor nos seus códigos não devem diferenciar grandemente das evidenciadas em Portugal, logo parece-me óbvio que com toda a certeza estes médicos tinham conhecimento que os seus actos praticados eram ilegais e estavam a ir contra as normas que devem sempre respeitar, no entanto recusaram-no a fazer, por interesse económico, ou por realização pessoal, ou seja qual for o motivo. O que é certo é que este facto vai contra qualquer regra ética que exista nesta profissão. E com isto, e nunca é demais referir, que os utentes dos serviços de saúde correm risco de ficarem prejudicados com esta situação.
Para finalizar, e dando a minha opinião pessoal, a solução que deve ser seguida pela ordem dos médicos para resolver esta situação é a punição do hospital com uma larga e merecida multa, assim como dos médicos envolvidos, suspendendo-os das suas profissões durante algum tempo, pois neste caso ambas as partes infringiram o que está estabelecido no código de ética dos médicos, desrespeitando os princípios estabelecidos pela Ordem dos Médicos. Com certeza que estes casos mencionados nesta notícia não são os únicos existentes, pois muitas situações similares estão a verificar-se, no entanto não têm sido descobertas, e certamente que outras acontecerão futuramente. O que poderá ser feito para evitar ou tentar minimizar o malefício causado será reunir forças para encontrar os culpados para depois puni-los convenientemente.