quinta-feira, janeiro 18, 2007

ESTUDOS DENUNCIAM SELECÇÃO DE ALUNOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS

O processo é difícil de avaliar porque "não é assumido pelos protagonistas". Mas são vários os estudos que comprovam que as escolas públicas fazem uma selecção social dos seus alunos. Escolhem quem fica, quando a procura supera a oferta e fazem-no através da constituição de turmas que agrupam os alunos consoante a origem social e trajecto escolar, denunciaram ontem dois investigadores responsáveis pelo trabalho Diversidade e desigualdade na escola, apresentado em Lisboa.
"O sistema discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, o que aumenta os processes de desigualdade e guetização social", defende Pedro Abrantes, do Centra de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Isso mesmo constataram diversos estudos feitos no âmbito deste centra de investigação. Parte foi sintetizada no trabalho ontem apresentado, de Pedro Abrantes e João Sebastião, também investigador do ISCTE e coordenador do Observatório da Violência Escolar.
Uma das investigações, da autoria de João Sebastião e Sónia Vladimira, concluída em 2005, analisou os resultados dos alunos de quatro escolas públicas da mesma área geográfica e com o mesmo nível de ensino. Para alem da composição social ser distinta – duas tinham maioritariamente jovens de meios sociais favorecidos e pais com altas habilitações e as restantes tinham sobretudo filhos de operários e empregados –, os resultados acompanhavam essa diferenciação.
No estabelecimento de ensino em que os pais dos alunos eram sobretudo "profissionais e dirigentes" o numero de estudantes que aos 15 anos tinha chumbado mais de uma vez ficava-se pelos sete por cento. Na escola constituída maioritariamente por filhos de "operários e empregados" a percentagem disparava para os 49 por cento. Na primeira, 82 por cento dos alunos nunca tinham ficado retidos; na segunda acontecia com 33 por cento.
Numa outra investigação, realizada em 2001, numa escola básica do concelho da Amadora, os autores Joana Campos e Sandra Mateus constataram a mesma "segmentação dos alunos de acordo com as suas trajectórias escolares e origem social".
Interesses particulares
"Dentro da própria escola criaram-se universos paralelos – uma turma de alunos de classe media, com trajectórias de excelência e uma outra de estudantes de um bairro social, com trajectórias de fracasso – e que nunca se encontravam devido a horários muito distintos", descreve Pedro Abrantes.
Questionados sobre a forma como tinham chegado a conclusão de que as escolas "fabricavam as turmas", João Sebastião invocou pesquisas e descreveu um caso que, por motives familiares, conhece particularmente bem.
"E uma escola em que de manha só ha turmas de alunos brancos e a tarde estão todos os filhos de africanos, o único aluno deficiente que havia, os que vieram do jardim de infância e foram sinalizados como tendo problemas comportamentais e aqueles que vinham de fora e o estabelecimento de ensino não os conhecia. Isto e pratica corrente."
Outro "método" com que diz já se ter deparado traduz-se na inscrição prévia, em Junho, de todos os estudantes da zona administrativa adstrita a escola, incluindo dos bairros sociais. "Chega-se a Setembro e a direcção afirma que afinal não ter vagas e que os alunos tem de ir para a escola no fim da rua. Numa o insucesso ronda os sete por cento e na outra e de 30 por cento."
O investigador afirma que a situação decorre muitas vezes de "interesses de professores, que querem os melhores alunos e poucos problemas, e da própria pressão dos pais, que querem o melhor para os filhos". E são os encarregados de educação das classes médias, altas, "com melhor conhecimento do funcionamento das escolas, que tem essa capacidade para pressionar".
João Sebastião considera a situação "democraticamente inaceitável e ate inconstitucional" e lembra que a criação de turmas socialmente seleccionadas "tem consequências importantes para a aprendizagem". "Este e um processo relativamente oculto, que acontece quando a escola esta fechada e em que nenhum autor se assume como protagonista", conclui.

Fonte: Público

Data: 07-12-2006 Autor: Isabel Leiria Tema: Educação


O processo é difícil de avaliar porque "não é assumido pelos protagonistas". Mas são vários os estudos que comprovam que as escolas públicas fazem uma selecção social dos seus alunos. Escolhem quem fica, quando a procura supera a oferta e fazem-no através da constituição de turmas que agrupam os alunos consoante a origem social e trajecto escolar, denunciaram ontem dois investigadores responsáveis pelo trabalho Diversidade e desigualdade na escola, apresentado em Lisboa.
"O sistema discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, o que aumenta os processes de desigualdade e guetização social", defende Pedro Abrantes, do Centra de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Isso mesmo constataram diversos estudos feitos no âmbito deste centra de investigação. Parte foi sintetizada no trabalho ontem apresentado, de Pedro Abrantes e João Sebastião, também investigador do ISCTE e coordenador do Observatório da Violência Escolar.
Uma das investigações, da autoria de João Sebastião e Sónia Vladimira, concluída em 2005, analisou os resultados dos alunos de quatro escolas públicas da mesma área geográfica e com o mesmo nível de ensino. Para alem da composição social ser distinta – duas tinham maioritariamente jovens de meios sociais favorecidos e pais com altas habilitações e as restantes tinham sobretudo filhos de operários e empregados –, os resultados acompanhavam essa diferenciação.
No estabelecimento de ensino em que os pais dos alunos eram sobretudo "profissionais e dirigentes" o numero de estudantes que aos 15 anos tinha chumbado mais de uma vez ficava-se pelos sete por cento. Na escola constituída maioritariamente por filhos de "operários e empregados" a percentagem disparava para os 49 por cento. Na primeira, 82 por cento dos alunos nunca tinham ficado retidos; na segunda acontecia com 33 por cento.
Numa outra investigação, realizada em 2001, numa escola básica do concelho da Amadora, os autores Joana Campos e Sandra Mateus constataram a mesma "segmentação dos alunos de acordo com as suas trajectórias escolares e origem social".
Interesses particulares
"Dentro da própria escola criaram-se universos paralelos – uma turma de alunos de classe media, com trajectórias de excelência e uma outra de estudantes de um bairro social, com trajectórias de fracasso – e que nunca se encontravam devido a horários muito distintos", descreve Pedro Abrantes.
Questionados sobre a forma como tinham chegado a conclusão de que as escolas "fabricavam as turmas", João Sebastião invocou pesquisas e descreveu um caso que, por motives familiares, conhece particularmente bem.
"E uma escola em que de manha só ha turmas de alunos brancos e a tarde estão todos os filhos de africanos, o único aluno deficiente que havia, os que vieram do jardim de infância e foram sinalizados como tendo problemas comportamentais e aqueles que vinham de fora e o estabelecimento de ensino não os conhecia. Isto e pratica corrente."
Outro "método" com que diz já se ter deparado traduz-se na inscrição prévia, em Junho, de todos os estudantes da zona administrativa adstrita a escola, incluindo dos bairros sociais. "Chega-se a Setembro e a direcção afirma que afinal não ter vagas e que os alunos tem de ir para a escola no fim da rua. Numa o insucesso ronda os sete por cento e na outra e de 30 por cento."
O investigador afirma que a situação decorre muitas vezes de "interesses de professores, que querem os melhores alunos e poucos problemas, e da própria pressão dos pais, que querem o melhor para os filhos". E são os encarregados de educação das classes médias, altas, "com melhor conhecimento do funcionamento das escolas, que tem essa capacidade para pressionar".
João Sebastião considera a situação "democraticamente inaceitável e ate inconstitucional" e lembra que a criação de turmas socialmente seleccionadas "tem consequências importantes para a aprendizagem". "Este e um processo relativamente oculto, que acontece quando a escola esta fechada e em que nenhum autor se assume como protagonista", conclui.

Fonte: Público

Data: 07-12-2006 Autor: Isabel Leiria Tema: Educação
Esta notícia chamou-me logo a atenção, pois sou pai e estudante de gestão.
Vou tentar não discutir as ferramentas psicológicas inerentes à mesma, irei sim comentar as regras que no quotidiano muitas vezes se evaporam e deixam de ter sentido, quer pela falta de tempo de ver crescer os nossos filhos, quer pela falta de normas num mundo que com tantas mudanças se encontra em anomia
Apesar do meu fraco conhecimento da lei de bases e respectivos códigos legislativos da educação, tenho no entanto uma certeza, todos nós queremos dar o melhor às nossas crianças e jovens.
Dar esse melhor significa que, não queremos que eles adoeçam por andar à chuva na rua ou ainda que não corram riscos em contactos sociais, para tal compramos computadores, televisões, consolas de jogos e colocamo-los em actividades em que sabemos quem são os seus companheiros, e nesta sociedade elitista e consumista compramos o melhor e isso muitas vezes inclui a melhor escola.
Só nos estamos a esquecer que estas crianças/jovens precisam de ter infância / adolescência, têm de ter contactos com toda a sociedade para que possam ver que por trás de cada ser humano existe um mundo a ser descoberto, devíamos de as vacinar contra a descriminação, tal como os deveríamos educar para pensar por si mesmos, devia de ser este o código de ética paternal, no entanto praticamos a severidade barata de uma ética egoísta e abstracta, dado que, se os nossos filhos ficam com o melhor, aos filhos dos outros só lhes resta o pior.
Somos assim mentores de um sistema social, onde os nossos filhos são vítimas daquilo que nós queremos, sendo os pais os primeiros a contribuir para que qualquer código ético por parte dos outros educadores não seja cumprido e num momento em que as escolas se encontram fragilizadas pela avaliação, com base em estatísticas ministeriais, que não obedecem a quaisquer variáveis sociais e somente em sucesso e insucesso dos seus alunos.
O código ético de qualquer gestão escolar vai então ser corrompido, não que a legislação o permita, em primeira instância existem critérios de seriação que o ministério estabelece com base na equidade, no entanto esses critérios baseiam-se em proximidades geográficas, dando origem a escolas/turmas elitistas, a falta de ética está assim na gestão dos excedentes e na constituição e distribuição das turmas por determinados professores, que as exigem, e entramos num ciclo vicioso de falta de ética, os pais querem os filhos nas melhores escolas e as escolas querem os melhores alunos.
Se os professores e os pais tivessem comportamentos éticos dignos da sociedade em que coabitam, todas estas situações não existiriam. Sendo uma realidade constatada, conforme nos informa a notícia acima publicada, a quem poderemos pedir explicações, aos pais ou aos professores que gerem as escolas. A pressão por parte dos pais (na sua maioria da classe média), é de tal modo intensa, que os professores quase que são obrigados a esquecer os seus princípios morais e éticos, de forma a responderem a tantas solicitações. Aos professores, em certa medida, o cederem às pressões dos pais, também lhes simplifica a vida, uma vez que as turmas assim constituídas têm à partida maiores índices de sucesso. Não estou a tomar partido de nenhum dos lados, mas por experiência própria, e por conversas com os meus filhos, que raros são os pais dos alunos das classes mais baixas, que se preocupam com a evolução nos estudos dos seus filhos. Essa ausência em nada os beneficia e só beneficia os outros.
No final tudo acaba em bem. Os pais conseguiram aquilo que queriam, os seus filhos em turmas elitistas, não que sejam melhores que os outros em questões comportamentais e éticas, mas para marcarem a diferença. Os comportamentos éticos são esquecidos, não se olham a meios para se atingirem os fins.

1 comentário:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.