sexta-feira, janeiro 19, 2007

ETAR admite descargas poluentes

Alviela
ETAR admite descargas poluentes
Maria Barbosa

O estado de degradação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena é apontado, pelo administrador da ETAR, como o motivo da nova descarga de esgotos.

17:53 Sexta-feira, 12 JAN 07

Uma avaria no posto de transformação, o que provocou uma falta de energia e obrigou a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena a suspender os trabalhos durante 16 horas, está na origem das novas descargas de esgotos industriais e domésticos no rio Alviela.
Sexta-feira de manhã, a GNR de Santarém esteve no local, juntamente com vários elementos da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) com o objectivo de recolher amostras.
"Esta situação repete-se há anos", comenta Firmino Oliveira, presidente da junta de freguesia de Vaqueiros, e um dos primeiros a ser alertado pela população para a "cor escura, quase preta da água".
Dado o elevado caudal fluvial, a maioria das espécies de peixes, como enguias ou carpas, "conseguiu escapar para a foz", assegura o autarca, que não se cansa de expressar a sua indignação pelo "silêncio do Governo e do Ministério do Ambiente" relativamente aos atentados ambientais de que aquele curso de água é vítima regularmente. Por ano, são mais de doze as megadescargas que se misturam com as águas do Alviela. Para os autarcas e residentes na zona, o investimento está "obsoleto".
Júlio Bento, administrador da Lena Ambiente, empresa que gere a ETAR, confessa que esta situação já se arrasta "há mais de doze anos" e reconhece que o equipamento "nunca funcionou bem".
Construída na década de 90, a ETAR concentrou os efluentes das indústrias de curtumes de Alcanena, mas a falta de conclusão do sistema e os problemas de manutenção têm provocado novos dramas ambientais.
"A ETAR não tem capacidade suficiente para tratar dos efluentes domésticos e industriais que aqui entram. Às vezes, algo tem de sair", admite Júlio, ao mesmo tempo que aponta o dedo à indústria dos curtumes, "a principal fonte de poluição".
Apesar da zona ser constantemente monitorizada pelos responsáveis da CCDR, e da ETAR ser obrigada a realizar análises periódicas, o problema contínuas sem solução à vista. "Teria de se começar por resolver o problema dos esgotos do concelho", assume Júlio Bento.
Quanto à informação obtida pelo EXPRESSO de que a GNR teria instaurado um processo-crime, exigindo um pagamento de uma coima, o administrador rejeitou essa informação. "Apenas foram recolhidas amostras. Depois seremos informados da situação".

Comentário:
É mais uma situação em que está bem visível que as empresas portuguesas continuam
a fazer descargas dos seus resíduos para os rios e ribeiros, ou seja, continua a agir com uma falta de ética tremenda no que diz respeito à preservação do meio ambiente envolvente.
É mais consensual de que o esforço de compreensão e de resolução dos problemas ambientais não pode ser separado de uma profunda reflexão ética, uma reflexão capaz de re-hierarquizar os valores que temos vindo a atribuir aos diversos elementos do ambiente assim como os valores que orientam a nossa relação com o mesmo.
Neste sentido, os empresários e gestores, enquanto responsáveis , deveriam desempenhar com as suas atitudes e acções um papel central, não só no desenvolvimento das empresas, mas sobretudo na vida dos seus colaboradores na sociedade nunca esquecendo o que deve ser feito para respeitar o meio ambiente envolvente.
As empresas e os empresários portugueses devem privilegiar uma cultura de valorização e respeito pela natureza, nomeadamente renovando os recursos utilizados e não os largar pelo rio, evitando assim a poluição, sempre tendo em conta as consequências ambientais e sociais da sua actividade para salvaguardar o futuro.
Já é altura mais que suficiente para terminar com este tipo de “distracções” e seguir um caminho da responsabilidade social empresarial e começar com a adopção voluntária dos princípios da responsabilidade social empresarial que possibilitará um desenvolvimento sustentável, permitindo às gerações presentes satisfazer as suas necessidades sem pôr em causa as perspectivas das gerações futuras.
Este “inferno” só será desmantelado se todos agirem em conformidade com a ideia de que não se pode massacrar mais o ambiente e mais as empresas que normalmente são as que produzem os resíduos mais prejudiciais ao meio ambiente e em maiores quantidades do que por exemplo, o lixo doméstico.
Todo este processo deve partir essencialmente das administrações de todas as empresas e da consciência de cada um que as dirige.
E na minha opinião deve também o Governo intervir com aplicações de sanções cada vez mais pesadas a quem ainda possa infringir desta maneira.

Francisco Pires n.º 3518

2 comentários:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.

Lúcia Estevas disse...

Se há hoje em dia alguma questão que se prenda com falta de ética, a ambiental é sem margem para dúvidas a que ocupa os lugares cimeiros de uma grande lista.
Numa altura em que tanto se fala do aquecimento global, da poluição de mares e rios, da crescente preocupação com a protecção de espécies em vias de extinção, em suma, com a saúde do ambiente que nos rodeia e que nos permite sobreviver, acontecem ainda casos de tal desrespeito, que a única explicação que posso encontrar para tais actos será a de tentativa de um suicídio lento e penoso.
Esta é uma das muitas descargas poluentes que se fazem em rios Portugueses, desta vez resultante da má manutenção de uma ETAR, que levou posteriormente à sua degradação e avaria.
Os resultados de 16 horas de descargas de esgotos industriais e domésticos no rio Alviela são trágicos, mas não falo dos resultados imediatos, falo sim da continuidade e frequência com que estas mega descargas ocorrem, enquanto autarcas e entidades privadas apontam o dedo ao governo e umas às outras, criticando um projecto que segundo a empresa gestora “nunca funcionou bem”.
Será que 12 anos de falta de consciência não servem para criar algum tipo de sentimento de culpa entre esses órgãos que nunca fizeram nada para controlar a situação?
Culpabilizar as industrias locais não é a solução, uma vez que os seus esgotos não desaguam no leito caudaloso do rio, mas são, isso sim, canalizados para uma ETAR, que supostamente deveria ter sido construída, não como fosse mais conveniente monetariamente, mas sim através de um planeamento exaustivo, tendo em conta factores como o crescimento industrial da zona e o desenvolvimento previsto.
Uma ETAR que não tem capacidade para as descargas de esgotos e que é apenas alvo de análises periódicas, deixada assim por 12 anos é prova que ainda existem tanto entidades económicas como pessoas que não estão conscientes da sua falta de ética, ao descurarem o factor ambiente.
Falta de ética tem também o governo e a GNR, por não definir políticas mais rígidas de preservação do ambiente, e por não ter ainda uma política de sanção que não seja mais prejudicial monetariamente para os poluidores do que continuarem a fazer as descargas.
Na minha maneira de analisar a situação, a política do “poluidor – pagador” utilizada pelo governo Português tem uma grande lacuna. Ora vejamos: Uma empresa (de curtumes, como na noticia, por exemplo) que seja altamente polidora, vai ter menos prejuízo se continuar a pagar as coimas aplicadas à sua poluição, do que apostar na actualização dos seus sistemas de escoamento e tratamento de águas residuais, bem como da poluição atmosférica, etc.
Perante o Código de Ética Comercial, empresários e gestores, tem o dever de zelar pelo meio ambiente envolvente e pela saúde e bem-estar humano. Uma correcta educação ambiental seria talvez uma boa forma de definir quais as prioridades a nível de uma hierarquização de valores éticos, para que se observe não um crescimento da consciência humana, mas sim o desenvolvimento dessa consciência, tornando os intervenientes mais conscientes da importância que tem a qualidade do ambiente.
Actualmente assistimos também a um amplo fenómeno de divulgação da reciclagem , tanto em spots publicitários, como em programas televisivos e de rádio, como em muitas outras fontes de informação. Aparentemente essa sensibilização está só ainda a ter efeitos nos pequenos lixos domésticos, apesar de existirem já algumas empresas que primam pela utilização de materiais reciclados.
O grande mundo empresarial terá que aprender a tirar o proveito desejado dos recursos disponíveis, mas terá que pensar no futuro, nas próximas gerações de empresários que estão a surgir, vindos de uma educação de nível superior, conscientes de que o ambiente é volátil e muito sensível, com códigos de ética bem definidos, que se vão deparar com uma situação completamente antagónica à que estudaram.
Para além de estarem a agir contra a lei nacional, estas empresas poluidoras estão infringindo leis de âmbito comunitário, que agem eticamente na salvaguarda dos sistemas hídricos.
Em Portugal, o PNA (Plano Nacional da Água) é um instrumento de ordenamento, legislação e controlo dos recursos hídricos, tanto interiores como costeiros. É composto por uma série de leis gerais que são linhas orientadoras de uma política eticamente correcta para a gestão das zonas hídricas nacionais.
Ao ir contra estes tipos de planos, feitos com base nos melhores ideais de preservação da natureza e de todos os seus recursos, são situações de negligencia como a noticiada, casos de uma tremenda falta de ética, respeito e consideração pelo nosso futuro.
Cada vez mais se torna necessária uma tomada de consciência relativamente às questões ambientais e à preservação da nossa “casa”, pois dela ainda não podemos sair e teremos então que zelar pelo seu bem estar, de modo a que consigamos estar bem também.


Lúcia Estevas n.º 4019