EXPRESSO 09 JAN 07
Ranking da revista "Fortune"
Google é a melhor empresa para trabalhar
Paula Cosme Pinto
Refeições gratuitas, ginástica e massagens são apenas algumas das regalias dos funcionários. Vai daí, todos os dias a companhia recebe mais de mil currículos. A Google é a melhor empresa para se trabalhar nos Estados Unidos. A escolha foi feita pela revista 'Fortune', que publicou a sua escolha anual do «ranking» das companhias que dão melhores condições aos seus trabalhadores.
“Não é em vão que a Google recebe 1300 currículos por dia”, afirma a publicação. Entre os diversos benefícios de luxo oferecidos pela companhia estão refeições gratuitas, serviço de lavandaria, massagens, piscina, lavagem dos carros, ginástica e salas de jogos. A empresa oferece ainda ajuda extra a mães que deram à luz recentemente e os funcionários que tenham animais de estimação podem levá-los para o trabalho. Acresce que, os engenheiros podem também gastar 20% do seu tempo em projectos independentes. A companhia, que obteve lucros na ordem dos dez mil milhões de dólares em 2006, tem mais de seis mil empregados nos Estados Unidos e cerca de três mil no exterior.
Trabalhar em Portugal
A realidade portuguesa está muito longe das condições disponibilizadas pela Google. Para Luís Graça, sociólogo da área da saúde e segurança no trabalho, "as nossas empresas nem sequer são estábulos modelo. No Inverno tirita-se de frio, no Verão desmaia-se de calor". O sociólogo lembra que tivemos bons exemplos "no tempo das vacas gordas", mas agora "a saúde e o bem-estar social é visto cada vez mais como um tremendo encargo financeiro". A tendência continua a ser "cortar nas despesas" e as condições mínimas de trabalho "são deixadas para trás". Em Portugal, vive-se ainda na base do "serviço é serviço, conhaque é conhaque", satiriza Luís Graça. As multinacionais lideram as poucas empresas que ainda dão algumas regalias sociais aos trabalhadores, importando algumas das suas práticas e costumes dos seus países.
Embora por cá "não se fale em satisfação e motivação de trabalhadores há muito tempo", Luís Graça assegura que a tendência é melhorar. "Estamos a assistir à chegada de uma nova geração de trabalhadores, cada vez mais intelectualizados e com muito mais exigências".
Comentário:
Não é novidade para ninguém que Portugal, no contexto dos países ditos “desenvolvidos”, é dos piores países para se trabalhar: as oportunidades de carreira escasseiam, a compensação monetária não convence, as condições mínimas de trabalho não estão asseguradas, o reconhecimento e as recompensas pela dedicação e profissionalismo ou não são praticados, ou não são atribuidas de forma séria e equitativa. Não é, pois, de admirar que, ano após ano, assistamos à fuga de talentos (principalmente nas áreas da investigação cienífica) para o estrangeiro, onde as condições de trabalho a satisfação, a motivação e a realização profissional dos trabalhadores, de facto, contam e são encaradas como garante da produtividade e da excelência.
As empresas portuguesas continuam, na grande maioria, indiferentes à necessidade de definir uma estratégia consistente de gestão de recursos humanos que envolva a preocupação com a satisfação e a motivação dos trabalhadores. E se é verdade que este tipo de medidas não é panaceia para a resolução de todos os problemas da produtividade das empresas portuguesas, também é um facto que esta matéria é, na grande maioria dos casos, completamente descurada.
Sabemos do delicado equilíbrio financeiro das nossas PMEs, que não lhes permite afectar demasiados recursos a funções que não a da produção. Mas também é verdade que um bom plano de negócios deverá equacionar o investimento nestas matérias (ergonomia, formação aos funcionários, gratificações, etc.), que, se bem enquadradas na estratégia de desenvolvimento da empresa, poderão representar mais valias importantes.
Acredito também que a postura ética no que respeita ao bem estar dos trabalhadores é imprescindível e não envolve necessariamente investimento. Pode traduzir-se apenas numa atitude, uma predisposição para negociar com os trabalhadores e para encontrar as soluções mais adequadas dentro das possibilidades financeiras existentes. Pode passar pela simples flexibilização de horários ou pela implementação de um sistema eficaz de avaliação de desempenho e de reconhecimento de mérito. Trata-se afinal da contrapartida que o empresário deve assegurar quando exige dos seus trabalhadores a dedicação, o profissionalismo e a qualidade de desempenho necessários ao bom funcionamento da empresa.
A satisfação e a motivação dos trabalhadores, se bem que tratando-se de uma matéria complexa, é tudo menos “treta”. Pode inclusivamente significar a diferença entre a sustentabilidade a longo prazo de um negócio e a sua morte anunciada. Esta dimensão é, de resto uma das mais essenciais na vida de uma empresa, uma vez que se trata dos seus stakeholders mais próximos: não se trata de aqui da noção abstrata e vaga de comunidade ou de meio ambiente, mas sim de entidades bem identificadas: os trabalhadores, o principal recurso ao serviço de uma empresa. E se a ética empresarial começar por aqui?
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1 comentário:
"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
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