domingo, janeiro 14, 2007

Anorexia na moda associada à concorrência!

O psicólogo Emanuel Alves não acredita na mudança dos actuais padrões de beleza e afirma que «a gordura nunca foi formosura».Quanto muito disse a gordura era entendida como sinónimo de saúde, numa altura em que a magreza estava associada a doenças como a peste negra e a tubercoluse.
O psicólogo Emanuel Alves associa o crescente fenómeno da anorexia entre as modelos ao aumento da concorrência nesta área. Segundo afirmou ao JM, é necessário ter em conta que o número destes profissionais aumentou significativamente no mercado, tornando-se mais complicado conquistar o tão desejado “lugar ao sol”. Esta concorrência desenfreada está a fazer com que as modelos releguem para segundo plano a sua saúde, tendo como objectivo principal satisfazer os requisitos de cada estilista ou agência de moda. Madeira não é excepção A Madeira não está distante deste problema social, sendo que Emanuel Alves confirma o registo de muitos jovens da Região internadas devido à anorexia. Embora não exista um levantamento estatístico sobre esta doença na Região, o psicológo sublinha que não é de forma alguma, uma doença rara. Inclusivamente, refere Emanuel Alves, o Hospital Central do Funchal já disponibiliza quartos individuais para acolher estas situações. Embora as raparigas sofram mais frequentemente destas perturbações alimentares, também há registos de rapazes. O psicológo considera ainda positivo para o tratamento das anorécticas a vinda público de notícias sobre as jovens que morreram vítimas desta doença. Quanto à eventual necessidade mudar os actuais padrões de beleza para minimizar este problema, Emanuel Alves é peremptório ao afirmar que ao contrário do que se diz habitualmente «a gordura nunca foi formosura». Quanto muito disse, a gordura era entendida como sinónimo de saúde, quando a magreza estava associada a doenças como a peste negra e a tubercoluse, durante os séculos XV e XVI. Modelo discorda dos actuais padrões Há quase 15 anos a fazer trabalhos como modelo na Região e também fora dela, Susana Gonçalves encara com alguma apreensão as notícias sobre as jovens que faleceram recentemente, vítimas de anorexia. A modelo e organizadora de eventos de moda reconhece que muitas raparigas acabam por ser menos requisitadas para os desfiles, porque não têm as medidas exigidas pelos estilistas e agências de moda. A este nível, Susana Gonçalves refere que este rigor físico aumenta quando se trabalha com equipas do Continente.«Se as roupas não nos servem, nós não passamos pelo estilista e acabou-se, há sempre modelos», afirma. Apesar disso, a modelo não conconcorda com este nível de exigência, considerando que uma mulher bonita é uma mulher com formas femininas. No fundo, é tudo uma questão de equilíbrio, que Susana Gonçalves garante ser fácil de atingir, se houver alguns cuidados básicos que, de modo algum passam por exageros, que possam conduzir as doenças como a anorexia ou a bulimia. Porque cada caso é um casos, a modelo considera que «qualquer pessoa deve perceber como funciona o seu organismo, quando eu engordo, eu sei por que engordei». Susana Gonçalves desconfia que alguma vez os actuais padrões da moda venham a mudar radicalmente, e por isso mesmo, considera que a solução passa, acima de tudo, pelos jovens perceberem que nem todos podem ser modelos. Combate à magreza A Associação dos Costureiros norte-americanos anunciou segunda-feira a criação de um organismo que vai propor medidas de combate à magreza excesiva nos manequins, um problema que tem suscitado debate no Brasil e em alguns países europeus. O novo organismo deverá publicar, até ao final da semana, uma série de recomendações dirigidas a criadores de moda, agência de modelos e produtoras, a tempo da s audições para os desfiles em Nova Iorque, que deverão realizar-se entre 02 a 09 de Fevereiro, indicou o Conselho dos Criadores da América. A entidade integra, entre outros membros, uma nutricionista, uma psiquiatra, um representante da agência de modelos DNA e a chefe de redacção da edição norte-americana da revista Vogue. O debate sobre o peso das manequins agitou o mundo da moda desde que, em Setembro, as autoridades madrilenas excluíram dos desfiles jovens demasiado magras, acusadas de dar o mau exemplo a outras adolescentes. Em Dezembro, Governo e costureiros italianos adoptaram um «código ético» que proíbe as modelos com índice de massa corporal inferior a 18, de desfilarem.
Tânia Caldeira, 13 de Janeiro de 2007, Jornal da Madeira.
Comentário:
Esta é uma doença do foro psiquico que infelizmente já conhecemos à algum tempo. Porém o tema tornou-se notório e capa de revistas e jornais após a morte trágica da manequim Brasileira Ana Carolina Reston de 21 anos que sofria de anorexia.
A partir daí debate-se profundamente a questão da culpabilização dos vários intervenientes do mundo da moda. Desde estilistas, costureiros, agências, entre outros, são agora severamente criticados e apontados como os principais responsáveis da evolução desta doença no mundo da moda.
Não discordo de forma alguma com estas criticas, uma vez que tal como nos diz a modelo madeirense "Se as roupas não nos servem, nós não passamos pelo estilista e acabou-se, há sempre modelos."
Os empresários deste ramo estão cada vez mais exigentes ao longo dos anos, muito em parte como diz o psicólogo Emanuel Alves pelo aumento da concorrência neste ramo e na minha opinião pela quantidade exorbitante de adolescentes que querem atingir o sonho de serem manequins profissionais, perdendo a consciência muitas vezes de que o corpo difere de pessoa para pessoa e que as exigências feitas por estes empresários são inalcansáveis para algumas adolescentes - "(...) a solução passa acima de tudo, pelos jovens perceberem que nem todos podem ser modelos." (afirma Susana Gonçalves, manequim madeirense).
Quanto às manequins menores, creio que o olhar atento dos pais é uma urgência nos dias que correm, principalmente no que toca à passagem de informação sobre as várias formas e hipóteses de ligação à moda, se a adolescente não se adequar às exigências das passerelles.

2 comentários:

joao miranda nº3941 disse...

Hoje em dia cada vez é maior a pressão da sociedade para que mulheres e homens atinjam um tipo ideal de corpo. A publicidade bombardeia-nos com imagens de corpos esculturais naquilo que considero uma aspiração desmesurada ao culto da perfeição. As revistas apresentam uma panóplia de dietas iô-iô com títulos sugestivos do género: Quer ficar magra? Saiba como! Ou Como perder 5 kg numa semana! Associados à imagem dos produtos verifica-se um padrão comum nas pessoas que os publicitam: regra geral, tratam-se de pessoas magras e bem parecidas. Ao fim ao cabo, é isto que vende. Embora algumas pessoas possam não se sentir identificadas aspiram um dia conseguirem obter tal identificação.

Se esta pressão já se faz sentir em quem está fora do mundo da moda e da televisão/cinema, imagine-se de que forma esta se abate sobre as pessoas que querem entrar para este mundo ou que simplesmente já lá se encontram e querem garantir o seu lugar. Mais, pensemos nestas questões e enquadremo-las por exemplo, na realidade do país onde sucederam actualmente vários casos de anorexia. O Brasil, como se sabe é um país onde se enfatiza muito a cultura do corpo muito mais do que noutros países. Não quero com isto dizer que este problema se encontra circunscrito ao Brasil. Infelizmente, trata-se de um problema mundial, sobretudo dos países industrializados, em que o nosso não está imune. Como referencia a notícia a Madeira por exemplo, contabiliza tantos casos de anorexia que o Hospital do Funchal já disponibiliza quartos individuais para acolher as pacientes vítimas deste problema.

Face ao crescente número de casos de anorexia no mundo da moda, as agências viram-se forçadas a repensar as suas acções e a tomarem certas medidas: exigência de atestado médico, submissão a exames de sangue entre outras, de forma a garantir o bem-estar físico e a saúde das modelos.

A questão ética que aqui se coloca remete para como é que as agências permitiram durante tanto tempo, que os seus requisitos e exigências de magreza se sobrepusessem à saúde das suas modelos? Como foram capazes de irem assistindo ao problema sem nada fazerem? Será que a grande quantidade de oferta de modelos que há neste momento justifica que as agências imponham padrões de beleza e pesos estritamente absurdos que chegam a por em causa a saúde das modelos? Definitivamente acredito que não.

Acredito, no entanto que não será justo circunscrever a responsabilidade às agências de modelos. É um facto de conhecimento comum, como refere a modelo Susana Gonçalves que muitas raparigas eram menos requisitadas para os desfiles por não terem as medidas exigidas pelos estilistas e agências de moda, sendo este rigor físico de tal forma exagerado que incentivou/contribuiu para que várias jovens começassem a sofrer de anorexia. Os estilistas determinaram tiranicamente as medidas antropológicas femininas de acordo com escalas duvidosas de valores sensuais, sob o rico de condenarem as mulheres de compleição normal a se sentirem feias e gordas. Contudo, julgo que a responsabilidade deve ser partilhada com outras instâncias, como por exemplo a media. Como já foi referido anteriormente ela é responsável por boa parte da tirania que o ideal de corpo esquelético exerce nas pessoas. Senão vejamos o grande número de revistas, sites e programas de televisão dedicados ao culto do corpo e dos cuidados corporais. O prazer da comida contrapõe-se à culpa das calorias.

Muitas vezes são as próprias mães que estimulam as suas filhas a submeterem-se a dietas estranhas. Estimulam nas filhas ideais pessoais, frustrações antigas e mal resolvidas, quando não se verifica uma espécie de competição com a filha. Por vezes comentários depreciativos aparentemente inocentes de familiares e amigos em relação ao peso poderão degenerar em consequências mais nefastas como o desenvolvimento da anorexia.

No que se refere à Internet a falta de controlo relativamente à informação que lá é colocada faz com que muitas vezes a informação seja maléfica e anti-ética e no entanto de fácil acesso a todos. Há já sites e comunidades virtuais pró-anorexia e bulimia que ensinam truques para perder o apetite, provocar o vómito e enganar a família. Os jovens em desespero pedem ajuda para emagrecer mais e chegar à perfeição. A maioria destes sites joga com a baixa auto-estima das pessoas com distúrbios alimentares.

A descoberta destes sites deixou-me completamente abismado com a facilidade com que as pessoas jogam com as fragilidades e vulnerabilidades dos outros. Há inclusive concursos nos sites, a ver quem aguenta o máximo de dias sem comer nada. Este tipo de sites faz com que considere cada vez mais importante a necessidade de se filtrar a informação que é colocada na Internet.

Parece-me a mim que o ser humano moderno corre o risco de ter a sua existência estreitamente limitada aos limites do seu próprio corpo. Se queremos cessar com os casos de anorexia teremos não só que questionar a acção das agências como também a acção da imprensa, a nossa acção como público, como amigos e como pais. A questão ética que se coloca é a seguinte: Qual o limite da valorização do corpo? Deverá o culto ao corpo ser levado ao extremo mesmo colocando em risco a saúde e dignidade humana? Quantas pessoas terão que morrer ainda em busca de um ideal de perfeição que é alimentado por todos estes actores? Torna-se assim necessário mudar os actuais padrões de beleza para minimizar o problema da anorexia. Resta saber se todos os actores aqui apontados estão dispostos a proceder a tal mudança.

É de ressalvar como um aspecto positivo para o tratamento das anorécticas a divulgação da morte das jovens. É igualmente positivo a realização de acções de sensibilização junto das escolas, nos centros de saúde, e nas escolas e agências de moda. A sensibilização para a problemática feita na novela brasileira transmitida na SIC é uma boa estratégia de chamar a atenção do público brasileiro para a questão da anorexia.

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.