“Antigos Mineiros da Urgeiriça reivindicam ajuda”

Noticia retirada: sic.sapo.pt/online/noticias/dinheiro/20061229+-+Antigos+mineiros+da+Urgeirica.htm
Publicação: 29-12-2006


“Antigos mineiros da Empresa Nacional de Urânio realizam esta noite uma vigília para sensibilizar o Governo para as suas reivindicações. Exigem exames médicos periódicos e indemnizações para as famílias dos trabalhadores que morreram com cancro.
As minas da Urgeiriça encerraram em 2001, depois de 40 anos de actividade, mas a polémica e as preocupações sobre os efeitos na saúde pública e no meio ambiente permanecem.
O complexo da Urgeiriça inclui um aterro com mais de dois milhões de toneladas de resíduos localizado a menos de dois quilómetros de Canas de Senhorim.
Em 2003, foi iniciado um estudo, coordenado pelo Instituto Ricardo Jorge, para identificar as eventuais repercussões das minas de urânio e dos seus resíduos no ambiente e na saúde das populações.
A análise revelou que, quando comparada com outras freguesias, a população de Canas tem mais tumores malignos e diminuição de várias funções biológicas, incluindo menor capacidade reprodutiva, sobretudo nos homens. Provavelmente, devido à exposição prolongada a níveis superiores de radiação e de metais pesados.
Mas relativamente às alterações de cromossomas e à concentração de plutónio no cabelo não foram encontradas diferenças significativas entre a população de Canas e das freguesias de controlo.
Em 2003, também foi medida a qualidade do ar e foram recolhidas para análise amostras de água e de produtos hortícolas. Os resultados confirmaram a contaminação do meio ambiente. Os investigadores alertaram nomeadamente para níveis de radiação potencialmente perigosos nos furos e poços de água.”



COMENTÁRIO A NOTÍCIA:

Logo após uma primeira leitura desta notícia, vários factores me ocorrem como sendo bastante relevantes. Qualquer actividade empresarial é importante para uma população, uma vez que gera riqueza, estabilidade e melhoria da qualidade de vida, sendo que estes factores deveriam ser primordiais; tanto para a empresa e acima de tudo para a população que nela trabalha.
Mas, uma exploração mineira não se pode apenas guiar pela parte financeira, pela sua própria sobrevivência, há que zelar pelo bem-estar da população, assim como pelo meio ambiente que lhe está adjacente. Assim sendo, existem desvantagens aquando de certas explorações, como é o caso das minas de urânio.
Uma vez que as empresas têm de ter ao seu serviço as melhores maquinarias e mão-de-obra para um melhor rendimento destas; outros factores deveriam ser salvaguardados, como é o caso da contaminação das águas, dos solos e do ar - sendo este um risco presente na nossa sociedade nos tempos modernos, e quando se trata de materiais radioactivos, como é o caso do urânio, os esforços deveriam ser redobrados.
A poluição ambiental dá origem a complicações a nível de saúde, às quais as empresas deveriam dirigir iguais esforços para evitar complicações futuras, que possam vir a prejudicar a sobrevivência das populações que nelas trabalham e que habitam nas suas imediações, como é o caso de Canas de Senhorim. Neste caso particular, existe ainda outro foco de contaminação que é de suma importância, sendo mesmo o de maior risco para a população, que é o aterro de toneladas de resíduos tóxicos provenientes das minas. Este não deveria estar tão próximo da população, mas foi outro ponto de negligência, que comprovou a ausência de ética por parte dos seus responsáveis.
Outro aspecto que comprova pouca sensibilidade por parte desta entidade, será a ausência de esforços a nível da assistência médica que deveria ter sido fornecida aos seus trabalhadores, uma vez que não foi de todo a mais correcta e necessária - exames de rotina que deveriam ter sido realizados durante e após a actividade da exploração mineira não se verificaram e daí surgirem consequências graves, como por exemplo, o falecimento de trabalhadores e o surgimento de várias doenças que estão directamente relacionadas com este tipo de explorações.
É de notar também que o apoio monetário que seria devido às famílias, cujos membros faleceram no e devido ao exercício desta profissão, não se constatou; algo que deveria ter acontecido, uma vez que a fonte de rendimento dessas famílias deixou de existir.
Um outro aspecto que é de suma importância e também uma das actuais reivindicações dos habitantes desta localidade será a antecipação da idade da reforma; uma vez que padecem de doenças graves causadas pelas radiações a que estes trabalhadores foram sujeitos ao longo da sua carreira profissional. Esta antecipação evitaria males maiores para os trabalhadores, mas uma vez mais a falta de responsabilidade por parte da empresa pôs em risco a saúde dos trabalhadores.
Em qualquer ramo empresarial o que deveria importar acima de tudo e em primeiro lugar seria o bem-estar actual e futuro dos seus colaboradores, sem esquecer as pessoas que habitam os meios circundantes. Mas como se pode observar em qualquer parte do mundo, essa não será a preocupação número um por parte dos seus responsáveis. Sempre houve e haverá, cada vez mais, um agravar das condições ambientais e de saúde, uma vez que o objectivo principal é aumentar a riqueza sem olhar a meios e a consequências.
Por todos estes aspectos já salientados, poder-se-ia completar que a implantação de regras e sanções pesadíssimas seriam necessárias, de forma a evitar tamanhas atrocidades para com a classe trabalhadora e população em geral. Sem nunca esquecer algo que também é muito ou tão importante para nós, como é o caso da preservação do meio ambiente, sem o qual a nossa sobrevivência está e será sempre comprometida.
Daqui concluo que as entidades responsáveis, somente com vista no seu bem estar e lucros acumulativos deixou de se preocupar com quem lhe dava realmente a riqueza. Tornou-se uma despreocupada dos códigos éticos que nos ajudam a tomar as decisões mais acertadas, não só para o seu próprio bem estar como para o daqueles que aí residem. Mas mais uma vez me descontento com o fraco governo do Estado em que nos inserimos, pois a falta de competências a ambos os níveis e das várias entidades responsáveis pela segurança dos habitantes voltou a falhar, uma vez que o que realmente importa é a produção e os lucros acrescidos, não importa se morre alguém ou se ficam de fraca saúde porque os objectivos e a felicidade são alcançados por alguém que só pensa em si.