sexta-feira, janeiro 12, 2007

Delta Cafés entra na lista da investigação fiscal

A investigação judicial que está a ser levada a cabo pelo Ministério Público, Polícia Judiciária e brigadas fiscais atingiu ontem a Delta. A conhecida empresa de Manuel Nabeiro foi ontem alvo de buscas, quer em Campo Maior (sede) quer em Lisboa, desde meados da manhã.
As investigações centram-se em suspeitas de fraude fiscal, bem como de branqueamento de capitais, mas também no não pagamento de contribuições como o Imposto Municipal de Transacções (IMT, ex-Sisa) e de mais-valias relacionadas com negócios de venda de terrenos.
Fontes ligadas ao processo dizem que a operação efectuada na Delta é idêntica àquela de que já tinham sido alvo, nos últimos dias, empresas de construção civil e obras públicas, tais como a Soares da Costa, a Mota-Engil, a Zagope e a MonteAdriano, bem como a empresa de auditoria e consultoria Deloitte. Também a Loja do Gato Preto, uma empresa de artigos de decoração, terá sido alvo de uma investigação, não tendo sido possível apurar se se trata do mesmo processo, conhecido por 'Operação Furacão'.
A Delta recebeu a visita de brigadas fiscais, com mandato judicial, que passaram revista a computadores e diversa documentação escrita, impedindo as comunicações telefónicas com o exterior.
Em comunicado, a empresa confirma a presença de elementos do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que "efectuou buscas não domiciliárias nas instalações de várias empresas do grupo Delta". Acrescenta que a administração "ignora em absoluto quais os factos em investigação" e garante que "prestará toda a colaboração que, dentro da legalidade, lhe seja solicitada pelas autoridades", manifestando "absoluta tranquilidade quanto ao desfecho do inquérito".
Contudo, a Delta diz que "não pode deixar de estranhar que, estando as diligências cobertas pelo segredo de justiça, a comunicação social em peso as tenha acompanhado desde o seu início". A Delta remata frisando que "confia que as autoridades competentes averiguem o crime de violação do segredo de justiça cometido, atenta a gravidade dos factos para a imagem nacional e internacional do grupo".

Mais construtoras

A MonteAdriano, empresa sediada na Póvoa de Varzim, emitiu ontem igualmente um comunicado, tal como já tinha ocorrido anteriormente com a Soares da Costa e a Mota-Engil, no qual diz desconhecer os motivos que levaram à inspecção referida.
No entanto, refere - à semelhança dos seus pares no dia anterior - que "prestou e continuará a prestar toda a colaboração que lhe for solicitada pelas autoridades". A Zagope também confirmou "uma auditoria" mas não as buscas, que no entanto ocorreram durante todo o dia de ontem na sua sede em Lisboa.
A Delta "fura" o que parecia, até ontem, uma investigação centrada em empresas de obras públicas e de construção. Célebre pela sua ligação ao mercado dos cafés, tem também negócios na restauração e hotelaria, através da sua divisão Horeca.
A defesa do sector de construção, foi ontem efectuada pela Associação das Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS). O director-geral, Tomás Gomes, referiu à Lusa que o sector que representa "não é o único visado". "Trata-se de uma actividade normal da administração fiscal e não terá impacto no sector", sustentou. Tomás Gomes admitiu que o relevo das empresas visadas terá suscitado o interesse mediático e afirmou que "há casos de outras de menor dimensão que têm sido alvo de acções de fiscalização, mas não chegam ao conhecimento público".

Fonte:

Márcio Alves Candoso
http://dn.sapo.pt/2006/12/08/economia/delta_cafes_entra_lista_investigacao.html


Comentário:

No âmbito da Operação Furacão, a Delta Cafés foi suspeita de fraude fiscal, branqueamento de capitais, não pagamento de contribuições como o Imposto Municipal de Transacções e de mais-valias relacionadas com negócios de venda de terrenos. Outras empresas nomeadamente relacionadas com a construção civil foram também vítimas das mesmas acusações. Infelizmente estes tipos de comportamentos nas empresas são cada vez mais comuns.
Hoje em dia as pessoas só se preocupam com que vão ganhar mediante tal comportamento, não se preocupam se estão a agir incorrectamente principalmente quando envolve milhões de euros, como neste caso.
As pessoas querem ver os resultados a curto prazo, há que ter paciência e esperar, porque os comportamentos mais adequados, a maior parte das vezes, apresentam-se a longo prazo. As empresas têm que estar dispostas a demorar o tempo necessário para avaliar e reflectir sobre o ponto em que a empresa se encontra antes de tomar qualquer decisão.
As pessoas que agem incorrectamente mostram uma falta de ética, de responsabilidade e de profissionalismo muito grave e toda a empresa acaba por pagar por isso.
Na minha opinião as empresas deveriam envolver os seus gestores directamente na formação de ética dos seus funcionários para que esses possam detectar um problema ético e responder ao mesmo em conformidade.
Há que motivar os funcionários a ter comportamentos éticos e “gabá-los” por isso, os gestores não devem só dizer ao funcionário o que está a fazer mal, tem também dizer o que está a fazer bem e recompensá-lo de forma psicológica por isso.
Na minha opinião é uma forma de dar o exemplo para que os restantes funcionários o sigam no comportamento ético. Assim os funcionários sentem-se mais seguros de si e do seu trabalho, ganham orgulho para a empresa para a qual a trabalham.
A administração da Delta mostra que não tem nada a temer e que irá colaborar com as autoridades. Logo tudo não passa de uma suposição, nada ficou provado (a notícia apenas nos fala das buscas).
Contudo, a Delta comenta também o facto de o caso estar em segredo de justiça mas, no entanto a comunicação social acompanhou as autoridades que foram fazer as buscas à empresa de Manuel Nabeiro. Ora, se o processo estava em segredo de justiça deve ter havido, na minha opinião, alguma fuga de informação, se não como teria a comunicação social sabido de tal investigação?
Lá está o facto que referi anteriormente, se ouve fuga de informação a pessoa, ou as pessoas que o fizeram, fizeram-no a pensar no que iriam ganhar com tal comportamento. Ouve falta de ética, de profissionalismo e de responsabilidade por parte de quem o fez. Tal não passa também de uma suposição e opinião minha. Mas se foi o que aconteceu as pessoas que o fizeram deveriam ser sancionadas tal como os responsáveis pelas acusações feitas à Delta Cafés (se for provado serem verídicas as acusações).

2 comentários:

João Baluga n.º 3057 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Baluga n.º 3057 disse...

Antes de mais queria explicar que escolhi este post para comentar devido a vários factores, entre os quais, abordar uma temática tão em voga como é a evasão fiscal, abordar igualmente o problema da violação do segredo de justiça e o facto de se tratar de uma empresa da região que tem ajudado a dinamizar o interior do país.
Queria salientar que concordo totalmente com tudo o que foi escrito pela minha colega mas naturalmente vou aqui apresentar o meu ponto de vista assim como expor novos argumentos e opiniões.
Começo pelo facto de muitas empresas terem como objectivo único o lucro sem se importarem como atingi-lo. É como se o lema dessas empresas fosse: "Lucro a qualquer custo". Neste tipo de empresas normalmente não existem profissionais capazes de planear o rumo da entidade em termos éticos visto que estas pessoas são vistas como alguém que não tem visão do negócio e que apenas estão na empresa a receber os seus ordenados.
O facto das empresas não terem um código de ética empresarial (ou simplesmente não o seguirem à risca) faz com que os seus empregados e até pessoas com altos cargos e responsabilidades se deparem com situações em que é necessário tomar decisões que entrem em conflito com as regras de conduta da empresa. Aqui podem surgir dois casos: por um lado a empresa não tem código de ética e os empregados continuam a tomar o mesmo tipo de decisões que a empresa costuma tomar (sejam elas éticas ou não); por outro lado, e se existe um código de ética, cabe às pessoas cumprir esse mesmo código.
E é aqui que surge muitas vezes o problema. Tal como disse a minha colega e muito bem, são as chefias e todas as pessoas com responsabilidades na empresa que têm que dar o exemplo. Voluntária ou involuntariamente os empregados tendem a seguir os exemplos dos seus chefes. Se o chefe se comportar de um modo ético e deixar transparecer confiança e honestidade é mais fácil para os seus subordinados absorver esses seus valores.
No caso da Delta Cafés, o comportamento dos seus dirigentes sempre foi de grande correcção e sempre deixou transparecer para o público a imagem de uma empresa familiar, assente em valores tradicionais, transparente e cumpridora em termos profissionais. No sítio da Internet da empresa existem mesmo vários documentos a falar sobre os valores que a empresa defende, bem como o compromisso que tem para com os seus clientes e parceiros de negócios. Uma das frases que está em maior destaque é a seguinte:
"Há valores em que acreditamos:
Integridade, Transparência, Lealdade, Qualidade, Sustentabilidade, Solidariedade e Responsabilidade Social".
Partindo do pressuposto que todos somos inocentes até ser provado o contrário, acredito que esta empresa é um exemplo a seguir não só em termos profissionais como em termos éticos. Naturalmente que se vier a provar que as acusações contra ela são verdadeiras, então, além da mesma dever ser punida, chegamos à conclusão que o problema residiu no facto de os seus dirigentes não terem cumprido os princípios éticos que faziam transparecer para o público.
Em relação à quebra do segredo de justiça também acho condenável. Como é possível que muitas vezes os jornalistas saibam em primeira-mão (e depois passem cá para fora essa informação, quer em imprensa escrita, quer em imprensa falada) informação sensível a que só juízes e advogados deviam ter acesso? Não raras vezes essas notícias chegam primeiro a conhecimento público do que a conhecimento dos interessados, nomeadamente as vitimas e/ou os acusados.
Aqui entra a ética jornalística, ou melhor, a falta dela. Certamente que o modo como os jornalistas têm acesso a este tipo de informações não é o mais legal, seja em termos éticos mas também em termos penais.
Quando consultei o código deontológico dos jornalistas portugueses deparei-me com o seguinte no ponto 4 do referido código: "O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.". Ora se está a quebrar o segredo de justiça ao ter acesso e ao publicar este tipo de noticias, é óbvio que estamos perante uma quebra do código de ética de todos os jornalistas que têm vindo a publicitar este caso.
Este falta de ética por parte dos jornalistas vem novamente realçar o facto de que eles são apenas o reflexo dos seus superiores hierárquicos, bem como os valores que estes defendem (que neste caso acaba por ser os valores que eles NÃO defendem). Ao fim ao cabo este tipo de jornalismo sensacionalista acaba por ser ele próprio também um reflexo do país em que vivemos já que se não houvesse público para este tipo de notícias, as mesmas acabavam por não ser publicadas.