quarta-feira, janeiro 10, 2007

Disparou para cobrar dívida

Fonte:
5/1/2007, Miguel Curado, Correio da Manhã

"Comerciante atirou sobre uma mulher e entregou-se à polícia.
Uma mulher de trinta anos, vendedora de peixe no mercado de Setúbal, escapou ontem ilesa a uma tentativa de homicídio levada a cabo por outro comerciante do mesmo ramo.
O agressor disparou contra a vítima dois cartuchos de caçadeira, cheios de pólvora seca, alegadamente por causa de uma dívida monetária ainda não saldada pela comerciante de peixe.
O comerciante, de 45 anos e também ele vendedor de peixe, chegou às imediações do Mercado do Livramento pelas 12h35. "Saiu da carrinha e deixou a mulher lá dentro. Entrou no mercado com uma mala à tiracolo. No interior trazia uma espingarda-caçadeira com os canos serrados", disse ao CM fonte policial.
Segundo a mesma fonte, o comerciante agiu devido a uma alegada dívida de que se achava credor. "A devedora seria uma mulher, também comerciante de peixe no Mercado do Livramento, a quem ele vendeu mercadoria no valor de dez mil euros, que nunca foi paga.", referiu a fonte.
Ao deparar-se com a alegada devedora, o indivíduo agiu com calma. Por entre os clientes que àquela hora ainda permaneciam no mercado, o comerciante abriu a mala, tirou a espingarda e apontou à mulher.
A vítima teve tempo de se baixar antes do indivíduo efectuar os dois disparos de caçadeira de canos serrados. Ambos os cartuchos usados continham apenas pólvora seca. A vítima da tentativa de homicidio escapou ilesa.
O pânico foi imediato, com a vítima e os clientes a gritarem pela Polícia. Calmamente, o comerciante saiu do Mercado e, a pé, atravessou a Avenida Luísa Todi até à esquadra da PSP, onde se entregou às autoridades.
Na esquadra, confessou que apenas queria 'pregar um susto' à comerciante. "Asegurou que nunca a quis ferir", concluiu o informador policial.
O comerciante é hoje presente ao Tribunal de Setúbal. É suspeito do crime de tentativa de homicídio."

Comentário:
Comentar e apreciar comportamentos éticos numa sociedade onde os valores são cada vez mais trocados por atitudes de violência isolada ou em grupo, convenhamos que não é nada fácil.
Se pensarmos então que por vezes, e são muitas, se confundem comportamentos éticos com comportamentos étnicos, onde se privilegiam alguns pela côr da pele, ou pela raça, mais difícil se torna ainda.
Esta noticia tem a ver com uma cobrança de dívida, onde o credor se substitui às autoridades, querendo ele próprio fazer justiça, ao empunhar e disparar uma caçadeira de canos cerrados.
Não é de louvar quem não cumpre com as suas obrigações contratuais, mas é de repudiar quem quer fazer justiça pelas próprias mãos, em substituição das Instituições existentes para o efeito.
Sociedade que não acredita no poder decisório e nos seus representantes, é mais uma vez, uma sociedade com menos valores e por implicação menos ética!
Mesmo que a intenção do vendedor de peixe, fosse só assustar e não ferir, a sua atitude não pode ser encarada com um comportamento ético da sua profissão de comerciante de peixe.
Se este tinha um problema de uma dívida não paga de dez mil euros, deveria ter tomado uma atitude mais correcta em vez de ter disparado sobre a devedora, ainda que com cartuchos de pólvora seca.
O comerciante agiu com calma dando inclusivamente tempo à comerciante de se baixar para se proteger, antes de disparar os dois tiros, no entanto o seu comportamento é condenável uma vez que deixou a vítima, bem como todos os clientes que se encontravam no Mercado do Livramento, em pânico.
No entanto, na minha modesta opinião, depois deste comportamento condenável, o homem de 45 anos teve uma atitude racional e ética, tendo ido entregar-se á polícia de sua livre e espontânea vontade. Este foi desde o Mercado onde se encontrava até à esquadra da Polícia, para se entregar às autoridades e para explicar que não tinha qualquer intenção de ferir a devedora, mas tinha sido uma forma de a assustar para que ela lhe pague os dez mil euros.
Será que este comportamento do credor pode ser considerado correcto, uma vez que esta foi a forma que o comerciante encontrou de receber a quantia que lhe é devida?
Na minha opinião, nada justifica uma atitude violenta, mesmo que depois o credor se tenha ido entregar à Polícia e que não tenha ferido a devedora, mas deveria ter encontrado outra forma, que não a violência para tentar receber os dez mil euros que são seus por direito.
Este homem tinha todo o direito de receber o dinheiro que lhe é devido, pela venda de mercadoria, no entanto ao ter tido uma atitude de violência, simulando a autoria de um homicídio, perdeu toda a razão.
No entanto, houve uma atitude deste comerciante de peixe, que revelou a sua verdadeira intenção.
Essa atitude foi quando, e apesar do seu anterior comportamento, se foi entregar às autoridades de sua livre vontade, sabendo que o que tinha feito não estava correcto e correndo o risco de aguardar julgamento em prisão preventiva.
Esta sua atitude, foi na minha opinião corajosa, revelando alguns valores éticos.

1 comentário:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.