“Neste país de brandos costumes, também há casos de "salários milionários". Aqueles de que se fala estão quase sempre associados a cargos públicos ou afins, seja a novela do salário do director-geral dos Impostos ou as reformas do Banco de Portugal ou da Caixa Geral de Depósitos.
De vez em quando também surgem exemplos de algumas grandes empresas cotadas, entretanto obrigadas a divulgar remunerações (que a maior parte faz de forma agregada) mas, sem o picante adicional da política, a polémica morre antes de o ser.
É uma peculiaridade doméstica de uma discussão que se faz à escala global e que ontem ganhou um argumento decididamente "sexy" com a renúncia de Robert Nardelli como CEO da cadeia norte-americana Home Depot, com uma indemnização global de 210 milhões de dólares. Nardelli, cuja remuneração na Home Depot já alimentava grandes discussões públicas e era objecto de críticas por parte de alguns accionistas insatisfeitos com o seu desempenho, faz ainda mais estragos à saída.
Desde o início da década, com os grandes escândalos corporativos, que as remunerações dos executivos das grandes empresas estão sob escrutínio público. E não é caso para menos, pelo menos à luz dos números que chegam da realidade americana, onde o diferencial do salário médio entre os presidentes das empresas e o dos trabalhadores passou de 40 para 400 em apenas duas décadas. Face à ausência de dados a nível nacional, aí está um bom tema de trabalho para os nossos académicos.
O disparo das remunerações dos cargos de topo das empresas é uma consequência do funcionamento do mercado e explica-se pela necessidade das empresas captarem os melhores talentos, os executivos melhor preparados para enfrentarem desafios cada vez mais complexos. Os executivos mais famosos passaram a fazer parte de uma espécie de "star system" e naturalmente são pagos a peso de ouro. Em empresas de capital disperso, a forma como os salários dos gestores são fixados acaba por ser determinada pela própria gestão, por mais rigorosas que sejam as regras de governação e mais independentes que sejam as comissões de remuneração. O que leva alguns a dizerem agora que o que se passa com os salários dos gestores é contrário às regras de mercado.
As regras apertaram mas os salários dos gestores continuaram a aumentar enquanto os dos trabalhadores estagnaram. Como se não bastasse, os benefícios dos gestores, com os seus pacotes de "stock options", planos privados de reforma e compensações para cessação de contratos, são um oásis quando comparados com a pressão que tem sido posta na diminuição das regalias sociais obtidas nos últimos 50 anos, para acomodar os efeitos do envelhecimento da população e o aumento das despesas de saúde. Uma tendência que é comum ao Estado social europeu e aos generosos programas das empresas norte-americanas.
Esta crescente disparidade coloca problemas de ordem moral e tem implicações práticas. Não é fácil fazer os trabalhadores aceitar sacrifícios quando quem os pede está sempre bem protegido. Os gestores têm de dar o exemplo.”
by Luísa Bessa in Jornal de Negócios
De vez em quando também surgem exemplos de algumas grandes empresas cotadas, entretanto obrigadas a divulgar remunerações (que a maior parte faz de forma agregada) mas, sem o picante adicional da política, a polémica morre antes de o ser.
É uma peculiaridade doméstica de uma discussão que se faz à escala global e que ontem ganhou um argumento decididamente "sexy" com a renúncia de Robert Nardelli como CEO da cadeia norte-americana Home Depot, com uma indemnização global de 210 milhões de dólares. Nardelli, cuja remuneração na Home Depot já alimentava grandes discussões públicas e era objecto de críticas por parte de alguns accionistas insatisfeitos com o seu desempenho, faz ainda mais estragos à saída.
Desde o início da década, com os grandes escândalos corporativos, que as remunerações dos executivos das grandes empresas estão sob escrutínio público. E não é caso para menos, pelo menos à luz dos números que chegam da realidade americana, onde o diferencial do salário médio entre os presidentes das empresas e o dos trabalhadores passou de 40 para 400 em apenas duas décadas. Face à ausência de dados a nível nacional, aí está um bom tema de trabalho para os nossos académicos.
O disparo das remunerações dos cargos de topo das empresas é uma consequência do funcionamento do mercado e explica-se pela necessidade das empresas captarem os melhores talentos, os executivos melhor preparados para enfrentarem desafios cada vez mais complexos. Os executivos mais famosos passaram a fazer parte de uma espécie de "star system" e naturalmente são pagos a peso de ouro. Em empresas de capital disperso, a forma como os salários dos gestores são fixados acaba por ser determinada pela própria gestão, por mais rigorosas que sejam as regras de governação e mais independentes que sejam as comissões de remuneração. O que leva alguns a dizerem agora que o que se passa com os salários dos gestores é contrário às regras de mercado.
As regras apertaram mas os salários dos gestores continuaram a aumentar enquanto os dos trabalhadores estagnaram. Como se não bastasse, os benefícios dos gestores, com os seus pacotes de "stock options", planos privados de reforma e compensações para cessação de contratos, são um oásis quando comparados com a pressão que tem sido posta na diminuição das regalias sociais obtidas nos últimos 50 anos, para acomodar os efeitos do envelhecimento da população e o aumento das despesas de saúde. Uma tendência que é comum ao Estado social europeu e aos generosos programas das empresas norte-americanas.
Esta crescente disparidade coloca problemas de ordem moral e tem implicações práticas. Não é fácil fazer os trabalhadores aceitar sacrifícios quando quem os pede está sempre bem protegido. Os gestores têm de dar o exemplo.”
by Luísa Bessa in Jornal de Negócios
COMENTÁRIO
Hoje em dia, a elite que domina as empresas, nem sendo os próprios capitalistas, que são os que investiram, usam o poder que têm, obtido através de influências, favores e politiquices, para extorquir tudo o que lhes passa à frente.
Apoderam-se de riquezas sem o mínimo esforço, absorvidas à comunidade, nomeadamente formações e cursos financiados pelo Estado e pelas próprias empresas, justificando-se que são merecedores de tais quantias mas que nada se relacionam com o trabalho que desempenham.
As quantias auferidas que são anunciadas não passa de valores de referência, pois não acredito que o valor real esteja tão perto do anunciado. Os imensos pedidos de omissão ao Ministério das Finanças, pois assim sempre se poupa tempo com os desvios.
Desde gestores que apresentam salários muito mais baixos mas que depois viajam pelo País de helicóptero particular, outros que viajam em avião da empresa, sem deixar de mencionar aqueles que convidam os amigos para patuscadas nos seus iates particulares.
Diz-se que é dado mais ênfase aos gestores públicos face aos gestores dos privados, mas uma coisa é certa, gestores de instituições públicas assim como ministros e directores, são remunerados por todos nós, pagadores de impostos.
Temos na actualidade o Director dos Impostos que até contraria a lei no que respeita a remunerações.
Critica-se deficits e contas de saldo negativo, procura-se produtividade, mas remunerações milionárias não podem faltar.
Recorde-se que estas condições alastram à família, por intermédio das condições sociais que terão que ser sempre obrigatórias para que estes senhores continuem a rubricar no escritório.
Os favoritismos por familiares também estão bem presente à vista de todos nós. Vemos filho de um ex-Presidente da República saírem da universidade e sem qualquer experiência profissional, só imediatamente capturados para altos cargos onde a extraordinária remuneração não pode faltar assim como todos os extras.
Após todos estes anos de poder, na hora da reforma, a maioria continua com reformas idênticas às remunerações anteriormente recebidas e mantendo todas as regalias sociais incluindo despesas de comunicação fixa e móvel como já foi várias vezes exposto nos telejornais.
Entretanto, continuamos a ouvir nos noticiários que existem salários e horas extra por pagar, dificuldades financeiras das empresas, excesso de funcionários, falta de produtividade dos mesmos, diminuição de condições sociais dos trabalhadores, etc., tudo em prol do aumento de condições para os gestores das empresas.
Cria-se assim uma elite de gestores especiais, já que rendimentos exorbitantes dão credibilidade e eleva o seu desempenho funcional mesmo que este na prática se resuma a nada.
Enquanto esta, designada, elite mantiver a sua postura arrogante, cínica e avarenta, pois não existe qualquer luta contra estes, o fosso entre ricos e pobres será cada vez maior, traduzindo-se na extinção da classe média.
O combate ao “turbo-capitalismo” não faz parar as empresas, e isso verificou-se na PT, por exemplo. Inúmeros gestores foram despedidos, e a esta não parou no dia seguinte. Afinal que faziam eles lá?
No entanto, muitos já tinham lugar reservado noutras instituições.
Defina-se assim o ciclo vicioso da vergonhosa ética da grande maioria dos gestores públicos e privados.
1 comentário:
"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
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