(Notícia extraída do Jornal “O Público”, de 07/07/2006; redigida por Diana Mendes.)
INDÚSTRIA AUTOMÓVEL PODE TER DE PAGAR INDEMNIZAÇÕES PELA
POLUIÇÃO CAUSADA
A indústria automóvel europeia pode vir a ser responsabilizada pelos danos causados pela poluição. O alerta foi lançado às empresas deste sector, depois de o Ministério da Justiça californiano ter movido uma acção cível contra alguns construtores de automóveis. Em causa está a poluição causada pela excessiva libertação de gases poluentes e as consequências nefastas das mesmas sobre o ambiente.
O processo é inédito e foi anunciado recentemente pelo estado californiano. Ao todo, estão envolvidos seis construtores americanos e japoneses: Chrysler, General Motors, Ford, Toyota, Honda e Nissan.
A Califórnia moveu esta acção devido às elevadas emissões de dióxido de carbono por parte das viaturas, já que aquele é o principal gás associado ao efeito de estufa, ao aquecimento do globo terrestre e às alte- rações climáticas. Segundo o ministério "este sobreaquecimento prejudica gravemente o ambiente da Califórnia e a saúde pública".
O objectivo da instituição é reclamar uma indemnização, que ainda não tem montantes definidos, e chamar à responsabilidade os produtores de automóveis e os próprios utilizadores de viaturas. A iniciativa é inédita e "poderá criar jurisprudência em termos de justiça ambiental", afirmou à agência noticiosa AFP Roda Verheyen, directora do Programa de Justiça Climática (uma ONG). Até agora, "não houve qualquer processo que se baseasse neste aspecto do problema: a responsabilização dos construtores por uma parte ou pela totalidade dos danos causados", acrescentou.
Depois das primeiras acções de classe contra a indústria do tabaco e da aproximação do momento em que a Europa poderá mover acções contra os operadores de telecomunicações móveis, é altura de os construtores reflectirem sobre estas questões, que passam a estar próximas de se tornar reais. Jean-Marc Jancovici, professor na École Polytécnique, disse à AFP que " será uma imprudência se não fizerem nada". Por agora, as medidas europeias em torno do Protocolo de Quioto abrangem apenas o sector energético e a indústria.
Fonte da Autoeuropa (empresa que está a produzir o Volkswagen Eos) não comentou a notícia, mas disse ao DN que "a empresa está certificada e cumpre as normas da UE em termos de protecção ambiental". E acrescentou que "não há qualquer situação poluidora na empresa".
COMENTÁRIO:
Esta notícia parece-me bastante relevante, pois a poluição provocada pelos veículos automóveis é com toda a certeza das que mais degrada o meio ambiente. Se tivermos em conta o cada vez mais elevado número de veículos a circular nas estradas, percebemos que é urgente alguém fazer alguma coisa para minorar este tipo de poluição.
A questão é saber o que deve ser feito e quem o pode fazer?
Penso que isto já não deve passar pela consciencialização das indústrias automóveis, pois estas obviamente que já sabem o quanto poluem o ambiente. Acredito que a solução será criar legislação que possa punir as empresas que causam danos ao ambiente, pois só desta forma as indústrias automóveis se irão mover no sentido de reduzirem o nível de poluição causada pelos seus veículos. Porém, também há que ter em conta que se uns países criarem legislação no sentido de punirem as indústrias infractoras e outros países nada fizerem neste sentido, as indústrias com maior relevância nestes últimos países estão a ser beneficiadas face às dos países anteriores, pois sabemos que em determinadas nações predominam umas marcas de automóveis e noutras nações outras. Posso citar dois exemplos que ilustram perfeitamente o supra mencionado: as marcas de automóveis que os americanos mais apreciam têm pouco a ver com as marcas de automóveis mais comercializadas na Europa; a Volvo Automóveis tem em Portugal uma excelente imagem de segurança e de prestígio, enquanto que na Suiça é considerada um “tanque de guerra”, sendo muito pouco apreciada pelos suíços que têm conceitos de design e robustez diferentes dos nossos.
Esta ideia de criar legislação, em certos países, que puna quem mais polui e noutros países não o fazerem pode também levar as marcas de automóveis a produzirem veículos diferentes, consoante o país para o qual eles se destinem: para um país que tenha legislação que puna quem poluir, fabricam um tipo de veículo menos poluidor; para um país que não tenha legislação sobre esta matéria continuam a produzir o mesmo tipo de veículos que até aqui têm produzido.
É evidente que esta questão é da maior relevância para as empresas, pois obviamente que produzir um veículo menos nocivo para o ambiente implica mais custos para a empresa que o produz.
Penso que acreditar que este problema se resolve pela consciência ética das empresas fabricantes de automóveis é utópico, pois ainda que algumas marcas o fizessem por considerarem fundamental preservar o ambiente, rapidamente mudariam de ideias, quando verificassem que a marca concorrente estaria a obter mais lucros. Acredito que este problema só poderá ser resolvido se todos os países criarem uma legislação uniforme sobre esta matéria.
Este assunto não nos pode deixar indiferentes pois, se actualmente já existe a poluição que se sabe causada por veículos motorizados, o que acontecerá quando países como a China ou a Índia tiverem a mesma percentagem de veículos por habitante que existe nos países ocidentais?
Será que é legítimo exigirmos comportamentos éticos às empresas no que concerne a questões ambientais, quando todos nós sabemos que os países mais desenvolvidos do mundo são precisamente os que apresentam níveis de poluição mais elevados?
Será que quem mais polui é quem mais se desenvolve?
Obviamente que sim, pois quem mais polui não tem custos com equipamentos que reduzam a contaminação.
Assim, a única forma de exigirmos comportamentos éticos às empresas passa por criar legislação.
Não posso terminar sem referir que no nosso país temos cidades em cujas zonas urbanas existem níveis de poluição dos mais elevados da Europa, será que não era de limitar a circulação de automóveis pelo menos nos centros urbanos das cidades mais problemáticas em termos de poluição?
Penso que dificilmente teremos qualidade de vida se habitarmos e fizermos toda a nossa vida numa cidade muito poluída.
António Ferreira, Nº4455
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
Enviar um comentário