Fonte: http://dn.sapo.pt/2006/07/21/economia/a_etica_gestao_e_menos_etica.html
O Autor da noticia publicada é Arménio Rego, professor da Universidade de Aveiro (Lisboa 21/07/2006)
A presença progressiva e rigorosa do tema da ética nos discursos empresarial e académico tem convivido com um aceso debate sobre os padrões que devem nortear os negócios. Uma questão central é a de saber se a actividade empresarial deve, ou não, reger-se pelos mesmos valores e padrões éticos das outras facetas da vida social. Autores como Carr argumentam que o nível de competição presente no mundo dos negócios não tem paralelo noutras actividades - com excepção do jogo. Por conseguinte, desse ponto de vista, é legítimo aplicar à esfera dos negócios a ética do jogo e não a ética da vida privada. Daqui decorre que acções consideradas moralmente inaceitáveis noutros contextos (e.g., induzir em erro o interlocutor) tornam-se aceitáveis em contexto empresarial, pois fazem parte das "regras do jogo" dos negócios.Os argumentos de Carr foram expostos num texto intitulado Is Business Bluffing Ethical?. Ei-los, sucintamente: (1) A mentira deixa de ser mentira quando todas as partes sabem que não se espera que a verdade seja dita. (2) A ética dos negócios é a ética do jogo, diferente da ética em geral. (3) De quando em vez, os executivos são forçados, em prol dos interesses das empresas ou deles próprios, a praticar alguma forma de mentira. Através de deturpações da verdade, da ocultação de factos pertinentes ou do exagero, eles tentam persuadir os outros a concordarem com eles. Esta actuação é aceitável, pois o executivo que recusa fazer bluff de vez em quando está a ignorar oportunidades permitidas pelas regras do jogo e fica em desvantagem. (4) O executivo que queira usar proveitosamente a estratégia do bluff necessita de se assegurar de que o bluff não o faz perder auto-respeito nem ficar emocionalmente perturbado. (5) Toda a gente concorda em que a maior parte dos executivos e empresários não é indiferente à ética nas suas vidas privadas. Mas, na vida profissional, eles são jogadores que devem guiar-se por padrões éticos diferentes. (6) Desde que obedeçam à lei, os gestores estão no direito de actuar nos negócios como entenderem. (7) Para ser um vencedor, uma pessoa deve jogar para ganhar. Isto não significa que deva ser rude, cruel, severa ou traiçoeira. Pelo contrário, quanto mais elevada for a sua reputação de integridade, honestidade e decência, maiores as possibilidades de ser vitoriosa no longo prazo. (8) De quando em vez, todo o actor do mundo dos negócios, tal como todo o jogador de póquer, fica perante a possibilidade de escolher entre a perda e o bluff que as leis lhe permitem. Se não pretende resignar-se à perda, então tem de fazer bluff - e bluff forte.A tese foi alvo (merecidamente) de uma acesa controvérsia. Um dos principais golpes que lhe foi desferido proveio dos escândalos de grande envergadura como os da Enron, da WorldCom e da Vivendi. Alguns autores criticaram veementemente esta apologia da "cultura da batota". É o caso de Jacquelyn Gates, referindo-se ao livro de Callahan intitulado The Cheating Culture. Eis, em síntese, os argumentos: (1) Faz-se mais batota hoje do que nunca. (2) Empregados outrora honestos acabam por se tornar desonestos, após verificarem que as pessoas desonestas os derrotam e raramente são punidas. (3) Trapaceiros nos negócios continuam impunes, ao passo que pequenos criminosos cumprem longas penas. (4) Existem duas classes de batoteiros. De um lado, a "classe vencedora", composta por pessoas com dinheiro e influência suficientes para agirem fraudulentamente sem riscos de punição. Do outro lado, a "classe inquieta", abrangendo pessoas que acreditam que, se não agirem com batota, não conseguirão ter sucesso. (5) Esta cultura perversa necessita de ser sanada, sob pena de continuar a desenvolver-se uma espiral de fraude e de mentira perniciosa para a vida em sociedade. É fundamental que se progrida na construção da confiança social. A "cultura da batota" deve ser substituída pela "cultura ética baseada em valores".Por qual das teses opta o leitor? Quais as consequências de ambas para a vida social, económica e empresarial? Em que sociedade preferia viver - na regida pelos princípios de Carr ou de Gates? Haverá uma ética dos negócios diferente da ética em geral?
Comentário:
Perante estas duas teses dificilmente conseguirei optar por uma… na verdade concordo em parte com as duas. Cada vez mais, no mundo em que vivemos nos deparamos com situações de descarada injustiça onde quem tem poder avança e “passa por cima” de quem luta toda a vida por algo que lhe parece cada vez mais inalcançável. Trata-se de uma bola de neve! Quem trabalha honestamente aufere um salário mais reduzido, faz mais descontos, paga mais impostos! Quem tem uma profissão mais beneficiada dentro da empresa onde trabalha, usufrui de isenção de horários, viatura disponível, recebe uma salário mais elevado, não paga impostos pois existe sempre uma forma de “fugir” deles…
Neste caso, de um lado temos a tese de Carr. Após ler a tese dele, e na minha opinião este defende que se deve sempre tentar “dar a volta”. Para ele, na vida empresarial deve sempre existir uma solução, nem que esta passa pelo bluff ou por uma pequena (ou grande) mentira, ainda que bem disfarçada e consentida.
De outro lado temos Gates, que defende o contrário de Carr. Este pensa que se todos agirmos desonestamente e conseguirmos mesmo assim atingir os objectivos pretendidos seremos certamente copiados.
Deveria com certeza haver um equilíbrio estes dois tipos de pessoas pois certamente e como defende Jacquelyn Gates, pessoas que outrora foram honestos e agiram de acordo com todas as regras optam agora por agir com desonestidade ao se aperceberem que quem assim age sempre sai beneficiado.
Dentro de uma empresa e exercendo determinadas profissão, um individuo muitas vezes depara-se com situações que requerem decisões rápidas e eficazes. Contudo, e muitas dessas vezes o individuo ao aperceber-se que consegue atingir o seu objectivo a curto prazo, prefere esquecer os princípios éticos da sua empresas e agir de forma fugaz. E porquê isto acontece? Este indivíduo sabe que se não agir assim, a concorrência age e atinge o objectivo pretendido por esta.
É coerente perceber que os valores para os gestores não se encaram da mesma forma, uma vez que estes passaram por experiências diferentes, e por sua vez existe um conceito de ética nos seus dicionários diferentes e muitas vezes opostas. Podemos pensar e perceber que um gestor do Japão não tem os mesmos critérios que um gestor Português, tanto pelos valores introduzidos pela cultura, no seu crescimento, face a religião e entre outras. Com base nestes aspectos que não podemos excluir, e no que respeita à minha opinião, penso que o envolvimento entre os gestores faz com que a ética se ajuste ao enquadramento do negocio, ou seja, os gestores face a concorrência determinam uma postura firme e precisa, no entanto, vão-se moldando ao meio ambiente em que estão envolvidos. Sempre me ensinaram que “diz-me com quem andas e eu dizer-te-ei quem és”, e esta frase clarifica um sentido bem vasto, o que eu quero dizer é que o mundo esta construído de uma forma, e mesmo que tenhamos uma ideia firme em certos aspectos de comportamento, somos influenciados pelo meio em que estamos.
Esta transformação que refere a noticia clarifica este conceito, estamos a ser influenciados pelo que nos envolve. Apesar disto, acho que no caso dos gestores, existe uma grande pressão por parte das empresas que exigem demais das suas capacidades. As empresas muitas vezes exigem resultados impossíveis dos gestores, ameaçando-os com os seus postos de trabalho, em que estes têm de pensar fazer de tudo para atingir os fins sem olhar a meios. É fácil cair nas condutas menos éticas, uma vez que o próprio mundo obriga-nos a tais comportamentos.
No entanto, tais comportamentos não nos fazem trazer mais valorização própria, podem até ter resultados visíveis, mas será que esses gestores se sentirão bem com eles próprios? Será que os seus superiores hierárquicos não exigem demais, ameaçando-os com os postos de trabalho e seu próprio agregado familiar? Será que os gestores não esta no envolvimento de quase todas as outras profissões? Com base nestas questões que nos fazem reflectir, termino a dizer que as posições éticas não são impostas por uma regra geral, mas sim são criadas conforme as circunstancias em que elas nascem e se desenvolvem.
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1 comentário:
"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
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