segunda-feira, janeiro 08, 2007

Avaliar risco de crédito

Avaliar risco de crédito com pouca informação



Paula Cordeiro

Cada português tem um preço perante o sector financeiro. Sempre que alguém pede um empréstimo, o banco ou a financeira em questão vai analisar o seu comportamento e a forma como lida com dinheiro, ou seja, se está muito endividado, se paga atempadamente as dívidas ou se o seu rendimento lhe permite pagar uma nova prestação. Chama-se a isto a análise de risco de crédito que, tanto para particulares como para empresas, vai determinar o "preço" desse cliente para quem concede o crédito, traduzido na taxa de juro aplicada.

Mas como é feita a análise de risco de cada particular? Existem dados suficientes para classificar cada cliente? A opinião generalizada dos especialistas ouvidos pelo DN é de que a pouca informação que existe é mal trabalhada, há muita relutância em divulgá-la e, como consequência, não permite um "retrato" fiável do endividamento dos portugueses.

"A avaliação do risco é feita, de uma maneira geral, de forma correcta. O problema está na fraca informação existente e na falta de ferramentas, por parte dos bancos e financeiras para a trabalhar", afirma Vasco Oliveira, senior partner da CreditRisk, empresa que oferece soluções para este tipo de análise. Como explica este especialista, "não há dados para comprovar o nível de endividamento das famílias".

Para Albano Santos, director da Credinformações, empresa que comercializa bases de dados de crédito, um dos grandes problemas é a partilha de informação entre quem a tem. "Há uma grande resistência por parte dos bancos em disponibilizar os dados a quem os sabe tratar", refere, sendo este um princípio básico para quem participa em bases de dados. Daí a relutância dos bancos em entrarem em registos desta natureza.

"Em Portugal, não existe menos informação do que noutros países. Está é menos organizada e com deficiente tratamento informático", afirma, por sua vez, Augusto Castelo Branco, director da Informa DB (ex-Dun & Breadstreet).

Todos os especialistas contactados são unânimes em considerar deficiente o tratamento que o Banco de Portugal dá à sua base de dados, a maior e a mais importante do mercado português. Falta de rapidez na disponibilização dos dados e omissão do histórico do cliente, ou seja, o seu comportamento passado em relação ao crédito, seja ele positivo ou negativo, são as principais críticas apontadas, a para a falta de dados sobre o valor das prestações que cada português paga e os prazos discriminados para cada empréstimo. O Banco de Portugal compromete-se a alterar a sua prática.










Comentário:


Muito se tem falado sobre o endividamento dos portugueses e dos créditos mal parados. Hoje ao ler esta notícia despertou-me mais uma vez a curiosidade. Quem podemos “culpar” por esta situação, o Governo?
Bem o que eu penso as culpas são de muitos. Hoje vive-se numa sociedade de consumismo desregrado, e os média dão-nos a toda hora uma visão de que podemos comprar tudo o que sonhamos, através de um marketing eficiente que nos entra pela casa dentro e nos faz pensar que sim, com umas prestações aliciantes temos acesso aos nossos sonhos.
Mas a realidade dos portugueses, é muito dura, muitos vivem, aliás, uma grande percentagem, tem um vencimento mensal de 403€, que é actualmente o ordenado mínimo fixado a partir do dia 1 de Janeiro de 07. Ora se nesse lar entra somente esse vencimento, como é possível essa família sonhar?
O Governo em minha opinião tem de intervir mais neste sentido, de maneira a incentivar os portugueses a fazerem um planeamento dos seus custos e a partir daí organizarem o seu dia a dia consoante as suas posses e necessidades. E ainda aplicar sanções às Instituições que de alguma forma desrespeitem as regras acordadas. Tem de ser feito previamente um estudo de cada caso e avaliar a situação económica do cliente de forma a conseguir saber se será viável ou não conceder o crédito ao individuo, para que este consiga pagar o valor ajustado.
Segundo a matéria da noticia:
“Cada português tem um preço perante o sector financeiro. Sempre que alguém pede um empréstimo, o banco ou a financeira em questão vai analisar o seu comportamento e a forma como lida com dinheiro, ou seja, se está muito endividado, se paga atempadamente as dívidas ou se o seu rendimento lhe permite pagar uma nova prestação. Chama-se a isto a análise de risco de crédito que, tanto para particulares como para empresas, vai determinar o "preço" desse cliente para quem concede o crédito, traduzido na taxa de juro aplicada.”
Neste contexto, penso estarmos no caminho certo para combater o problema, mas esta informação tem de ser tratada de forma ética de maneira a satisfazer o bem de todos e combater as demagogias existentes no mundo financeiro. Ao ser disponibilizada a informação do contribuinte esta tem de ser tratada de forma uma eficiente, ética e não colocar em risco o uso do bom-nome do mesmo. Esta informação tem ser sigilosa e não passar para fora dessas entidades o que muitas vezes não acontece. Há portanto um incumprimento dos códigos de ética elaborados por essas instituições e que os seus colaboradores desrespeitam, colocando em risco o bom-nome dos seus clientes.
Augusto Castelo Branco, Director da Informática DB, diz-nos que a informação não é menos que nos outros países, pois então cabe às Instituições Bancárias, através dos excelentes lucros que apresentam, arranjar meios informáticos adequados e pessoas competentes para os poder tratar. Só assim conseguiremos travar este flagelo e não estarmos sempre evidenciados nas estatísticas pelas piores razões.

2 comentários:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.

Sónia Pinto nº 4697 disse...

Quando falamos de ética profissional dos empresários, principalmente no que se refere àqueles ligados a negócios de alguma dimensão, que asseguram vários postos de trabalho e/ou a áreas de actividade potencialmente geradoras de impactes ambientais significativos, estamos a trazer à discussão um tema especialmente complexo.

Em relação à maioria dos profissionais que trabalham por conta de outrem, os empresários têm responsabilidades acrescidas para com a comunidade em que se inserem. Devem trabalhar em prol do objectivo básico da empresa – a geração de lucro, de riqueza – não perdendo de vista a meta mais ambiciosa da sustentabilidade do negócio a longo prazo, nem os interesses e as necessidades dos seus clientes, trabalhadores, investidores e parceiros, nem esquecendo o respeito pelos imperativos legais, e pelo interesse público (o contributo, ou pelo menos, o não comprometimento da gestão racional dos recursos, no meio físico e cultural em que se insere a empresa).

Ao empresário actual são colocadas exigências com as quais nem se sonhava até à primeira metade do século XX: maximizar o lucro, potenciando simultaneamente o bem estar dos trabalhadores e fazendo desenvolvimento sócio-económico no território. Parece quase uma tarefa sobre-humana, especialmente no nosso contexto economicamente deprimido, culturalmente fechado à mudança e sobrecarregado de burocracia.

No entanto, parece que veio para ficar a nova concepção de empresário. Embora ainda longe de generalizado, este entendimento da ética e da responsabilidade empresarial é incontornável num mundo global e competitivo, em que as palavras de ordem são a qualidade e sustentabilidade. Não a qualidade e a sustentabilidade abstractas do plano estratégico e da campanha de marketing, mas as atitudes mentais convertidas em práticas quotidianas reais observáveis, avaliáveis.

Os empresários em geral têm ainda, com certeza, um longo caminho a percorrer antes que possam dar provas da ética e da responsabilidade empresarial na gestão quotidiana, mas não será por esse motivo que a fasquia deverá descer. Se todos estivermos atentos e denunciarmos práticas empresariais lesivas dos nossos interesses enquanto membros de uma cultura, de comunidade e de um território, estaremos a fazer aumentar o controlo social necessário à mudança. Acima de tudo, estaremos também a sensibilizar para a mudança as novas gerações de empresários, para que não sigam os passos das centenas de empreiteiros de Casal dos Ossos espalhados pelo país fora.

Não tenhamos dúvidas: a informação e a educação são, como em quase tudo, chaves na questão da moralização das práticas empresariais. É preciso demonstrar como é possível fazer de forma diferente, mais sustentável, mais responsável e mais ética e isso faz-se tanto pela via da denúncia, como da apresentação de modelos. Como não podia deixar de ser, esse processo só produzirá frutos se se actuar igualmente sobre o enquadramento actual da actividade económica, procurando minimizar os obstáculos, agilizar, facilitar o acesso e aumentar a fiscalização – exigindo afinal, uma “moralização” também da administração pública.

Sónia Pinto nº 4697