sábado, janeiro 06, 2007

Crianças morrem a tentar imitar enforcamento de Saddam Hussein

Li esta notícia no Diário de Noticias de hoje, 6 de Janeiro de 2007, no site do próprio jornal: http://www.dn.sapo.pt/2007/01/06/sociedade/tres_criancas_morrem_a_tentar_imitar.html
Foi escrita por Ângela Marques e fala de três crianças que morreram a tentar imitar o que viram na televisão, aquando do enforcamento de Saddam Hussein.
Resumidamente, a notícia fala a respeito de três crianças, em diferentes partes do mundo, que ao verem o enforcamento do antigo ditador iraquiano, tentaram imitar a sua morte, tal como viram na televisão, acabando elas próprias por morrer.

A notícia é a seguinte:
“Três crianças morrem a tentar imitar enforcamento de Saddam Hussein”
“Os pais não a levaram a sério quando disse que queria experimentar a dor sentida por Saddam no enforcamento. Moon Moon, uma adolescente da região leste da Índia, enforcou-se na quarta-feira. No domingo, Sergio Pelico, um menino de 10 anos da Guatemala, foi encontrado morto em casa, em Houston, nos Estados Unidos. Estava a imitar a execução do ex-ditador iraquiano. E ajudado pela irmã, o paquistanês Mubashar Ali, de 9, também se enforcou. Tinha estado a ver as imagens da execução.
A sequência trágica tem em comum esse acontecimento: o visionamento das imagens foi confirmado pelos pais de todas as crianças. O porta-voz da polícia do condado de Webster, Tom Claunch, contou ao diário The Houston Chronicle que o rapaz - cujo corpo foi encontrado no domingo - tinha visto as imagens no sábado. E teorizou: "Pensamos que ele terá experimentado mimetizar o comportamento a que assistiu e perdeu o controlo."
Já Moon Moon, de 15 anos, terá ficado extremamente deprimida depois de ter assistido várias vezes às imagens da execução. "Não se alimentou durante dois dias, dizendo que estava em protesto pela morte de um patriota", contou o pai da jovem, Manmohan Karmakar, à AFP.
"Ela viu aquelas cenas vezes sem conta e recusou comer o que quer que fosse no sábado e no domingo", explicou. O responsável da polícia encarregue do caso, Pravin Kumar, confirmou o suicídio, e adiantou que a rapariga se enforcou atando um cobertor a uma ventoinha de tecto e à volta do pescoço. Terá feito tudo com a família dentro de casa.
Depois da divulgação do vídeo- -pirata do enforcamento, na Internet, ter chocado a comunidade sunita iraquiana, a opinião pública árabe e responsáveis de todo o mundo, as mortes das três crianças vêm focar de novo os olhares na divulgação das imagens na televisão. A polícia não hesita em ligar o visionamento da execução aos suicídios - que, no caso de Sergio Pelico, consideram ter sido acidental - e não põem de lado a possibilidade de esta tragédia voltar a acontecer.”

Na minha opinião, isto aconteceu, muito por culpa dos pais, por não terem tomado atenção ao comportamento das crianças, mas também, por culpa das televisões.
Por exemplo: no primeiro caso, no leste da Índia, a rapariga afirmou várias vezes que pretendia sentir as mesmas dores que o ex-líder iraquiano, facto que foi ignorado pelos pais, tal como a greve de fome que fez e a depressão em que ficou após ter visionado as imagens. Os pais dela só tomaram consciência que a filha estava a falar a sério quando a encontraram pendurada no tecto do celeiro. Já no segundo caso, na América, o menino tentou imitar a morte de Saddam, com os pais em casa, mas estes não repararam nas atitudes do rapaz que pudessem a levá-lo a fazer isto. Por outro lado, o menino paquistanês foi obrigado pela irmã a pendurar-se na ventoinha do tecto, para que ela pudesse ver como tinha morrido Saddam.

No caso da culpa das televisões, posso dizer que estas poderiam ter escolhido outras formas de expor as imagens. Por exemplo: em Portugal, na maioria dos canais, as imagens foram transmitidas a várias horas, nos vários noticiários durante o dia, podendo ser visionadas por toda a gente, tal como aconteceu. A maioria das pessoas não tiveram oportunidade de escolher o que queriam ver, pois, por exemplo, no caso da SIC, as imagens foram transmitidas sem aviso prévio, não dando tempo de mudarem de canal, não que isso fizesse muita diferença, já que nos outros canais, também foram transmitidas as mesmas imagens, e, basicamente, às mesmas horas.
Se as várias televisões mundiais tivessem escolhido um horário alternativo para a transmissão do enforcamento de Saddam Hussein, ou até, alertado os telespectadores para a natureza das imagens, isto talvez pudesse passar sem acontecer, uma vez que eram muitas menos as crianças a visionarem as mesmas imagens.
O enforcamento de Saddam até pode ter sido uma coisa boa nos dias que correm, pois foi feita justiça a um ditador que muito fez sofrer a vários povos, tanto iraquianos, como de países vizinhos, mas a transmissão de imagens desta natureza violenta e emocional, chocou muita gente, desta maneira não me espanta que tenham acontecido estas situações por todo o mundo, uma vez que as crianças tendem a imitar o que vêm na televisão, seja ele bom ou mau.
Assim, posso afirmar que houve falta de ética, e de tacto, por parte das televisões, ao transmitirem estas imagens para todo o público, uma vez que toda a gente as podia ver, podendo ferir susceptibilidades, chocar pessoas mais sensíveis, etc. Como os meios de comunicação têm o dever de informar, não digo que não as mostrassem, mas se o tivessem feito noutro horário, poderiam afectar menos gente, não só crianças, mas também pessoas mais velhas, tal como idosos, que têm mais sensibilidade para estas coisas que a maioria das pessoas.

Patrícia Pires, nº 4339

1 comentário:

Inês Romão disse...

Esta é uma notícia que suscita bastante interesse, uma vez que o que está em causa é se o motivo pelo qual estas crianças se suicidaram está ou não ligado à ética no jornalismo.
Na minha opinião acredito que tudo o que se passa nas televisões pode influenciar muito a cabeça de algumas pessoas, como por exemplo a das crianças, uma vez que se deixam levar muito mais facilmente pelo que vêem ou ouvem, mas não estou certa de que esta situação tenha, directamente, a ver com falta de ética, pois é uma situação que não está prevista no código deontológico dos jornalistas. O código apenas diz que os jornalistas devem relatar os factos com rigor e exactidão e, que devem lutar contra as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. Pelo que não sei se será correcto culparmos os jornalistas por falta de ética.
É certo que poderiam ter optado por outro tipo de horário para passarem certas imagens na televisão. No entanto, as noticias, como todos sabemos, passam sempre a horários em que qualquer pessoa pode ver e por isso acho que este acontecimento tem muito mais a ver com a falta de cuidado por parte dos pais das crianças do que, propriamente, com o jornalismo.
Sabemos que hoje em dia as crianças têm acesso a todo o tipo de informação e são os pais que não impõem limites a estas situações. É certo que é quase impossível estar sempre a controlar uma criança, até porque isso também não fará bem a essa mesma criança, mas também acho que não deveriam ter a liberdade que têm para fazer tudo.
Acho que este é um caso em que não adianta estar a culpar os jornalistas, uma vez que eles só estão a fazer o que lhes compete. E, ainda por cima, no primeiro caso de que a noticia fala, parece que a criança em questão já mostrava sinais relativamente ao que estava a pensar fazer e os seus pais não a levaram a sério, pelo que acho muito pouco correcto estarem a tentar arranjar algum culpado para isso.
Concordo com a minha colega quando diz que houve falta de tacto da parte dos jornalistas ao passarem a noticia a qualquer hora sem se preocuparem com quem estaria a assistir, pois talvez tenha mesmo havido falta de cuidado mas também acho que a profissão deles não permite preocuparem-se com esse tipo de coisas, mas sim em informar o público em geral de tudo o que acontece na sociedade. Talvez devessem ter escolhido outro tipo de horário para mostrarem estas imagens, mas o horário nobre de qualquer canal de televisão inclui um espaço para as notícias, pelo que foi nesse espaço que decidiram informar as pessoas do que se estava a passar. No entanto, também não posso deixar de pensar que talvez devessem ter seleccionado melhor as imagens que iam mostrar ao público, de modo a não ferir a sensibilidade das pessoas que são mais delicadas, como as crianças e talvez os mais idosos, como a minha colega referiu.
Na minha opinião, esta é uma notícia que provoca muitas dúvidas, uma vez que não me é possível afirmar com toda a certeza, se acho que os jornalistas têm ou não alguma culpa relativamente ao que aconteceu. Por um lado acho que sim porque deviam ter feito as coisas de um modo diferente, preocupando-se com quem estava a ver as imagens e por isso fazendo uma selecção mais rigorosa do que iam mostrar, ou então podiam ter-se decidido por outro tipo de horário ou até mesmo, avisando antes que as imagens que iam passar de seguida poderiam afectar a susceptibilidade das pessoas mais sensíveis. Por outro lado, penso que também não é assim tão correcto estar a culpar os jornalistas, uma vez que estão a fazer o trabalho deles e que não se podem recusar a passar as imagens e a informar as pessoas, que estão sempre ansiosas por saber o que se passa na sociedade e, ainda por cima, relativamente ao assunto que se estava a tratar, pois quase todas as pessoas estavam interessadas em saber o que se tinha passado com Saddam Hussein, uma vez que tinha sido alguém que fez muito mal às pessoas do seu país.
Segundo o código deontológico dos jornalistas, eles têm o dever de informar o público em geral de tudo o que se passa na sociedade, pelo que isso inclui todo o tipo de notícias, até mesmo aquelas que podem ferir a sensibilidade das pessoas. Com isto, parece-me que um qualquer jornalista não pode estar a recusar-se a passar as notícias e as imagens que lhe são atribuídas, pois, se calhar, é desta forma que pode por em risco o seu trabalho, isto é, acho que se se recusarem a fazer o seu trabalho como este lhe é exigido, aí sim podem por em risco o seu cargo e o seu profissionalismo.
Relativamente a esta noticia em especifico, acho que a culpa talvez tenha sido mais dos pais do que dos jornalistas, pois deviam ter estado atentos ao comportamento dos seus filhos, uma vez que estes já manifestavam comportamentos estranhos e anormais relativamente às imagens que tinham visto e, se sabiam que as crianças tinham visto porque não fizeram nada para evitar isso? Pelo que a noticia nos diz, parece que uma das crianças viu as imagens mais do que uma vez e ao que parece com o consentimento dos pais, então pergunto porque não tentaram evitar que isso acontecesse?
Em suma, penso que o que está em questão nesta noticia talvez não seja, propriamente, a falta de ética por parte dos jornalistas mas sim a falta de cuidado que demonstraram ao não escolher um horário diferente para falar deste assunto, mas também que é que alguma vez esperaria que tivesse este tipo de consequência?