sábado, janeiro 06, 2007

Itália elabora manifesto para combater modelos super magras

Notícia retirada de um saite da Internet: http://moda.terra.com.br/interna/0,,OI1289071-EI1119,00.html, publicada a 7 de Dezembro de 2006.

"O governo italiano e as principais figuras da indústria da moda estão elaborando um manifesto para combater a presença de adolescentes ultra magras nas passare-las, dentro da onda crescente de promover um visual mais saudável.
Em Setembro, a Espanha proibiu modelos abaixo de determinado peso de participar de um evento de moda em Madri.
Agora, o Brasil e a Argentina estão se unindo ao movimento, garantindo que as modelos tenham pelo menos 16 anos de idade e não sejam super magras.As poderosas marcas de Milão inicialmente resistiram às pressões para imitar as normas espanholas, e o chefe da Câmara Nacional de Moda da Itália, Mario Boselli, disse naquela época que "talvez uma menina em cada cem" podiam ser definidas como magras demais.
Mas Boselli, cujo lobby representa marcas como Armani, Versace e Prada, se reuniu esta semana com a ministra da Juventude da Itália, Giovanna Melandri, e concordou em criar junto com o ministério um código de boa conduta auto-regulatório."A Itália tem um papel estratégico importante no mundo da moda, portanto temos que mandar uma mensagem contundente", disse Flaminia Spadone, assessora do ministro.
O manifesto será lançado antes da semana de moda de Milão, em Fevereiro, um evento essencial do calendário das passare-las."Gostaríamos que as casas de moda, as agências de modelo, os fotógrafos e todo mundo que trabalhe no mundo da moda assine a carta", disse ela.
"Seria voluntário, mas entidades profissionais poderiam decidir impor sanções contra pessoas que não assinarem, as impedindo de participar de eventos da moda."Boselli disse à Reuters que o manifesto pode exigir que as mulheres sejam submetidas a exames médicos para verificar seu peso, embora também possam ser levados em conta factores como influências genéticas.
O movimento contra as modelos super magras ganhou ainda mais força depois da morte da modelo brasileira Ana Carolina Reston, por complicações causadas pela anorexia.
"Não teremos um limite específico de índice de massa corporal como eles têm na Espanha", disse Boselli. Mas Spadone disse que o ministério gostaria sim de impor um limite no IMC, que mede a relação entre o peso e a altura. Segundo ela, as modelos que estiverem abaixo de 18,5 no índice - a definição da Organização Mundial da Saúde para abaixo do peso - não devem receber permissão para trabalhar, pelo bem de sua saúde.
"No Terceiro Mundo, se alguém tem IMC de menos de 18,5, eles enviam ajuda humanitária", disse ela."

Comentário:

Nos dias que correm e, cada vez mais, a imagem é a marca que distingue as pessoas. A obsessão pelo corpo, pelo aspecto físico são denotados em pessoas das mais diversas idades, chegando mesmo a serem consideradas doenças em alguns casos.
Há algum tempo magreza era sinal de doença. Hoje é sinal de beleza. Podemos deduzir que as magras já foram criticadas, medicadas e remediadas. O que existe agora é uma revivência, criada por este mundo de padrões fora do sério.
Á criação deste código de ética torna-se assim essencial nos dias que correm, pois estas medidas atendem aos desejos de que haja maior diversidade feminina na mídia. Ver tamanhos 42 e 44 em um sofisticado desfile de moda vai ser uma experiência interessante.
Estas não devem ser levadas como medidas anti-anorexia, pois não se trata só de isolar o factor “influência da moda” para tentar combater a doença. O problema é bem mais complexo: trata-se de dar condições dignas para a profissão de modelos, trata-se de garantir que haja diversidade e respeito a todos os tipos de corpos femininos exibidos na mídia, e trata-se de proporcionar às meninas/adolescentes a sensação de serem respeitadas pelo que são, e não pela sua aparência física. Não podemos admitir que a magreza excessiva se torne um padrão estético, influenciando (e, por vezes, atrapalhando) o crescimento saudável de crianças e adolescentes, e destruindo a auto-estima de mulheres adultas.
Considero que, essa imagem feminina idealizada o tempo todo pela mídia, reforçando a ideia de magreza e juventude é uma violação dos direitos humanos, pois trata-se de uma forma de violência psicológica, gera angústia, insegurança, sensação de inadequação e discriminação na maioria das mulheres, prejudicando a sua vida social. Para piorar, prejudica o pleno desenvolvimento infantil ao exigir maior atenção das meninas/adolescentes à estética do que as outras formas de realização pessoal. ~
É neste sentido que o código de ética actua, pois apoia toda a intervenção que procure valorizar a diversidade de corpos femininos e desincentivar comportamentos pouco saudáveis, como o excesso de esforço para ser magra demais e a necessidade de adoptar um padrão de beleza único e irreal para ser feliz.
Vi muitos comentários exaltando a indústria da moda por gerar empregos, e afirmando que as modelos precisam ser magras para que o destaque seja da roupa. Sei que a moda é importante para a economia, fundamental para a identidade visual e fortalecimento de grupos sociais, mas daí a defender que meninas tão magras que têm o cotovelo mais largo do que o braço, sejam “cabides” de roupas é um absurdo completo.
É possível fazer moda artística e acessível a todas, sem valorizar apenas os “cabides”, e continuar tendo lucro e gerando empregos, sim, basta querer. A resistência dos estilistas em mudar esse padrão é bem difícil de entender, excepto se pensarmos em termos de masculinização do corpo feminino para se ter sucesso, ou uma forma disfarçada de submissão através da violência física ou psicológica… se forem realmente esses os raciocínios, são lamentáveis.
Assim se prova que cada vez mais a ética é fundamental em qualquer sector... quer na moda, no desporto, na medicina, nas industrias....enfim, sem ética o mundo seria um caos.
Cátia Gonçalves nº 4348

1 comentário:

Mónica Braga n.º 4259 disse...

Comentário:
Todos nós comemos, não só porque necessitamos de o fazer, como também porque nos dá prazer. No entanto, como em qualquer comportamento humano, o modo de nos alimentarmos varia muito de pessoa para pessoa. Algumas pessoas comem mais, outras menos; algumas engordam com facilidade, outras não. Mas algumas pessoas chegam ao extremo de se magoarem a si mesmas, comendo em excesso ou restringindo a sua alimentação de uma forma abusiva. Nestes casos, podemos falar, respectivamente, de bulimia nervosa e anorexia nervosa. Muitas das vezes, estas perturbações alimentares têm início na adolescência.
Não é de hoje que somos sistematicamente submetidas a um forte apelo pela valorização da estética. Abrimos as revistas, ligamos a TV, olhamos para outdoors pelas ruas e lá estão expostos corpos esqueléticos como ideal de perfeição feminina, sem falar do culto à ginástica - imagens que pouco reflectem os padrões reais da grande maioria da população. A cada dia que passa surgem mais ginásios, clínicas de estética, novos tratamentos antienvelhecimento, antiestrias, “anti-isto”, “anti-aquilo...”!!!
E códigos de ética? Também surgem todos os dias? NÃO!
É tanta informação e novas propostas que, se não tivermos senso crítico, somos levadas a querer experimentar tudo ou, o que é pior, sentimos a nossa auto-estima escapar-nos das mãos. Sem dúvida, a vaidade, a estética e o culto à saúde, são muito importantes, tornando-se um problema quando há uma supervalorização desses aspectos.
Não é raro que esse excesso de preocupação com a beleza e a estética esteja a serviço de evitar confrontos com a realidade, ou com sentimentos de frustração, medo, angústias e inseguranças.
E essa parece ser uma questão do mundo actual. Basta olharmos para a incidência cada vez maior e mais precoce do número de casos de transtornos alimentares e depressões. É inequívoco que essas patologias têm como causa dificuldades internas muito profundas, mas também são reforçadas por valores culturais.
Constantemente mulheres procuram ajuda pois não conseguem valorizar a sua beleza, nem mesmo outros aspectos tão interessantes da sua personalidade!
Muitas são as pessoas que reclamam que as modelos são muito magras, e que a moda impõe padrões difíceis de seguir. A própria mídia que um dia difundiu esses padrões hoje quer condenar. Tanto a mídia como a moda são culpadas por estes padrões. A mídia propaga mas são as pessoas que decidem se vão querer ou não, não podemos culpar somente a mídia se somos nós mulheres que aceitamos e pedimos esses padrões, basta olharmos para as campanhas de moda e campanhas de cerveja, as modelos de marcas de cerveja são muito mais curvilineas que qualquer tipo de modelo, por exemplo, no entanto esse tipo de imagem (mulher com curvas) não vende numa campanha de moda, as mulheres preferem uma imagem com modelos magras.
Ainda subsistem os estilistas que usam a desculpa (mais que passada) de que a roupa tem um cair melhor em pessoas magras, ao princípio isso parece ser fácil, mas um estilista (ou marca) português tem que fazer roupa para a mulher portuguesa, são eles que tem que fazer roupa para nós e não nós que temos que entrar nas roupas deles. Imagine-se então se a GAP (marca americana) fizesse roupa exclusivamente para pessoas magras lá nos Estados Unidos, um país com milhões de obesos, eles teriam ido a falência, falta um pouco de visão do futuro (e de negócios) nos nossos estilistas e nos estilistas de todo o mundo, é uma coisa absurda algumas marcas não trabalharem com numeração de 44 para cima, a GAP trabalha com tamanhos XXL, pois há muitas pessoas nos Estados Unidos que usam esse tamanho. Por exemplo, o Brasil não é um país que só tem pessoas magras, a típica brasileira tem “bunda” e quadril.
Não estou com isto verbalizando para que as pessoas engordem muito, estou apenas a referir que devemos pensar nesses padrões de magreza excessiva, pois ainda há muitas pessoas que sofrem por isso, vivem de dietas, de remédios, achando que a felicidade vem pela magreza.
Casos como os de Espanha deveriam acontecer em todo o mundo em que a organização da Moda Cibeles, em Espanha, proibiu, em Setembro, que manequins com menos de 55 quilos desfilassem.
A criação deste código de ética torna-se assim essencial nos dias que correm, pois medidas como esta atendem aos desejos de que haja maior diversidade feminina na mídia. O código de ética apoia toda a intervenção que procure valorizar a diversidade de corpos femininos e desincentivar comportamentos pouco saudáveis, como o excesso de esforço para ser magra demais e a necessidade de adoptar um padrão de beleza único e irreal para ser feliz.
Existem inúmeros códigos de deontologia; têm por base as grandes declarações universais e esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo profissional. Para além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos, para os infractores do mesmo.
Espera-se que sirva de exemplo para todo o mundo e que se adoptem códigos de ética, não só nos estilistas ou nas agências de modelo mas sim em todas as profissões que assim o exijam, seguindo-o e concedendo um melhor nível de vida a todos nós.