Desfalques – A Siemens investigada à lupa
Visão, 7 de Dezembro de 2006
Se há uma empresa emblemática da tecnologia alemã, é a Siemens. Ora, esse gigante da qualidade e da economia germânicas está agora a braços com um escândalo de corrupção de dimensões nunca vistas: na sequência do pedido de quase 300 funcionários para que fosse investigado um presumível delito de desfalque, a Procuradoria Geral do Estado da Baviera, anunciou que denúncias anónimas e pedidos de colaboração judicial, vindos da Suíça e da Itália puseram os investigadores no rasto de um desvio da ordem dos 200 milhões de euros, ligado à abertura de contas secretas no estrangeiro.
O desfalque terá sido perpetrado por pelo menos 6 funcionários, que se encontram em prisão preventiva. Durante os interrogatórios, um deles acusou de conivência, um antigo membro da administração da empresa, até há pouco dirigente da unidade de telecomunicações do consórcio. Segundo a revista Der Spiegel, parte do dinheiro desviado terá servido para subornar instituições gregas e obter contratos para as obras dos jogos olímpicos de Atenas, em 2004.
Comentário:
Desde já e antes de tecer qualquer comentário torna-se pertinente apresentar uma proposta de definição de ética empresarial. Assim sendo, a ética empresarial pode ser entendida “como um valor da organização que assegura sua sobrevivência, sua reputação e, consequentemente, seus bons resultados”. Para Moreira, a ética empresarial é "o comportamento da empresa – entidade lucrativa – quando ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceites pela colectividade”[1].
Cada vez mais são generalizados os desfalques das grandes empresas, contrariando os princípios de transparência, de responsabilidade social e de desenvolvimento económico e social sustentável, pelos quais as empresas se devem reger. Como se sabe, o comportamento ético e responsável das empresas suscita o respeito dos consumidores e da sociedade civil, favorecendo a criação de uma atmosfera de confiança e segurança entre a comunidade empresarial, os trabalhadores os governos e a sociedade.
No caso particular da Siemens, comportamentos pouco éticos como os assumidos por estes seis funcionários geram desrespeito, projecção negativa da empresa e descredibilização da mesma junto dos consumidores bem como um crescimento não sustentado da economia. Aplicar a ética nas profissões e organizações, é considerado um factor importantíssimo para a sobrevivência das mesmas, inclusive de pequenas e grandes empresas. Ora, estes seis funcionários ao não agirem dentro da legalidade e dos padrões éticos poderão ter comprometido o crescimento da empresa. As questões que se colocam neste caso não são só em termos legais (os crimes de desvio de dinheiro e de suborno), mas também em termos éticos, já que as empresas se devem reger pela divulgação de informações completas, correctas e precisas nos relatórios financeiros. Devem-se reger igualmente pelo princípio de transparência (fazendo a analogia entre um iceberg e o que se passa dentro de uma empresa não só a ponta de iceberg deve estar à vista, como este na sua totalidade, ou seja a empresa deve ser transparente ao nível do trabalho que faz, como o faz e ao nível do que consegue obter), pelo cumprimento das normas sociais, pelo respeito pelos valores e pelos princípios da sociedade em que se insere. O desvio do dinheiro e a utilização de parte dele no suborno de instituições para regalias pessoais é um desrespeito para com a sociedade civil e empresarial, pondo em causa o princípio de justiça e igualdade em relação a outras empresas que eventualmente se candidataram dento dos trâmites legais. O que foi colocado em causa através da conduta adoptada foi o princípio da responsabilidade social que as empresas devem respeitar e que nos diz que as empresas devem manter uma relação ética e transparente com todos os públicos com os quais ela se relaciona e estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Ora de que forma se está aqui a promover esta redução quando funcionários de uma empresa desviam milhões de euros?
Na minha opinião há ainda e infelizmente uma mentalidade muito divulgada de que ética e economia não têm relação, não casam bem, que ética e vida empresarial são realidades que vivem separadamente. De acordo com esta mentalidade, é deveras complicado no mundo empresarial agir honestamente, tendo em conta que a luta na vida empresarial é feroz: luta pela produtividade, luta para conquistar o mercado, luta para competir, luta para sobreviver, luta em relação a tudo e a todos. Esta mentalidade é perpetuada pelas notícias de fraudes, injustiças e escândalos como o caso da Siemens referenciado nesta notícia. Acredito que uma empresa que incute nos seus recursos humanos princípios e regras éticas que os conduzem na sua actividade dentro da empresa, que partilha valores comuns e assume regras de funcionamento com uma marca ética é mais eficiente economicamente e sobrevive melhor no mercado.
É de assinalar que neste caso específico a atitude é eticamente reprovável não só da parte de quem subornou como de quem aceitou o suborno. Toda esta ilegalidade teve repercussões nefastas na imagem da empresa, nos cofres do Estado e nas restantes empresas que cumprem as suas obrigações contributivas e que se sentem injustiçadas.
De congratular foi a atitude dos 300 funcionários que denunciaram a situação e que pediram para que se procedesse a uma investigação. O Código deontológico incentiva a comunicação de qualquer comportamento ilegal ou abusivo, de qualquer transgressão interna em relação à contabilidade, controlos contabilísticos internos, matérias de auditoria ou qualquer prática financeira falaciosa. Muitas vezes, os funcionários amedrontados ou receando represálias por se encontrarem por vezes numa posição subalterna retraem-se. Assim sendo, é de classificar a sua atitude como positiva e em conformidade com os princípios éticos, havendo coerência entre a acção e o discurso. É absolutamente imprescindível que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Caso contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa pretende transmitir ao seu público.
João Miranda
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Visão, 7 de Dezembro de 2006
Se há uma empresa emblemática da tecnologia alemã, é a Siemens. Ora, esse gigante da qualidade e da economia germânicas está agora a braços com um escândalo de corrupção de dimensões nunca vistas: na sequência do pedido de quase 300 funcionários para que fosse investigado um presumível delito de desfalque, a Procuradoria Geral do Estado da Baviera, anunciou que denúncias anónimas e pedidos de colaboração judicial, vindos da Suíça e da Itália puseram os investigadores no rasto de um desvio da ordem dos 200 milhões de euros, ligado à abertura de contas secretas no estrangeiro.
O desfalque terá sido perpetrado por pelo menos 6 funcionários, que se encontram em prisão preventiva. Durante os interrogatórios, um deles acusou de conivência, um antigo membro da administração da empresa, até há pouco dirigente da unidade de telecomunicações do consórcio. Segundo a revista Der Spiegel, parte do dinheiro desviado terá servido para subornar instituições gregas e obter contratos para as obras dos jogos olímpicos de Atenas, em 2004.
Comentário:
Desde já e antes de tecer qualquer comentário torna-se pertinente apresentar uma proposta de definição de ética empresarial. Assim sendo, a ética empresarial pode ser entendida “como um valor da organização que assegura sua sobrevivência, sua reputação e, consequentemente, seus bons resultados”. Para Moreira, a ética empresarial é "o comportamento da empresa – entidade lucrativa – quando ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceites pela colectividade”[1].
Cada vez mais são generalizados os desfalques das grandes empresas, contrariando os princípios de transparência, de responsabilidade social e de desenvolvimento económico e social sustentável, pelos quais as empresas se devem reger. Como se sabe, o comportamento ético e responsável das empresas suscita o respeito dos consumidores e da sociedade civil, favorecendo a criação de uma atmosfera de confiança e segurança entre a comunidade empresarial, os trabalhadores os governos e a sociedade.
No caso particular da Siemens, comportamentos pouco éticos como os assumidos por estes seis funcionários geram desrespeito, projecção negativa da empresa e descredibilização da mesma junto dos consumidores bem como um crescimento não sustentado da economia. Aplicar a ética nas profissões e organizações, é considerado um factor importantíssimo para a sobrevivência das mesmas, inclusive de pequenas e grandes empresas. Ora, estes seis funcionários ao não agirem dentro da legalidade e dos padrões éticos poderão ter comprometido o crescimento da empresa. As questões que se colocam neste caso não são só em termos legais (os crimes de desvio de dinheiro e de suborno), mas também em termos éticos, já que as empresas se devem reger pela divulgação de informações completas, correctas e precisas nos relatórios financeiros. Devem-se reger igualmente pelo princípio de transparência (fazendo a analogia entre um iceberg e o que se passa dentro de uma empresa não só a ponta de iceberg deve estar à vista, como este na sua totalidade, ou seja a empresa deve ser transparente ao nível do trabalho que faz, como o faz e ao nível do que consegue obter), pelo cumprimento das normas sociais, pelo respeito pelos valores e pelos princípios da sociedade em que se insere. O desvio do dinheiro e a utilização de parte dele no suborno de instituições para regalias pessoais é um desrespeito para com a sociedade civil e empresarial, pondo em causa o princípio de justiça e igualdade em relação a outras empresas que eventualmente se candidataram dento dos trâmites legais. O que foi colocado em causa através da conduta adoptada foi o princípio da responsabilidade social que as empresas devem respeitar e que nos diz que as empresas devem manter uma relação ética e transparente com todos os públicos com os quais ela se relaciona e estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Ora de que forma se está aqui a promover esta redução quando funcionários de uma empresa desviam milhões de euros?
Na minha opinião há ainda e infelizmente uma mentalidade muito divulgada de que ética e economia não têm relação, não casam bem, que ética e vida empresarial são realidades que vivem separadamente. De acordo com esta mentalidade, é deveras complicado no mundo empresarial agir honestamente, tendo em conta que a luta na vida empresarial é feroz: luta pela produtividade, luta para conquistar o mercado, luta para competir, luta para sobreviver, luta em relação a tudo e a todos. Esta mentalidade é perpetuada pelas notícias de fraudes, injustiças e escândalos como o caso da Siemens referenciado nesta notícia. Acredito que uma empresa que incute nos seus recursos humanos princípios e regras éticas que os conduzem na sua actividade dentro da empresa, que partilha valores comuns e assume regras de funcionamento com uma marca ética é mais eficiente economicamente e sobrevive melhor no mercado.
É de assinalar que neste caso específico a atitude é eticamente reprovável não só da parte de quem subornou como de quem aceitou o suborno. Toda esta ilegalidade teve repercussões nefastas na imagem da empresa, nos cofres do Estado e nas restantes empresas que cumprem as suas obrigações contributivas e que se sentem injustiçadas.
De congratular foi a atitude dos 300 funcionários que denunciaram a situação e que pediram para que se procedesse a uma investigação. O Código deontológico incentiva a comunicação de qualquer comportamento ilegal ou abusivo, de qualquer transgressão interna em relação à contabilidade, controlos contabilísticos internos, matérias de auditoria ou qualquer prática financeira falaciosa. Muitas vezes, os funcionários amedrontados ou receando represálias por se encontrarem por vezes numa posição subalterna retraem-se. Assim sendo, é de classificar a sua atitude como positiva e em conformidade com os princípios éticos, havendo coerência entre a acção e o discurso. É absolutamente imprescindível que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Caso contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa pretende transmitir ao seu público.
João Miranda nº3941
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[1] in pt.wikipedia.org
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"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
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