sábado, janeiro 06, 2007

Fogueira de luxo - China queima sapatos Hugo Boss

Noticia retirada do sitio da Internet do jornal "Expresso", que data de 4 de Janeiro de 2007 e que foi escrita por Cátia Mateus.
http://expresso.clix.pt/Actualidade/Interior.aspx?content_id=375000

"Cerca de uma centena de sapatos Hugo Boss foram queimados pelas autoridades chinesas que consideraram que o produto não tinha qualidade para ser vendido naquele país.
As autoridades da província chinesa de Zhejiang deitaram fogo a perto de uma centena de sapatos de várias marcas consideradas de luxo, entre as quais se incluem Hugo Boss, Trussardi, Dolce & Gabana ou Strada, que são vendidas na China a preços que facilmente superam os 200 euros.
Segundo a agência de notícias EFE, o departamento de Indústria e Comércio daquela província chinesa justificou esta “fogueira de luxo” com o facto dos artigos “não atingirem os níveis necessários de qualidade”. A mesma fonte explicou que foram analisadas 46 remessas dessas marcas e 80% não apresentava os índices de qualidade exigidos pelo departamento de controlo de qualidade do comércio de Zhejiang.
Ren Panwei, responsável pelo referido departamento de controlo de qualidade, apontou como principais problemas dos artigos queimados “a etiquetagem – que apresenta os tamanhos segundo os standards franceses e britânicos que são desadequados aos padrões chineses, a qualidade ao tacto –, a par da resistência da sola que em alguns casos se separa com muita facilidade”.
O curioso é que esta fogueira teve, na China, honras de transmissão televisiva pela Televisão Central da China, no Domingo passado. Tudo porque, como referiu um especialista chinês em questões relacionadas com a União Europeia ao jornal Zhejiang News (citado pela EFE) “as autoridades chineses querem mudar a mentalidade dos consumidores chineses face às marcas estrangeiras que estão sobrevalorizadas”.
Na verdade, os artigos europeus (incluindo o calçado) são vendidos na China a um preço que pode ser três vezes superior ao da produção local. Um par de sapatos provenientes da Europa ascende facilmente aos 200 euros podendo, em alguns casos, atingir os 400 euros. E como o público chinês é exigente quanto à qualidade dos produtos que usa, o que não cumpre os padrões tem como destino a incineração."

Comentário:

É do senso comum que a China é um país de mão-de-obra barata e que não prima pela qualidade da maior parte dos produtos que exporta. Começa a ser vulgar ver em muitas localidades portuguesas mais do que uma loja cujos proprietários são oriundos desse país. Vários comerciantes portugueses queixam-se que não podem competir com essas lojas porque, apesar do produto nacional ser de uma qualidade superior aos produtos vendidos nas "lojas dos chineses" (como são vulgarmente tratadas), o baixo preço que estas praticam é um factor decisivo na hora de escolher, ainda para mais num país a atravessar uma grave crise financeira como o nosso.
Isto serve para introduzir o porquê dos produtos fabricados naquele país oriental serem vendidos a um preço bastante competitivo: a escravidão laboral a que os trabalhadores são sujeitos.
Apesar de ser do conhecimento das autoridades chinesas e de várias autoridades com responsabilidades a nível mundial, nada é feito para impedir que esta situação se mantenha.
Os trabalhadores são sujeitos a horários de trabalho extremamente longos, são mal remunerados, não têm direito a quase nenhumas regalias e, sempre que se tornam menos produtivos (por doença ou pelo natural desgaste decorrente da idade), são imediatamente substituídos por novos trabalhadores sem direito a qualquer tipo de indemnização.
Se as autoridades chinesas competentes sabem o que se passa, porque é que não actuam?
Tudo não passa de uma questão ética. Elas depararam-se com uma situação que só tinha duas soluções: ou tentavam combater esta situação ou fechavam os olhos e "assobiavam para o lado".
Está à vista que escolheram obviamente a segunda opção visto que esta lhes garante um grande trunfo económico além de combater, de certa forma, o desemprego. Naturalmente que haveriam muitas fábricas a fechar e muitas pessoas a ficarem sem o seu sustento.
Solução? A meu ver era necessário acabar com esta "escravatura" mas não encerrando fábricas. Deveriam ser fiscalizadas e identificadas todas as que não estivessem dentro da lei e serem dadas duas opções: ou encerravam ou proporcionavam melhores condições de trabalho ao seu pessoal. O incentivo podia ser duplamente financeiro - por parte do governo e das vendas. Se por um lado o governo podia dar algum incentivo fiscal, por outro, poderiam vender os seus produtos a um preço um pouco mais alto visto que iriam possuir muito mais qualidade. E todos sabemos que, à excepção de países como o nosso que atravessam crises financeiras, ninguém se importa de pagar um pouco mais por um artigo de qualidade superior.
Esta primeira parte do comentário teve como objectivo provar que o governo Chinês acaba por ser um pouco hipócrita e nada ético ao afirmar que o povo chinês é exigente com as marcas que usa e que estas devem ter certos padrões de qualidade.
Seguidamente vou comentar o destino dado ao calçado considerado defeituoso.
Será que era mesmo necessário destruir o material? E pior ainda, fazer disso um acontecimento digno de honras televisivas? Não seria melhor as autoridades locais terem adoptado um comportamento ético e terem posto aqueles produtos à venda, para um público carenciado e com baixas fontes de rendimento, por um preço muito abaixo do seu valor real? Ou até mesmo terem doado o calçado a instituições de caridade?
Claro que estas duas soluções eticamente correctas não iriam ser tão mediáticas como foi a queima destes sapatos de tão prestigiadas marcas.
É este o mundo em que vivemos, onde uma acção polémica é muito mais popular, aplaudida e difundida do que propriamente uma acção que envolva um acto de solidariedade.

1 comentário:

Orlando Roque disse...

"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.