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"As falhas nos meios de salvamento no naufrágio da Nazaré já levaram elementos do Governo a reconhecer que o processo tem de ser mais eficaz e basta efectuar uma análise ao que acontece nos países mais próximos para perceber que ainda há muito para evoluir em Portugal neste aspecto.
Atendendo apenas ao meio de salvamento aéreo, conhecendo-se o tempo levado pelo helicóptero enviado para a Praia da Luz, percebe-se que basta percorrer alguns quilómetros para encontrar uma realidade completamente diferente. Na Galiza, por exemplo, o meio é «muito mais eficaz», conforme referiu ao PortugalDiário Xavier Aboi, secretário nacional da secção Mar da Confederação Intersindical Galega.
«A partir do momento em que é dado o sinal de socorro para a Torre de Controlo é accionado o meio aéreo para efectuar o salvamento. Os helicópteros são muito rápidos e estão em alerta 24 horas. Para além de um avião, que pertence à administração do Estado espanhol, ainda existem helicópteros da Xunta de Galicia, normalmente contratados a privados», frisou, avisando que «nem tudo é perfeito na Galiza, porque o serviço deveria ser totalmente público, mas de facto os meios de salvamento costumam ser eficazes».
O cerne da questão aponta para os custos envolvidos numa operação deste género. «É, de facto, um serviço muito custoso, mas acho que toda a gente percebe que a vida de uma pessoa não tem preço», vincou Xabier Aboi, concordando com a abordagem feita também ao nosso jornal por Plácido de Oliveira (56 anos), pescador de Aveiro e desde 1999 a operar no estrangeiro.
«Em Portugal discute-se quem vai pagar»
Com mais de quarenta anos de experiência no mar, 35 deles em Portugal, Plácido não se arrepende de ter emigrado, pois sente-se muito mais seguro lá fora. «Tanto em França, como em Inglaterra, Escócia, Irlanda e Ilhas Faroé os meios aéreos são rapidíssimos», frisou, concordando com uma ideia deixada por Xabier Agoi: «Em termos de salvamento de náufragos Inglaterra e França são as grandes referências».
O pescador Plácido exemplifica: «Vim recentemente da costa atlântica francesa e posso assegurar que os meios são muito eficazes, mais até do que Espanha. Sentimo-nos mais tranquilos, porque basta haver uma comunicação para o meio aéreo aparecer rapidamente. Primeiro está a pessoa, depois as perguntas. Em Portugal, pelo contrário, os entraves são enormes, porque a Marinha fala com a empresa responsável pelo barco e discute-se quem vai pagar a deslocação do helicóptero. Neste aspecto ainda vivemos um bocado no terceiro mundo».
Natural da Gafanha da Encarnação, Plácido de Oliveira sabe melhor do que ninguém o que é viver do mar e para o mar. A evolução tem sido grande, mas as evidências são claras, pelo que só se arrepende de não ter emigrado mais cedo.
Ministro fala da segurança nas embarcações
O ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, entretanto, prestou algumas declarações sobre as condições de salvamento a náufragos. Jaime Silva lembra que a segurança «começa nas próprias condições das embarcações».
«O Governo não exclui a necessidade de reforço [dos meios de salvamento], mas as questões de segurança começam na própria embarcação, nas suas condições de funcionamento e na utilização de coletes [salva-vidas]», frisou o ministro esta sexta-feira."
Comentário:Que país é este onde a culpa, se imputada a alguém com algum cargo importante, "morre solteira"?
Que país é este onde se perde tempo a discutir dinheiro quando vidas estão em jogo?
Convém salientar que não foi apenas uma questão monetária que retardou a operação de salvamento aos pescadores do naufrágio. Segundo outras fontes, questões burocráticas impediram que meios aéreos fossem mais rapidamente em auxilio das vítimas.
A marinha portuguesa foi avisada do naufrágio poucos instantes depois deste ter acontecido mas passaram-se horas (entre telefonemas, preenchimento de papelada e toda uma série de procedimentos legais) até que fossem libertados para o local os meios de salvamento.
Que ética têm os políticos para vir falar em investimentos para o país tais como TGV, estádios de futebol e novos aeroportos quando nos faltam meios e infra-estruturas para necessidades tão básicas como a segurança ou a saúde?
Que ética têm quando, perante os estados membros europeus, não defendem os nossos pescadores em termos de cotas de pesca, enquanto os "nuestros hermanos" vêm com as suas embarcações para a nossa costa e pescam muito além dos limites impostos por lei e muitas vezes de forma ilegal?
Que ética têm os responsáveis da marinha portuguesa para fazer de uma simples missão de salvamento, visto que o barco se encontrava a poucos metros da praia, um desencadear de assuntos burocráticos e monetários?
Não é por acaso que os pescadores vêem a marinha portuguesa como uma entidade autoritária e opressora, sempre a tentar fiscalizar as embarcações em busca de anomalias, em vez de uma entidade auxiliar à sua actividade em questões de segurança.
Porque é que o responsável por esta tentativa falhada de salvamento não se demite? Porque não aproveitar esta tragédia (já que parece que cá no burgo só nos lembramos que certas coisas não funcionam quando acontece algo mau) para abrir um inquérito rigoroso ao que está mal no sistema e reformular tudo de raiz? E nem a desculpa da falta de dinheiro serve porque além das vidas humanas não terem preço, geralmente este tipo de reformulações permitem poupar meios e custos. E se existe dinheiro para "reformas douradas" de ministros será que não se arranja para coisas realmente importantes?
Acredito que este trágico acontecimento pode despoletar uma grande discussão acerca do sistema de salvamentos em alto mar (apesar desta tragédia ter, ironicamente, acontecido a poucos metros de uma praia) implementado actualmente e, espero, optimizá-lo.
Porque queiramos ou não, não devem existir desculpas para que estes acontecimentos se sucedam. Não há dinheiro? Cortem nas "despesas de luxo" do governo como, por exemplo, renovarem constantemente as suas frotas de automóveis de luxo.
E como é possível que um ministro venha falar de que as condições de segurança devem começar a ser tomadas pelos próprios pescadores, justamente num caso em que a falha é totalmente imputada à marinha?
Já que, infelizmente, não é possível recuperar as vidas perdidas, ao menos que estas não tenham sido em vão e que sirvam de ponto de reflexão para todos os responsáveis de modo a evitar que aconteçam mais situações trágicas como esta.
1 comentário:
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