artigo de opinião, publicado em 04.01.2007, no site do Jornal de Negócios, http://www.jornaldenegocios.pt/default.htm, autor David Zamith
Resumo da Noticia:
“Estudos recentes revelam-nos a preocupante dimensão que em Portugal atinge o incumprimento dos prazos de pagamento nos compromissos assumidos pelo Estado e também pelos particulares.
Segundo estes estudos, a média do desrespeito ronda os 150 dias no lado do Estado e atinge os 80 dias nos chamados privados. Pergunta-se: porquê esta total falta de rigor e de ética no cumprimento das obrigações na data acordada? Porquê este permanente abuso que desvirtua a sã competição e desregulariza os mercados, premiando os faltosos e punindo os cumpridores?
As justificações para estes comportamentos eticamente condenáveis podem ser muitas, a começar pelo facilitismo lascivo que tem vindo a ser induzido na sociedade portuguesa, ou por algumas modas económicas que nos falam, permanentemente, de reengenharia financeira (felizmente já em desuso), da coqueluche dos leasings a propósito e a despropósito, do "cashflow" positivo a qualquer preço, etc.
Importa não esquecer, contudo, que o exemplo vem de cima, do principal incumpridor: o Estado. De facto, em vez de termos um Estado eticamente exemplar, empenhado em educar as famílias e os mais jovens no caminho da poupança e do rigor, ou apostado em fomentar a capitalização das empresas e em enaltecer a importância social do lucro, aquilo que nos é dado ver é um Estado gastador, indiferente à impossibilidade de respeitar os compromissos assumidos, arrastando consigo famílias e empresas que ficam também incapazes de satisfazer os seus pagamentos a tempo e horas.
Dir-se-á que esta realidade não é nova. Que o fado do "calote" é antigo e bem português. Então, porquê a urgência em encarar de frente este problema, de contrariar agora esta tineta de gastar acima das posses, de mandar às malvas os prazos dos pagamentos? Desde logo porque o arrastar da crise económica em Portugal veio abrir buracos mais profundos no nosso tecido económico; mas, acima de tudo, porque temos de viver este tempo de vacas magras num contexto internacional também difícil, onde se verifica uma crescente exigência no cumprimento dos compromissos, onde se tenta que apenas tenham direito à sobrevivência aqueles que revelem a competência e rigor suficientes para aceder ao crédito e continuar a investir.
Diga-se, em abono da verdade, que em Portugal muitos têm conseguido resistir a um Estado pouco ético e a uma concorrência desleal, superando com correctas estratégias empresariais as desvantagens estruturais impostas pelo País, nomeadamente por uma Justiça ministrada a passo de caracol que alimenta e premeia o mau pagador, isto num contexto económico internacional cada vez mais globalizado e competitivo.
E é precisamente o exemplo de sucesso destas empresas portuguesas ou sediadas em Portugal que importa publicitar.
Porque são empresas que se regem por valores éticos que as diferenciam num clima concorrencial difícil e constituem, por isso mesmo, casos que urge replicar, multiplicando as experiências de empreendedorismo assentes em visão e estratégia empresariais correctas, mas também apoiadas por valores humanos e éticos que recusam a falta de rigor, desde logo no respeito pelas datas dos pagamentos.
(…) se os problemas do crédito mal parado e dos pagamentos a desoras constituem uma chaga da vida económica portuguesa, então a situação vai certamente agudizar-se com a aplicação das regras de Basileia II. O que, afinal, não deixará de constituir uma notícia positiva para os empresários portugueses que há muito vêm pautando a sua actuação por valores morais e éticos, pois ficarão com mais espaço para rentabilizarem a sua competência e verem premiado o seu rigor. Já faltou mais...”
Comentário:
Falar de ética está na moda, embora no que concerne aos prazos de pagamento faça mais sentido falar em falta de ética. Os portugueses nunca foram muito cumpridores no que respeita a efectuar os seus pagamentos. E os que o fazem, fazem-no no último dia. Basta recordar a compra do selo do carro, ou de pagamento das despesas de água e luz. Já para não falar do pagamento de impostos. Neste dia (o último), os locais de pagamento, registam filas infernais. Podemos perguntar-nos o porquê desta situação. Sim, porque é que se nós sabemos que temos que pagar uma conta o fazemos sempre no último dia? Não será com certeza sempre pela falta de dinheiro, mas sim uma forma de reter em nosso poder um dinheiro que sabemos vamos perder. No caso do pagamento não se efectuar e como está descrito na notícia, os prazos de incumprimento rondam os 150 dias para o Estado e os 80 dias para os particulares.
Na minha opinião, este é um problema cultural. É normal seguir os exemplos dos outros, principalmente dos que estão acima de nós. Mas o que dizer ou fazer, quando num país se sabe que o Estado é o primeiro incumpridor nesta matéria? De facto, não nos deixa muita vontade de sermos nós a dar o exemplo. Até mesmo porque vivemos numa sociedade que não penaliza os incumpridores e quando o faz é tardiamente. Não é de estranhar por isso que as pessoas não se sintam intimidadas por um sistema judicial que sabem que é moroso. Verdade seja dita, é difícil acreditar na justiça num país onde os processos se avolumam nos tribunais e onde os protagonistas pelos chamados casos de corrupção, tão noticiados pela comunicação social, quase sempre saem impunes dos processos onde estão envolvidos.
Outra questão é o endividamento das famílias, tão falado nos últimos tempos. Como é que é possível que existam cada vez mais as empresas de crédito em Portugal? Basta telefonar e já está. É na hora. E assim se caminha para se ter o que não se pode, numa sociedade cada vez mais consumista. E como os bancos não querem ficar atrás, o apelo ao crédito ao consumo é cada vez maior. O problema é que depois da alegria pela compra do bem, vem normalmente a aflição quando cai a prestação, da casa, do carro, da mobília, e de tantas outras coisas. Tudo para no final chegar à conclusão que não há ordenado que pague tanta prestação.
Mas nem tudo é mau. Em Portugal, também há empresas cumpridoras. É pena que as boas práticas dos empresários não sejam notícia na comunicação social. Em relação aos particulares, isso terá que partir da consciência de cada um ..........
célia gato, n.º 4480
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1 comentário:
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