Notícia extraída de www.apm.org.br (Janeiro de 2006)
Cremesp decide a suspensão cautelar de Bruno Molinari
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo decidiu-se, em sessão plenária extraordinária dia 2 de dezembro, pela suspensão cautelar do exercício profissional do médico Bruno Molinari, em caráter provisório até ulterior deliberação. A justificativa para a decisão baseia-se no forte indício de violação do Código de Ética e no risco para a sociedade.
O médico Bruno Molinari foi preso em flagrante dia 1º de dezembro, em sua clínica de estética na zona sul, sob acusação de estelionato e falsidade ideológica. Segundo a polícia, ele usava medicamentos fornecidos pela rede pública de saúde em tratamentos privados. O crime é inafiançável.Molinari também é investigado pela polícia por causa da morte da advogada e professora Silvana Maria Turine Augusto, 37. No último dia 16, a paciente se submeteu a uma hidrolipoaspiração na clínica de Molinari e morreu de parada cardiorrespiratória depois de sofrer seis crises convulsivas.
COMENTÁRIO:
Esta notícia pareceu-me bastante interessante pois revela, desde logo, para onde é por vezes canalizado o dinheiro dos contribuintes. Evidentemente que este médico ao servir-se de medicamentos fornecidos pela rede pública, está no fundo a roubar os contribuintes que pagam os seus impostos, pois é sobretudo através das receitas fiscais que os governos se financiam. No meu ponto de vista é tão ladrão quem assalta por exemplo um banco, como quem usa o dinheiro dos contribuintes em prol do seu próprio benefício.
Evidentemente que este médico está não só a violar o Código de ética da sua profissão, mas também a denegri-la. Penso que é desprestigiante para qualquer ordem de profissionais ter um membro com este tipo de conduta.
O código deontológico dos médicos visa promover a qualidade dos serviços de saúde prestados aos cidadãos e reforçar o prestígio e a dignidade dos médicos, bem como contribuir para a criação das condições objectivas e subjectivas que, no âmbito da medicina, garantam os direitos e garantias dos cidadãos. Comportamentos deste tipo não são nada abonatórios para a profissão.
A segunda parte da notícia refere a morte de uma pessoa (também na clínica deste médico), quando esta se submeteu a uma intervenção cirúrgica e, curiosamente ou não, estes dois acontecimentos ocorreram quase na mesma altura. Ainda não está apurada a culpa do doutor Molinari na morte dessa advogada, no entanto uma morte nestas circunstâncias tem sempre de ser considerada grave, pois quando alguém se submete a uma operação estética, procura normalmente melhorar o seu aspecto e não procura a morte.
No entanto recordo-me de uma frase que uma vez ouvi a um cirurgião: ele disse que quem se submete a uma operação, seja ela qual for corre sempre risco de vida, por mais simples que a cirurgia seja. Obviamente que com isto não quero dizer que todas as operações cirúrgicas tenham o mesmo risco, nem estou a querer ilibar o doutor Molinari, estou apenas a referir que as pessoas que se submetem a este tipo de cirurgias devem ter noção do risco que correm.
Quantas pessoas já perderam a vida desta forma?
Quantas pessoas já ficaram com sequelas físicas irreparáveis por se terem submetido a cirurgias estéticas?
Este tema continua a ser muito controverso, nomeadamente porque por norma quem se submete a uma cirurgia é porque tem um problema qualquer de ordem física que só se pode resolver através de uma operação (operação ao fígado, ao estômago, ao apêndice, à vesícula, etc.). Quem se submete a uma cirurgia estética só o faz por opção e não por necessidade. Quanto muito pode dizer-se que se recorre a uma operação deste tipo por necessidade de melhorar o seu aspecto.
Não sou contra a medicina estética, apenas penso é que muitos médicos desta área não informam devidamente os seus clientes sobre as possíveis consequências de uma cirurgia deste tipo, e ao agirem deste modo estão obviamente a infringir o seu Código deontológico.
Sabemos que estamos na era do culto da beleza e a cirurgia estética é para muita gente o principal veículo para a tentar atingir, o que muitas vezes acontece é que as pessoas de uma forma cega procuram alcançá-la sem medirem as consequências, e no meu ponto de vista o papel de um cirurgião deve passar também por alertar as pessoas para os perigos deste tipo de operações. Por vezes o desejo do lucro a qualquer custo faz alguns destes médicos negligenciarem os seus comportamentos, enveredando por atitudes que nada têm a ver com o Código de ética da sua profissão.
As adolescentes são das pessoas que mais se preocupam com o seu aspecto e que, talvez devido à ingenuidade e ao ímpeto que é próprio das suas idades, mais recorrem à cirurgia estética, muitas vezes sem terem a menor noção das consequências que daí podem advir. Se atentarmos no que se passa no Brasil verificamos que uma percentagem enorme de jovens com menos de dezoito anos já se submeteu a uma cirurgia deste tipo e algumas delas a mais do que uma.
Por vezes os médicos aproveitam-se da ingenuidade e da fixação destas jovens pelo aspecto estético e em vez de as informarem sobre as vantagens e os inconvenientes deste tipo de cirurgias, ainda potenciam a sua vontade de se submeterem à operação. Os cirurgiões que agem desta maneira não só estão a violar o seu Código deontológico como também estão a envergonhar a sua classe profissional.
Pode-se questionar o porquê de os pais destas jovens consentirem que elas enveredem por esse caminho, no entanto todos sabemos o quanto é difícil demover uma jovem desta idade do que quer que seja, ainda por cima quando existe alguém no grupo de amigos que já fez a cirurgia e até correu bem. A chantagem é não raras as vezes utilizada pelos adolescentes para conseguirem o que querem dos pais.
Existe quem defenda de tal forma a cirurgia estética que até acham que deveria ser realizada nos hospitais e comparticipada pelo serviço nacional de saúde, a minha opinião não é esta, pois acredito que existem outras prioridades para o Estado aplicar os dinheiros públicos, no entanto defendo que se este tipo de medicina visar por exemplo a reconstrução estética já deve ser comparticipada pelos governos.
A título de exemplo pode-se referir situações de acidentes que deixem marcas no rosto de quem os sofreu, acredito que em casos deste tipo a cirurgia estética não só é útil, como é essencial.
É essencial que todos os profissionais respeitem os seus Códigos deontológicos, mas quando se trata de médicos cujo objecto de trabalho é a vida das pessoas, o cumprimento do Código de ética não só é essencial, como muitas vezes pode ser a diferença entre a vida e a morte. Esta notícia evidencia bem o que acabei de referir.
António Ferreira, Nº4455
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6 comentários:
A violação dos deveres éticos e profissionais continua a ser o "pão nosso de cada dia", por parte de quem até fez um juramento de salvar vidas e de as respeitar. Esta desresponsabilização tem vindo a crescer nas sociedades actuais. A antiga "palavra de honra" já não é suficiente nos nossos dias e expressões como acordo de cavalheiros acabaram no mesmo século em que os mesmos deixaram de existir.
Se tentarmos analisar a actualmente chamada deontologia profissional e, por que não dize-lo pessoal, ao longo dos séculos chegamos a um curioso paradigma: a honra pessoal e profissional foi caindo em descrédito e foi posteriormente necessário substituí-la por uma não menos interessante deontologia pessoal e profissional.
A sociedade actual aparece com uma tão grande variedade de "ideais" que é necessário criar uma legislação (códigos de ética ou códigos deontológicos)profissional para que todos os profissionais de um determinado sector falem a mesma "linguagem".
Por incrivel que pareça nem mesmo assim se consegue que todos partilhem uma "responsabilidade profissional e pessoal".
Numa análise meramente pessoal posso dizer que "isto de ter consciência" até dá um grande trabalho, no entanto esperamos sempre mais de quem já tem um juramento ou um código deontológico que é obrigado a seguir.
Nos dias actuais ficamos sempre chocados com violações deontológicas dos profissionais da area da medicina. Esperamos sempre que, principalmente a classe médica, seja o nosso confessor e como uns autênticos super-homens jamais errem, mas a natureza humana é inerente a todas as classes e como ja foi repetidamente repetido o "erro é humano". Não que isto possa servir de desculpa, mas deveria-mos tirar do pedestral determinadas profissões ou melhor profissionais de uma determinada area.
A violação do dever ético por parte de quem se proclama defensor da vida ou mesmo dos "bons costumes" é-nos sempre mais dura. Quando um médico é acusado de violar uma paciente, de roubar, de se servir do seu prestigio em uso pessoal ou qualquer outra coisa que vá contra o bom nome da sua classe e "status" consegue fazer-nos acreditar no mau da humanidade. Faz-nos comparar com o padre que viola a confidencialidade e/ou a santidade da confissão. Qualquer um destes casos merece-nos desconfiança porque trairam os seus votos, o seu código.
Quando conseguirmos olhar para todos os códigos deontológicos que existem e termos esses mesmos sentimentos quando os profissionais respectivos os violarem, talvez consigamos uma sociedade, dita mais desenvolvida e respeitadora, onde todos sabem o que esperar de uma determinada classe que segue um determinado codigo deontologico.
Estamos perante mais um caso em que o que seria eticamente incorrecto mas monetariamente viavel, não funcionou... só que este caso tem uma agravante... é no ramo da saúde! é inconcebivel... numa altura em que o pais vai a votos por causa da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, depararmo-nos com noticias deste cariz chega a ser assustador. Em relação ao uso de medicamentos fornecidos pela rede pública de saúde em tratamentos privados, faz-nos pensar se voltamos ao tempo de Don Vito Corleone (O Padrinho), em que as coisas se conseguiam quase todas de uma maneira demasiado fácil, sem olhar a meios... Sempre se questionou muito se deveriam haver clinicas privadas ou se se devia acabar com elas. Na minha opinião é obvio que se devia acabar com elas, porque se ha algo que deve chegar a todos e de igual modo é o serviço de saude. Mas quando nos deparamos com noticias deste tipo, ai então torna-se inquestionavel que tal serviço de saude privado deveria deixar de existir, pois se ja é eticamente incorrecto a existencia desse mesmo serviço, quando há abusos então da parte dos profissionais deste tipo de serviço, assim como o uso destes medicamentos fornecidos pela rede publica, acho que não ha duvidas que é altura de se por mão nisto e acabar-se com este tipo de serviço de saude, e consequentemente com os respectivos abusos. Em relação a paciente se submeteu a uma hidrolipoaspiração na clínica de Molinari e morreu de parada cardiorrespiratória depois de sofrer seis crises convulsivas, pode-se dizer, com toda a certeza que esta é uma das consequencias da recorrencia a esse tipo de serviço de saude privado. Esta noticia toda so prova que este tipo de serviço não é apenas eticamente incorrecto, mas chega a roçar o eticamente inadmissivel! Estamos no ano 2007, em que devia já haver uma consciencialização global de responsabilidade profissional e pessoal, deontologia profissional... mas há casos, assim como este, bastante delicado ainda por cima, em que parece que não ha evolução da mente humana, mas sim regressão dessa mesma.63
Como ja comentei noutra noticia, este é um dos casos que foi descoberto e ainda se pode por mão no assunto e punir os (ir)responsáveis, o que eu espero que sejam devidamente feito, mas infelizmente tudo aponta para que existam muitos, mas mesmo muitos mais casos destes que passam impunes. O problema? certamente não é das pessoas que investigam este tipo de casos e não têm sucesso. O problema reside sim na mente das pessoas, dai eu ter dito anteriormente, que a real solução para este tipo de casos é uma consiencialiçao global, que se espera que venha a acontecer...
Daniel Janeiro, nº 4400
Comentário:
É inadmissível que estas coisas aconteçam no século XXI.
Embora para os médicos, a medicina seja um compromisso de meios, para o paciente e para a Sociedade ela é vista como uma cruel expectativa de resultados. O doente vai ao médico à procura de resultados, e quase sempre espera resultados imediatos, mostra-se ansioso, com a sua vida em jogo e não transige na exigência de resultados substantivos e positivos.
Isto acaba por tornar o erro médico quase como que proibidos, os resultados são quase sempre visíveis a olho nu e a curto prazo. A verdade é que o resultado adverso em medicina pode ser sinónimo de morte, e por isso, torna este serviço prestado muito diferente de outros serviços da nossa Sociedade.
Enquanto que outros serviços malfeitos apenas representam percas financeiras ou materiais, nestes casos dos erros médicos geram sofrimento imediato, perca de órgãos, ou de funções, ou até mesmo a morte de entes queridos.
Há que apurar quem foi o responsável, quando nos acontecem diariamente estas situações, há que afastar a ideia que os médicos não são simples prestadores de serviços, com relações distantes dos doentes e afastar a ideia do papel social tradicional que estes técnicos têm, afastar a ideia de uma visão economicista de rentabilização de recursos, e têm de arcar com toda a responsabilidade dos maus serviços prestados na área da saúde.
Espero que este caso vá parar à barra dos tribunal com a máxima brevidade possível e espero que os culpados sejam punidos exemplarmente para que sirva de exemplo aos outros médicos para que estejam atentos e que o processo não fique arquivado.
Dadas estas circunstâncias, a actividade dos profissionais de saúde estão em pressão constante, o erro médico, a negligência médica, crimes cometidos no exercício da actividade médica, sempre foram uma questão complexa, seja no plano da ética, seja na esfera da própria justiça civil ou criminal.
Sendo esta actividade essencial para a vida humana, a exigência de apuramento de responsabilidades nos erros médicos têm de ser feita, sempre.
Os médicos de acordo com o artigo 6.º do Código Dentológico dos Médicos, devem exercer a sua profissão com o maior respeito pelo direito à Saúde dos doentes e da comunidade, e aqui qual o respeito que houve por estas duas pacientes, que apenas se submeteram a uma simples hidrolipoaspiração. O médico não deve considerar o exercício da Medicina como uma actividade orientada para fins lucrativos, sem prejuízo do seu direito a uma justa remuneração, devendo a profissão ser fundamentalmente exercida em beneficio dos doentes e da comunidade.
A Ordem dos Médicos tem competência disciplinar sobre todos os médicos nela inscritos. Se a Ordem dos Médicos decidir suspender ou expulsar o clínico, este deixa de poder praticar medicina. A Ordem retira a célula do médico e comunica às entidades oficiais a sanção aplicada, para que haja um cumprimento da mesma, acho que está na altura de averiguar quem foi o responsável por estas mortes, e suspender a actividade deste profissional.
Há que ter cuidado, já que a nossa vida depende da actividade prestada por estes técnicos, para uma simples operação não deveria por em risco a vida destas mulheres que apenas sentir-se melhor consigo próprias. Seja qual for o tipo de operação, quer simples quer complicada, há que ter os cuidados necessários, lá por ser uma operação simples, como neste caso, isso não quer dizer, que não haja cuidados, e que o doente pode vir a correr sérios riscos de vida.
Entregamos a nossa vida nas mãos de técnicos que fazem asneiras, e que por muito que façam não são punidos, e continuam a exercer a sua profissão.
Mais do que nunca se torna necessária uma reflexão sobre estas questões verdadeiramente éticas suscitadas pela vida e que são os reais alicerces dos códigos morais e de conduta.
Uma operação que pensamos que é simples acaba em morte de um ser humano indefeso, por falta de responsabilidade de todos os profissionais de saúde envolvidos, Onde está a ética profissional deste técnico?
O que fazer numa situação destas?
É inacreditável nos dias de hoje ainda assistir a noticias como estas.
Como é possível acontecer situações destas em todos os países em que o sistema de saúde se encontra corrompido por médicos violadores do Código de Ética Deontológico?
Como é possível um médico que se prestou a um juramento utilizar situações destas para aproveitamento próprio?
Infelizmente essa é a realidade mundial dos nossos dias.
É inconcebível e chocante acontecer atropelamentos aos códigos de ética como também aos códigos deontológicos numa área tão delicada como a área da medicina. Esta é uma área que trata e salva vidas humanas e como tal tais atropelamentos não deviam de existir e devia de se ter um maior respeito por todo esse mundo envolvente. Numa área tão delicada como já referi anteriormente todos devem falar a mesma linguagem para que todos se possam entender.
Este médico “passou por cima” de todos os códigos éticos e deontológicos como também de todos os contribuintes que pagam os seus impostos ao utilizar medicamentos que eram destinados à função pública em tratamentos privados. Onde está a consciência deste médico?
Já para não falar que este mesmo médico esta sobre investigação pela morte de uma mulher que se submeteu a uma cirurgia plástica na sua clínica e acabou por sucumbir por paragem cardio-respiratória.
Onde estão os códigos de ética deste médico? Este médico não pode desrespeitar tudo e todos que até aqui tentam manter limpo o nome da medicina e cometer crimes como estes. Sim, crimes, porque o que este médico esta ou estava a fazer até ter sido preso são crimes como outro tipo de crime qualquer.
Todos os dias ouvimos falar em negligência médica e sabemos que existe em todo o lado, não só no nosso país. A questão que se põe é o que podemos ou devemos fazer para evitar que situações como esta aconteçam.
Os códigos de ética como qualquer outro tipo de código existem para se respeitar e não para ser quebrado. O que este médico acabou de fazer foi exactamente denegrir um pouco mais o bom-nome da medicina.
Uma questão que é importante referir é que esta situação ocorreu na medicina estética. Quantos outros casos idênticos aconteceram? Quantos mais irão acontecer? Será esta medicina viável?
Creio que em desrespeito aos códigos éticos e deontológicos toda a medicina esta em alto risco, pois se situações destas acontecem por uma simples perda de peso ou por se querer tirar umas rugas faciais, então não quero pensar como será se tiver uma doença grave…
Por isso o que proponho e aconselho, como cidadão, é que devemos denunciar estas situações ás autoridades competentes para que este tipo de crime não volte a acontecer, pois como já disse anteriormente, numa área tão delicada como a da medicina, vidas estão em risco. Os médicos prestam um juramento em que tem como base a preservação da vida humana, e não o que aconteceu. Uma vida perdeu-se devido a negligência de um médico. Situações destas não podem voltar a acontecer. Temos o direito e também o dever de não deixar passar em claro situações destas. Todos sabemos que com uma vida não se brinca, e os códigos de ética e os códigos deontológicos dos médicos servem para isso mesmo, para que nenhuma vida “se perca em vão”.
Tiago Palma Nº 4356
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