Maria Assunção sofre de esclerose lateral amiotrófica. É uma doença neurológica degenerativa e que conduz à morte, normalmente por falha respiratória. Ela não quer ser ligada a um ventilador
"A minha mulher merece morrer com dignidade e isso significa respeitar o que ela entende que deve ser feito." Quem assim fala é Diogo Martins. Fala de Maria Assunção, uma ex-professora de 57 anos, a quem diagnosticaram uma doença rara e fatal há dois anos: esclerose lateral amiotrófica. É uma doença neurológica degenerativa e que conduz à morte, geralmente por falha respiratória. Maria Assunção não quer ser ligada a um ventilador. Morrerá em casa e sem tratamentos agressivos."Se estivesse num hospital era ligada a um ventilador e ninguém lhe daria atenção. Aqui tem calor humano. Pode ser mais doloroso para nós, ela perde capacidades de dia para dia, mas é menos doloroso para ela. E a vontade do doente deve ser respeitada", explica o marido.Os primeiros sintomas da doença de Assunção começaram aos 53 anos, quando deixou de ter força no braço esquerdo, mas a doença só lhe foi diagnosticada dois anos depois, aos 55, idade a partir da qual surge na maioria dos outros doentes. Soube que era a mesma doença que vitimou Zeca Afonso e que teria apenas três anos de vida. Entrou em pânico. Esteve internada no Hospital Júlio de Matos.·Elisabete Peralta, psicóloga do Júlio de Matos, deu-lhe os instrumentos necessários para ultrapassar a situação. Indicou-lhe também a médica Ana Bernardo, da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, a voluntária que a assiste em casa. Maria Assunção não perdeu as capacidades intelectuais, ou seja, a capacidade de sofrimento.Gastou dias na Internet a informar-se sobre a doença, agarrou-se aos livros. Quando deixou de mexer os dedos pôs um colarinho no pescoço, o livro num suporte e tinha uma mão amiga para lhe virar as páginas. Deixou de mastigar. Colocaram-lhe uma PEG, uma sonda ligada ao estômago, para se alimentar. É o máximo que Maria Assunção permite. Às vezes, já não suporta o esforço para se deslocar às visitas médicas de rotina. A família respeita tudo o que ela diz, ou o que consegue perceber que diz. Assunção não fala e a comunicação dá-se através das pálpebras, um linguagem mais perceptível pela filha Cláudia. Quando fecha os olhos quer dizer "sim". Outras vezes, tenta-se construir palavras percorrendo o alfabeto. Mais uma vez, a professora cerra as pálpebras para indicar a letra certa.A família respeita tanto as decisões diárias - por exemplo, se não quer receber uma visita ou tirar fotografias para o jornal - como as que manifestou quando percebeu que a doença não tinha bilhete de regresso. Escreveu que quer ser cremada e doar os órgãos, para transplante ou estudo. Não quer morrer num hospital.·Domingos Martins já estava reformado quando a mulher adoeceu, era empregado bancário. Agora está no sector imobiliário. Paga a três empregadas, uma para dar banho à mulher e duas para os turnos diários, porque Assunção não fica na cama. Transportam-na numa cadeira de rodas para o sofá na sala, onde se acende a televisão.·A família tem possibilidades económicas e organizou-se para manter Assunção em casa. Ela não está sujeita à decisão de uma equipa de médicos, o que poderia levar ao prolongamento do seu sofrimento. Mas, se vivesse em Espanha ou em França, por exemplo, poderia fazer um testamento e garantia que a sua vontade era cumprida.O Governo espanhol legislou em 2002 sobre os testamentos vitais. Segundo disse ao DN a associação espanhola Direito a Morrer Dignamente, dez mil pessoas assinaram este tipo de documento, que impõe limites nas terapêuticas e a prestação de cuidados paliativos.
Fonte: Diário de Noticias, 8 de Janeiro de 2007
Comentário:
Na minha opinião todos os doentes deviam poder morrer com dignidade, consoante o que é para eles morrer com dignidade. Como é o caso de Maria Assunção, uma ex-professora de 57 anos de idade, padece de uma grave doença e que a levará mais cedo ou mais tarde ao encontro da morte, Maria tem uma doença neurológica degenerativa. O mais comum neste tipo de doentes é virem a falecer por falha respiratória.
Maria está consciente da sua sina e quer morrer com dignidade. Ela recusa-se a receber tratamentos médicos, por exemplo estar internada numa cama de um hospital ligada a um ventilador de forma a retardar as consequências da doença, ou a fazer com que estas não sejam tão dolorosas para o paciente.
A doente considera que se estivesse num hospital seria deixada “ao abandono” pois não teria a atenção de que necessitava, nem o carinho das pessoas que de verdade gostam dela.
A ex-professora está numa situação em que já nem consegue alimentar-se e por esse motivo os médicos viram-se obrigados a colocar-lhe uma PEG, é a única coisa que Maria permitiu que os médicos lhe fizessem.
Segundo o que me é dado a entender com esta notícia, a doente prefere falecer em casa e sem cuidados médicos, isto porque por muitos cuidados que se possam ter num hospital há sempre falta do mais importante, carinho.
Os médicos nem sempre transmitem isso aos doentes, muitos deles em olham para os utentes quando estes estão a ser examinados e é quando se está doente o que mais se precisa é de atenção, pois está-se mais vulnerável.
Maria não quer que os médicos prologuem o seu sofrimento, prefere deixar-se ir consumindo pela doença, no meu ponto de vista ela tem todo o direito a tomar essa decisão.
No entanto o papel do médico é tentar recorrer a todos os métodos possíveis de forma zelar pela boa saúde dos seus utentes, salvar-lhe a vida quando é necessário, ou neste caso tentar prolongar-lhe o seu tempo de vida da melhor forma possível.
Á uma pergunta que me surge, será que se nosso pais a eutanásia fosse permitida o sofrimento de muitos seria minimizado? Muitas são as pessoas que pensam que essa seria a melhor solução para acabar com o sofrimento dos doentes e consequentemente dos seus familiares mais próximo. O que é certo é que um médico, de acordo com a lei portuguesa e com o seu código deontológico não pode realizar um acto desta natureza.
Podendo-se assim dizer que encanto há VIDA há ESPERANÇA.
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1 comentário:
Comentário:
A decisão que qualquer doente tome em ralação ao seu estado de saúde, desde que esteja de perfeita consciência deve ser respeitada. Neste caso, se a decisão de Maria Assunção passa por passar os últimos dias de vida em casa, deve acatar-se a decisão. Esta padece de uma doença neurológica degenerativa e que conduz à morte, normalmente por falha respiratória, esclerose lateral amiotrófica. Quer morrer em casa, junto das pessoas que lhe são queridas, vontade que deve ser venerada e foi, pela família. Sub entende-se, que num hospital, com tratamentos clínicos estaria mais protegida, sob observação e tratada com os cuidados necessários. Mas como o marido da paciente refere, o mais provável seria padecer numa cama, de forma solitária, sem que ninguém lhe desse a devida atenção. Segundo o código deontológicos dos médicos, estes obrigam-se à prestação dos melhores cuidados ao seu alcance, agindo com correcção e delicadeza, no exclusivo intuito de promover ou restituir a Saúde, suavizar os sofrimentos e prolongar a vida, no pleno respeito pela dignidade do Ser humano. Mas todos nós sabemos que nem sempre isto acontece, e que por vezes os médicos nem conhecem as caras dos pacientes que têm a seu cargo, acabando muitas vezes por quase esquece-los dias a fio numa cama de hospital. No entanto o papel do médico é tentar recorrer a todos os métodos possíveis de forma zelar pela boa saúde dos seus utentes, salvar-lhe a vida quando é necessário, ou neste caso tentar prolongar-lhe o seu tempo de vida da melhor forma possível. A família aceitou e decisão de Maria Assunção no que diz respeito a mantê-la em casa até ao fim dos seus dias, tendo os médicos, como profissionais, cumpridores da deontologia e sem nada poder fazer em contrario, que respeitar e acatar também essa decisão, devendo guardar respeito pela vida humana desde o seu início. A doente quer sofrer em casa ate ao fim, não quer ser ligada a um ventilador, de forma a diminuir a sua “dor”. Ela entende que a sua casa será o local onde nunca lhe irá faltar a atenção necessária, bem como o respeito, carinho e amor a que esta tem direito mesmo estando condenada, a cada dia que passa, perder as suas capacidades.
Ainda sem certezas absolutas e sem grandes entendimentos, “acho” que sou a favor da eutanásia. Esta pode ser entendida como um acto voluntário de uma pessoa que sofrendo de uma grave doença e não vendo dignidade nem sentido para a sua vida, decide pedir a alguém que a mate. As situações mais referidas reportam-se a pacientes que estão totalmente dependentes nas suas funções mais elementares, sofrem de grandes dores ou têm a perspectiva uma morte muito dolorosa.
Sou a favor da diminuição da dor às pessoas que infelizmente no seu caminho, se depararam com uma doença mortal, ou com um diagnóstico que os reporta para pacientes que estão totalmente dependentes nas suas funções mais elementares, e que sofrem de grandes dores ou têm a perspectiva de uma morte muito dolorosa. Esta é a única forma de preservar a dignidade do ser humano quando só lhe resta o sofrimento e a dependência extrema. Manter a vida em condições artificiais é prolongar o sofrimento e a agonia dos doentes, condenando-os a uma sub-vida. Se possível, deverá caber ao doente, a difícil decisão.
Mas em Portugal, constituem falta deontológica grave para os médicos, a prática da eutanásia.
E embora “achando” que sou a favor desta prática, dou por mim a pensar, se um caso como este surgisse na minha vida, continuaria a pensar da mesma forma!!?
Talvez sim, mas talvez não! Porque o direito à vida é um direito que adquirimos desde o dia em que nascemos. A nossa vida passa por nascer, viver e um dia morrer. Mas se for de uma morte natural, estamos a respeitar a vida e sobretudo o ser humano.
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