Nos últimos anos tem começado a surgir nas escolas portuguesas a abordagem ao tema da ética empresarial. Pessoalmente, considero ser absolutamente necessária esta abordagem da ética na Universidade e dedico, todos os anos, uma a duas aulas sobre este tema.
No entanto, esta posição não é unânime e ainda esta semana um colega me dizia que "ele nunca tinha tido ensino de ética na Universidade, mas tinha aprendido a ética em família" e foi mais longe dizendo que, por exemplo, "era incapaz de roubar, não pela penalização, mas porque isso, desde a sua infância, violentava completamente os seus valores".
Embora compreenda esta posição não estou de acordo com ela, porque a sociedade mudou, muitas famílias estão destruturadas, outras vezes os pais não cumprem o seu papel e os sinais, recebidos pelos jovens, de permissão de condutas reprováveis são cada vez mais em maior número nomeadamente nas escolas e sobretudo nos media.
Os (bons) sinais encontram dificuldade em serem reconhecidos pelos jovens no meio do "ruído" da informação com que são bombardeados e poderão não ser acompanhados pela força necessária para que os mesmos sejam imbuídos no seu "código genético social".
Numa das aulas dedicada a este tema na cadeira de "Negociação comercial", termino uma apresentação de slides com a frase "os compromissos negociados devem ser sempre cumpridos... só tenho direito a não cumprir o negociado, após o acordo da outra parte". Ao serem questionados sobre a sua concordância relativamente a esta frase, existe unanimidade.
Para testar a verdadeira concordância, pergunto aos alunos se, ao terminarem a licenciatura e depois de terem aceite um compromisso com uma PME fora de Lisboa, recebessem um aliciante convite de uma grande empresa, o que decidiam fazer?
A verdade é que a unanimidade desaparece e as opiniões são diversas. Esta falta de consenso resulta do entendimento da ética mudar, quando vista em abstracto ou a "nosso favor" onde é de fácil aceitação, enquanto ser ético não é fácil, quando vai contra os nossos interesses imediatos.
A ética deve servir sobretudo para pautar os nossos comportamentos nos momentos difíceis. Aproveito, por isso, o exemplo anterior para mostrar as implicações de eventuais comportamentos não éticos sobre o próprio aluno e sobretudo sobre a instituição que representam.
A verdade é que as questões sobre a fronteira da ética nem sempre são pacíficas.
Para os jovens futuros profissionais, a prática empresarial é também um sinal importante para os seus futuros comportamentos profissionais, já que eles tenderão a seguir a prática ética instalada e a conformar-se com a mesma.
A propósito, aproveito para expressar a minha opinião sobre um exemplo de prática de "marketing" que, em meu entender, coloca questões éticas. Neste momento, está a passar na televisão uma campanha da TV Cabo com, entre outras, a seguinte mensagem: "Pai, só 4 canais não dá. Vou bazar, tchau". Ou seja, para aumentar as vendas da TV Cabo, é ético passar a mensagem que não haver TV Cabo em casa é um motivo válido para a mulher e para o filho deixarem a casa?
Sei que, em publicidade, é normal utilizarem-se figuras de estilos e hipervalorizações, mas neste caso, e para os meus padrões de ética, foi-se longe demais, em termos de deturpação de valores de família, com um campanha que se dirige também a jovens e crianças com menor capacidade de relativização.
Acredito que a campanha funcione, mas considero que não vale tudo!
Fonte:
Pedro Dionísio
Jornal de Negócios
Publicado 19 Dezembro 2006
Comentário:
A Ética é hoje em dia essencial para a construção de um negócio sólido, pois quem não a tem consegue enganar muita gente mas não consegue “servir” a sociedade.
Há cada vez mais sinais de que a consideração das questões éticas começa a deixar de ser vista dentro das empresas europeias como algo estranho ou mesmo perigoso. Não só se vai tornando normal o desejo de pensar em termos éticos como um crescente número da sociedade, descobre que o que se está a tornar realmente perigoso é não pensar e reflectir acerca destes temas.
No que diz respeito ao mundo académico, a maioria das escolas tem hoje vários docentes interessados em ética empresarial. E ainda que só alguns cursos tenham disciplinas obrigatórias, há já muitas cadeiras optativas na área de ética.
Ser ético no comportamento de gestor significa: dar a informação importante, avaliar e fornecer feedback, abrir espaço à contribuição criativa, institucionalizar canais de comunicação, delegar, delegar e delegar (pois além de instrumento eficaz de gestão, implica dignificação do homem, pelo poder decisório), comemorar o sucesso e recompensar.
Podemos então perguntar-nos se é correcto ligar o sucesso ou fracasso de uma organização ao seu comportamento ético? Tenho alguma convicção de que sim! Ser ético, hoje, não é mais uma opção. Para pessoas e organizações, é uma questão de sobrevivência. Hoje não se pode avaliar uma empresa com os padrões atingíveis de ontem, pois referenciais intocáveis, como marca, imagem e prestígio, decidem a preferência e garantem uma continuidade.
A ética ganha assim respeito como forte diferencial de qualidade e conceito público, mas será que já se formou a consciência ética na chefia das organizações? Algumas questões precisam de ser ainda devidamente equacionadas para um melhor entendimento sobre a eficácia da ética nos negócios e nas escolas.
No meu entender, o discurso ético e a prática das organizações fazem lembrar o ditado popular: de boas intenções está o inferno cheio.
No entanto, estamos a viver um momento importante no que diz respeito ao renascimento moral, no esboçar de uma nova consciencialização. Nesse sentido, as boas intenções são então válidas como início de um novo processo.
A consciencialização tem esse preço: provoca desconforto no que diz respeito às situações negativas actuais. É imprescindível, todavia, que existam alternativas concretas, atitudes e comportamentos que denotem mudanças significativas.
O homem não sobrevive sozinho. Sem uma equipa, sem o outro, torna-se então uma utopia social, fácil de manipular e excluído.
É sendo éticos de uma forma solidária que nos mantemos a nós e ao grupo, de uma forma geral, indestrutíveis. Não existe vida social verdadeira sem que haja fundamentos éticos.
A ética pressupõe então: Liberdade, Dignidade/Responsabilidade, Igualdade de Oportunidades, Direitos Humanos.
Ser competente obriga-nos e sermos éticos. Significa que não devemos ser individualistas, concedendo ênfase aos seus subprodutos: o egocentrismo e o corporativismo. Não devemos ser autoritários.
Ética, é assim, sinónimo de vida! Sem princípios éticos é inviável a organização social. Ética Empresarial é a alma do negócio. È o que garante o conceito púbico e a eternidade.
Mas para se ser ético temos que seguir, nós e as organizações, um conjunto de códigos de ética que visam: Melhorar a imagem do negócio e agrupar valores e criar laços de aceitação e colaboração mútua entre os empregados.
O código de ética de uma instituição, seja ela qual for, teoricamente só pode ser vantajoso para os seus vários públicos com os quais interage, uma vez que fortalece a imagem da organização.A adopção de um código de ética é uma óptima oportunidade de aumentar a integração entre os funcionários da empresa e estimular a responsabilidade entre eles. Além disso, o código de ética permite a uniformização de critérios na empresa, dando prioridade àqueles que devem tomar decisões. Serve de parâmetro para a solução dos conflitos. Protege, de um lado, o trabalhador que se apoia na cultura da empresa reflectida nas disposições do código e de outro, serve de preferência para a empresa, por ocorrência da solução de problemas de desvio de conduta de algum colaborador, accionista, fornecedor, ou outros.O código de ética costuma trazer para a empresa harmonia, ordem transparência, tranquilidade, sobre os referenciais que cria, deixando um fundamento resultante do cumprimento da sua missão e dos seus compromissos.É imprescindível que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Caso contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa pretende transmitir ao seu público. Esta é a grande desvantagem do código de ética.Há, ainda, aqueles que, considerando que a consciência ética dos integrantes de uma organização, desde os mais altos cargos executivos até ao mais simples funcionário, é um património do indivíduo, defendem a desnecessidade de se implantar códigos de ética, já que a actuação de cada um será propicia a um ambiente ético.Com efeito, a conduta ética das empresas é o reflexo da conduta dos seus profissionais. Tal conduta não se limita ao mero cumprimento da legislação, sendo o resultado da soma dos princípios morais de cada um de seus componentes. Assim como a educação, a ética vem do berço. A conduta ética, que se espera das empresas vai muito além do simples cumprimento da lei, mesmo porque, pode haver leis que sejam anti éticas ou imorais. Importa que os homens de negócios sejam bem formados, que os profissionais sejam treinados, pois o miolo da questão está na formação pessoal. Caso contrário, a implantação do código de ética será inofensiva.
Concluo então que a Ética Empresarial não é um assunto para as horas vagas, é filosofia e prática de empresa e que a educação ética é uma condição imprescindível ao processo de renovação e de continuidade de uma civilização, de uma sociedade.
No entanto, esta posição não é unânime e ainda esta semana um colega me dizia que "ele nunca tinha tido ensino de ética na Universidade, mas tinha aprendido a ética em família" e foi mais longe dizendo que, por exemplo, "era incapaz de roubar, não pela penalização, mas porque isso, desde a sua infância, violentava completamente os seus valores".
Embora compreenda esta posição não estou de acordo com ela, porque a sociedade mudou, muitas famílias estão destruturadas, outras vezes os pais não cumprem o seu papel e os sinais, recebidos pelos jovens, de permissão de condutas reprováveis são cada vez mais em maior número nomeadamente nas escolas e sobretudo nos media.
Os (bons) sinais encontram dificuldade em serem reconhecidos pelos jovens no meio do "ruído" da informação com que são bombardeados e poderão não ser acompanhados pela força necessária para que os mesmos sejam imbuídos no seu "código genético social".
Numa das aulas dedicada a este tema na cadeira de "Negociação comercial", termino uma apresentação de slides com a frase "os compromissos negociados devem ser sempre cumpridos... só tenho direito a não cumprir o negociado, após o acordo da outra parte". Ao serem questionados sobre a sua concordância relativamente a esta frase, existe unanimidade.
Para testar a verdadeira concordância, pergunto aos alunos se, ao terminarem a licenciatura e depois de terem aceite um compromisso com uma PME fora de Lisboa, recebessem um aliciante convite de uma grande empresa, o que decidiam fazer?
A verdade é que a unanimidade desaparece e as opiniões são diversas. Esta falta de consenso resulta do entendimento da ética mudar, quando vista em abstracto ou a "nosso favor" onde é de fácil aceitação, enquanto ser ético não é fácil, quando vai contra os nossos interesses imediatos.
A ética deve servir sobretudo para pautar os nossos comportamentos nos momentos difíceis. Aproveito, por isso, o exemplo anterior para mostrar as implicações de eventuais comportamentos não éticos sobre o próprio aluno e sobretudo sobre a instituição que representam.
A verdade é que as questões sobre a fronteira da ética nem sempre são pacíficas.
Para os jovens futuros profissionais, a prática empresarial é também um sinal importante para os seus futuros comportamentos profissionais, já que eles tenderão a seguir a prática ética instalada e a conformar-se com a mesma.
A propósito, aproveito para expressar a minha opinião sobre um exemplo de prática de "marketing" que, em meu entender, coloca questões éticas. Neste momento, está a passar na televisão uma campanha da TV Cabo com, entre outras, a seguinte mensagem: "Pai, só 4 canais não dá. Vou bazar, tchau". Ou seja, para aumentar as vendas da TV Cabo, é ético passar a mensagem que não haver TV Cabo em casa é um motivo válido para a mulher e para o filho deixarem a casa?
Sei que, em publicidade, é normal utilizarem-se figuras de estilos e hipervalorizações, mas neste caso, e para os meus padrões de ética, foi-se longe demais, em termos de deturpação de valores de família, com um campanha que se dirige também a jovens e crianças com menor capacidade de relativização.
Acredito que a campanha funcione, mas considero que não vale tudo!
Fonte:
Pedro Dionísio
Jornal de Negócios
Publicado 19 Dezembro 2006
Comentário:
A Ética é hoje em dia essencial para a construção de um negócio sólido, pois quem não a tem consegue enganar muita gente mas não consegue “servir” a sociedade.
Há cada vez mais sinais de que a consideração das questões éticas começa a deixar de ser vista dentro das empresas europeias como algo estranho ou mesmo perigoso. Não só se vai tornando normal o desejo de pensar em termos éticos como um crescente número da sociedade, descobre que o que se está a tornar realmente perigoso é não pensar e reflectir acerca destes temas.
No que diz respeito ao mundo académico, a maioria das escolas tem hoje vários docentes interessados em ética empresarial. E ainda que só alguns cursos tenham disciplinas obrigatórias, há já muitas cadeiras optativas na área de ética.
Ser ético no comportamento de gestor significa: dar a informação importante, avaliar e fornecer feedback, abrir espaço à contribuição criativa, institucionalizar canais de comunicação, delegar, delegar e delegar (pois além de instrumento eficaz de gestão, implica dignificação do homem, pelo poder decisório), comemorar o sucesso e recompensar.
Podemos então perguntar-nos se é correcto ligar o sucesso ou fracasso de uma organização ao seu comportamento ético? Tenho alguma convicção de que sim! Ser ético, hoje, não é mais uma opção. Para pessoas e organizações, é uma questão de sobrevivência. Hoje não se pode avaliar uma empresa com os padrões atingíveis de ontem, pois referenciais intocáveis, como marca, imagem e prestígio, decidem a preferência e garantem uma continuidade.
A ética ganha assim respeito como forte diferencial de qualidade e conceito público, mas será que já se formou a consciência ética na chefia das organizações? Algumas questões precisam de ser ainda devidamente equacionadas para um melhor entendimento sobre a eficácia da ética nos negócios e nas escolas.
No meu entender, o discurso ético e a prática das organizações fazem lembrar o ditado popular: de boas intenções está o inferno cheio.
No entanto, estamos a viver um momento importante no que diz respeito ao renascimento moral, no esboçar de uma nova consciencialização. Nesse sentido, as boas intenções são então válidas como início de um novo processo.
A consciencialização tem esse preço: provoca desconforto no que diz respeito às situações negativas actuais. É imprescindível, todavia, que existam alternativas concretas, atitudes e comportamentos que denotem mudanças significativas.
O homem não sobrevive sozinho. Sem uma equipa, sem o outro, torna-se então uma utopia social, fácil de manipular e excluído.
É sendo éticos de uma forma solidária que nos mantemos a nós e ao grupo, de uma forma geral, indestrutíveis. Não existe vida social verdadeira sem que haja fundamentos éticos.
A ética pressupõe então: Liberdade, Dignidade/Responsabilidade, Igualdade de Oportunidades, Direitos Humanos.
Ser competente obriga-nos e sermos éticos. Significa que não devemos ser individualistas, concedendo ênfase aos seus subprodutos: o egocentrismo e o corporativismo. Não devemos ser autoritários.
Ética, é assim, sinónimo de vida! Sem princípios éticos é inviável a organização social. Ética Empresarial é a alma do negócio. È o que garante o conceito púbico e a eternidade.
Mas para se ser ético temos que seguir, nós e as organizações, um conjunto de códigos de ética que visam: Melhorar a imagem do negócio e agrupar valores e criar laços de aceitação e colaboração mútua entre os empregados.
O código de ética de uma instituição, seja ela qual for, teoricamente só pode ser vantajoso para os seus vários públicos com os quais interage, uma vez que fortalece a imagem da organização.A adopção de um código de ética é uma óptima oportunidade de aumentar a integração entre os funcionários da empresa e estimular a responsabilidade entre eles. Além disso, o código de ética permite a uniformização de critérios na empresa, dando prioridade àqueles que devem tomar decisões. Serve de parâmetro para a solução dos conflitos. Protege, de um lado, o trabalhador que se apoia na cultura da empresa reflectida nas disposições do código e de outro, serve de preferência para a empresa, por ocorrência da solução de problemas de desvio de conduta de algum colaborador, accionista, fornecedor, ou outros.O código de ética costuma trazer para a empresa harmonia, ordem transparência, tranquilidade, sobre os referenciais que cria, deixando um fundamento resultante do cumprimento da sua missão e dos seus compromissos.É imprescindível que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Caso contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa pretende transmitir ao seu público. Esta é a grande desvantagem do código de ética.Há, ainda, aqueles que, considerando que a consciência ética dos integrantes de uma organização, desde os mais altos cargos executivos até ao mais simples funcionário, é um património do indivíduo, defendem a desnecessidade de se implantar códigos de ética, já que a actuação de cada um será propicia a um ambiente ético.Com efeito, a conduta ética das empresas é o reflexo da conduta dos seus profissionais. Tal conduta não se limita ao mero cumprimento da legislação, sendo o resultado da soma dos princípios morais de cada um de seus componentes. Assim como a educação, a ética vem do berço. A conduta ética, que se espera das empresas vai muito além do simples cumprimento da lei, mesmo porque, pode haver leis que sejam anti éticas ou imorais. Importa que os homens de negócios sejam bem formados, que os profissionais sejam treinados, pois o miolo da questão está na formação pessoal. Caso contrário, a implantação do código de ética será inofensiva.
Concluo então que a Ética Empresarial não é um assunto para as horas vagas, é filosofia e prática de empresa e que a educação ética é uma condição imprescindível ao processo de renovação e de continuidade de uma civilização, de uma sociedade.
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"Notícia Inválida" por ausência de conteúdo ou ligação ético-profissional.
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